Discussões teóricas da forma urbana e das relações sociais do bairro

INTRODUÇÃO

O objetivo desse estudo é comparar a relação entre forma urbana e relações de vizinhança em dois bairros localizados na cidade de São Luis no estado do Maranhão, a saber: o bairro de Coroadinho e o de Cidade Olímpica. Os dois bairros apresentam características sociais semelhantes por se constituírem, ambos, locais de moradia de população de baixa renda.

O ponto de partida do trabalho foi a formulação da hipótese de que a forma urbana, tal como constituída, interfere no modo como se estabelecem as relações sociais no interior de uma localidade. Os desdobramentos teóricos e metodológicos, focados nessa formulação, exigiram não só um aprofundamento do próprio conceito de forma urbana como exigiram, também, uma abordagem das relações de vizinhança centrada em seus aspectos sociológicos. Traçou-se, para isso, um percurso analítico com autores de diferentes campos disciplinares, como a Arquitetura e Urbanismo, a Sociologia e a Geografia.

Embasado pela discussão teórica da forma urbana e das relações sociais de vizinhança o estudo empreendeu a sua pesquisa empírica através da realização de entrevistas, com os principais agentes representantes de Associações de Moradores, e da aplicação de questionários, também junto aos moradores, para levantar e comparar os aspectos físicos que, no conjunto, compreendem a forma urbana; assim como entender os condicionantes sociais presentes nos bairros em questão, entre eles os conflitos ocasionados pela convivência dos moradores que fazem uso diferenciado do espaço urbano.

QUADRO COMPARATIVO DA FORMA URBANA DOS BAIRROS

Apesar de possuírem origens semelhantes os bairros do Coroadinho e Cidade Olímpica possuem formas urbanas diferentes. O Coroadinho, com um traçado mais sinuoso, ruas mais estreitas, lotes menores e mais adensados se contrapõe ao bairro Cidade Olímpica, com um traçado ortogonal, lotes e quadras maiores, ruas e avenidas largas.

O Coroadinho teve origem em 1977 com a ocupação ilegal de áreas localizadas às margens e sobre a nascente do rio das Bicas, um dos subafluentes de um dos principais rios da cidade, o rio Bacanga. Essa área, localizada a sudoeste da cidade, está definida, por lei federal, como área de proteção ambiental, logo proibida a sua ocupação. Apesar da proibição muitas outras áreas ao redor continuaram sendo ocupadas mesmo apresentando características morfológicas semelhantes.

O Coroadinho limita-se com os seguintes bairros: norte, Outeiro da Cruz; ao sul, com a Avenida Presidente Médice; a leste, com o bairro do Sacavém e a oeste com o bairro do Filipinho. Possui, segundo censo do IBGE 2000, 20.151,00 habitantes distribuídos em 138,1 ha, com uma densidade bruta de 145,9 hab/ha distribuídos em 4.553 domicílios, com uma densidade habitacional de 32,96 habitações/ha.

A Cidade Olímpica também apresenta uma origem através de ocupação ilegal de terras ludovicences a leste, mas nesse caso as terras eram particulares. Sua ocupação data de 1996; e a população inicial foi três vezes maior que a população inicial do Coroadinho distribuindo-se sobre uma malha ortogonal.

A Cidade Olímpica possui os seguintes limites: ao norte - Avenida 04, separando-a do Conjunto Habitacional Geniparana; ao sul – Avenida 25 de Dezembro, separando-a do Sítio Rihod; a leste – Avenida dos Agricultores, limitando-se com o Santana; a oeste – Avenida Brasil, limitando-se com a Vila Janaína. Possui, segundo censo IBGE 2000, 18117,00 habitantes distribuídos em 293,2 ha, com uma densidade bruta de 61,8 hab/ha distribuídos em 4.703 domicílios, e densidade habitacional de 16,04 habitações/ha.

ANÁLISE DA INTERAÇÃO ENTRE FORMA URBANA E RELAÇOES DE

VIZINHANÇA NO COROADINHO E NA CIDADE OLÍMPICA

O espaço público pensado em relação as suas características estritamente morfológicas como as ruas, praças, parques, quadras e campos de esporte serve de palco para proporcionar uma suposta maior interação entre os indivíduos de um mesmo bairro. Por outro lado, pelo fato da sua existência estar associada às condições de uso eles acabam, também, por ajudar na definição do perfil da vizinhança existente num determinado bairro.

Dentre os fatores determinantes para se traçar o perfil de uma vizinhança destacam-se os econômicos, culturais e espaciais, por isso foram escolhidas comunidades com perfil econômico e cultural próximos, o que se pode comprovar através da análise socioeconômica apresentada pela pesquisa.

Em relação aos aspectos pertinentes ao estudo da forma urbana dos bairros em questão buscou-se, através da caracterização dos elementos morfológicos de ambas as áreas, a comparação entre elas. Chegamos, assim, aos seguintes resultados: primeiramente a diferença na escala, o Coroadinho possui um território menor do que o da Cidade Olímpica; além disso, as ruas da Cidade Olímpica são muito extensas e bem mais largas do que a maioria das ruas do Coroadinho, que apresentam um traçado sinuoso; a densidade construtiva nas quadras do Coroadinho é bem maior do que o da Cidade Olímpica, sendo que as residências ocupam, na maioria das vezes, todo o lote, sem recuos e sem quintais, diferentemente do modo de ocupação das casas da Cidade Olímpica.

Ambos os bairros não possuem áreas de lazer como praças, parques, quadras, dentre outros. Os moradores não têm muitas alternativas, ou ficam em casa, ou saem do bairro para se divertir em outras localidades na cidade. Alguns identificaram a existência de bares e igrejas como locais de diversão, mas esses lugares não são acessíveis a todos, ficando restritos apenas àqueles que são frequentadores habituais.

Preocupando-se, então, com o fator espacial da forma urbana, voltemos a destacar a influência que tem a quantidade e qualidade dos espaços onde se realizam as relações sociais. Como já citamos anteriormente os espaços públicos próximos às residências de um determinado bairro podem influenciar no nível e na qualidade de interação entre os indivíduos e de sua vizinhança.

De acordo com Gambim