Durkheim, Emil "O que é um fato público?"

Durkheim, Émile “O que é um fato social?”

In. As Regras Do Método Sociológico

(Tradução: Carlos Alberto Ribeiro de Moura)

São Paulo: Abril Cultural, 1978

(pp. 87 à 93)

Fichamento

Os fatos sociais são distintos em relação às consciências individuais, eles independem de manifestações dos indivíduos como únicos, mas coagem sobre os mesmos por aplicação de práticas constituídas e correntes sociais, estabelecendo que em todas as sociedades existam determinados fenômenos que são diferenciados e são analisados somente pela sociologia, pois se distinguem de outros fenômenos estudados por outas ciências.

Quando realizamos nossas obrigações de cidadãos, quando exercemos nossas práticas religiosas, quando utilizamos o sistema de sinais para nos comunicarmos ou quando utilizamos o sistema monetário para comprar ou pagar dívidas, realizamos atividades que não foram idealizadas por nós, que já existiam antes mesmo de nós existirmos, que mesmo contra nossos pensamentos ou ideais continuam estabelecidos à realidade da vida normal. Estas atividades cotidianas nos foram definidas por educação, por aprendizado, desde nosso nascimento, e nos dão a certeza de que temos modos de agir, de pensar e de sentir, e que estes modos estão acima de nossas consciências individuais.

A força desta coação nós podemos deixar de sentir ou senti-la muito pouco quando a aceitamos de boa vontade, sem desacatá-la. No entanto se tentarmos violar as regras, se cometermos atos que as contrariem ou se não nos submetermos as convenções do mundo sofreremos as punições estabelecidas e assim, a força de coação passar a ser bem mais sentida e bem mais agressiva. Um exemplo disto que pode nos dar maior visão e maior entendimento está no setor industrial, onde por decisão própria poderemos trabalhar com processos e métodos do século passado, todavia ficaremos sem competitividade e estaremos fadados à ruína. Outro exemplo pode ser visto no simples fato de convivermos em um país sem querer falar a língua nacional deste e nem usar sua moeda e sistema monetário, neste caso, as dificuldades serão enormes e a possibilidade de sobrevivência nesta sociedade, desta forma, torna-se quase impossível.

A coação social não exclui necessariamente a personalidade individual, também não podemos supor que só há fatos sociais onde houver organização definida e estabelecida, pois existem também as correntes sociais coletivas que através de entusiasmo e indignação tendem a influenciar e levar todos aqueles que participam delas. As correntes sociais não tem origem em uma consciência individual e particular e no momento em que o indivíduo se afasta do grupo, tudo aquilo pode passar a não ter mais sentido e não ter o mesmo significado.

Quando criança somos educados, orientados e coagidos a seguir regras que com o tempo acabam se incorporando à nossas vidas, esta educação ou coação nada mais é que a pressão do meio social em que vivemos, que tenta através de seus representantes, pais ou professores, moldar-nos à sua imagem.

Um pensamento ou movimento comum a todas as consciências particulares, repetido por todos os indivíduos,

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