FORMAS URBANAS
Por: João Pedro Campbell • 6/11/2015 • Trabalho acadêmico • 1.967 Palavras (8 Páginas) • 403 Visualizações
FORMAS URBANAS: assume-se como esforço de aprendizagem, de um olhar sobre a evolução da cidade e sobre os conceitos e paradigmas que foram a essa evolução. O seu conteúdo corresponde a uma simples e breve HISTORIA DO URBANISMO. Cada forma urbana considerada é objeto de um percurso cronológico, desde o seu aparecimento até à sua presença na cidade atual.
FORMA ORGÂNICA: a forma que aqui se denomina de orgânica ocorreu entre o fim do Império Romano e o início do Renascimento, englobando o período de expansão islâmica e toda a Idade Média.
Caracteriza-se pelos seus traçados irregulares e por um processo lento de crescimento. Englobam-se aqui duas formas de cidades completamente distintas, a da cidade islâmica e a cidade medieval. A primeira poucos vestígios deixou nas atuais cidades portuguesas. A segunda corresponde às partes mais antigas que ainda substituem e constitui referência incontornável da nossa vivência e da atual problemática urbana.
CIDADE ISLÂMICA: a expansão do Islão, iniciada no segundo quartel do século VII e estendendo-se para além do século X, deixou marcas em todo o Mediterrâneo, sendo de realçar a grande semelhança entre todas as cidades desta civilização, desde o Atlântico ao Golfo Pérsico.
A cidade islâmica é uma cidade íntima, virada para o interior de cada edifício, uma cidade sem fachadas, em que as ruas constituem labirintos ladeados por muros, atrás dos quais se adivinha uma vida reclusa.
Pode-se considerar que a cidade islâmica representa uma enorme regressão relativamente às do mundo greco-romano, uma vez que não se vislumbra nela regularidade ou organização e por nela faltarem a agora, os teatros, o espaço público. Mas pode-se, numa outra visão, valorizar a intimidade nela conseguida.
CIDADE MEDIEVAL: com a queda do Império Romano a população dissemina-se por toda a área rural, as cidades decrescem de população e muitas desaparecem por completo. A idade média corresponde, no seu início a uma sociedade agrária rudimentar, que será a base do seu desenvolvimento posterior.
O fato que, verdadeiramente, dá lugar ao nascimento das cidades medievais e que, de certo modo, é o fundamento da sociedade em geral, é o comércio e a indústria, que começam a despontar passado o ano 1000, cade vez com mais força.
As áreas de traçado medieval, caracterizam-se pelo seu contínuo de ruas e praças de traçado irregular, mas não caótico. A adaptação à topografia e as ruas que ligam as estruturas centrais às portas da cidade. Apresentam, quase sempre, alta densidade e problemas de salubridade decorrentes de insuficiente iluminação e ventilação. A estreiteza das suas ruas revela-se incompatível com uma presença significava do automóvel. A localização da cidade medieval é fortemente determinada pelas necessidades de defesa, procurando colinas, imediações de rios, escarpas abruptas, suma, locais dificilmente expugnáveis.
As cidades medievais são hoje bastante apreciadas, fornecem-nos importante material de reflexão, mas não constituem propriamente um modelo que se procure repetir.
GRANDES DEMOLIÇÕES: os séculos XV e XVI correspondem na Europa, no que diz respeito ao urbanismo, a um período de intensa produção intelectual, mas de escassas realizações construtivas. Vão ocorrendo algumas alterações, mas as estruturas herdadas da época medieval mantêm-se inalteradas.
Nos séculos XIX e XX que ocorreram demolições sistemáticas de grandes áreas das cidades existentes. Tal acontece num contexto em que se articulam princípios da racionalidade, higiene e circulação, com a realidade do crescimento caótico associado à revolução industrial e ainda com a existência de um poder autoritário, desejoso de controlar as crescentes convulsões sociais.
A revolução industrial tinha correspondido, numa primeira fase, à grande concentração operária na cidade existente e na sua envolvente mais próxima, originando grandes problemas de salubridade, higiene e acessibilidade.
Esta atitude de considerar necessária a demolição das áreas antigas das cidades, porque insalubres, de difíceis acessos, sem condição de adequabilidade aos progressos da técnica e às exigências da vida atual, prolonga-se pelo século XX e está presente em vária formas de modernismo e nas correspondentes utopias de cidade.
VALORIZAÇÃO DAS FORMAS IRREGULARES: a procura de harmonia e de beleza, pelo menos no que à cidade diz respeito, esteve ao longo do tempo associada à ordem e à regularidade. A cidade orgânica, dita espontânea, não planeada, é de alguma forma o contrário dessa regularidade, mas nela descobrimos hoje beleza e harmonia. Não será por acaso que tal descoberta ocorre precisamente após demolições maciças e transformações profundas na cidade existente, que terá provocado reação, nostalgia, valorização do passado.
Esta atitude teve em Camilo Sitte, arquiteto e professor em Viena de Áustria, um precursor. Em obra de 1889, desenvolveu uma teoria anti-haussmanniana, recorrendo ao conhecimento das cidades medievais e renascentistas, valorizando o aspecto estético que o progresso técnico no domínio das infraestruturas tinha subalternizado, chamando a atenção para a graça das pequenas praças, dos traçados tortuosos, da arquitetura de origem popular e composição informal.
Esta valorização do irregular, presente nos traçados medievais, veio articular-se com o desenvolvimento do paisagismo, confluindo no desenho urbano da cidade jardim. Hoje vive-se uma fase de consenso no que respeita ao reconhecimento da beleza e harmonia das cidades orgânicas ou até, mais genericamente, do tecido urbano pré-industrial.
A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE PATRIMÔNIO: a partir do século XIX até aos nossos dias, a sociedade e o território passam por um processo de transformação muito rápido e muito profundo: revolução industrial, caminho-de-ferro e depois o automóvel, evolução das técnicas e materiais de construção, evolução tecnológica em geral, deslocação de massas humanas do campo para as cidades, gerando enormes concentrações que agora se dispersam em periferias urbanas. Todo este movimento gera, inevitavelmente, destruição de estruturas preexistentes: no campo vão-se abandonando agricultura e edifícios, e a cidade é dominada pelo processo de valorização fundiária, com o aumento do volume dos edifícios.
A preocupação com o patrimônio centrava-se, portanto, nos monumentos e fundamentalmente assim continuou até meados do século XX, até porque os conceitos modernos, dominantes, questionavam fortemente o passado e apontavam para a cidade verde, higiénica,
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