"Levando A Vida Por Um Fio": Precariedade E Saúde Dos Coletores De Lixo Domiciliar Em Parintins/Am
Exames: "Levando A Vida Por Um Fio": Precariedade E Saúde Dos Coletores De Lixo Domiciliar Em Parintins/Am. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: acostaf • 9/3/2015 • 2.291 Palavras (10 Páginas) • 905 Visualizações
“Levando a vida por um fio”: precariedade e saúde dos coletores de lixo domiciliar em Parintins/Am
Adelson da Costa Fernando1
RESUMO
O processo de precarização do trabalho é um fenômeno que ocorre no mundo todo. Essa precarização pode ser compreendida pela perca dos direitos trabalhistas, condições inadequadas de trabalhos, salários baixos, desvalorização da mão de outras e outros. As consequências dessa precarização reflete no modo de vida dos trabalhadores, os quais tem sua saúde física e mental degradada por esse processo. Com os coletores de lixo doméstico não é diferente, já que esses trabalhadores também estão sujeitos a essas transformações, como também vivenciam as condições de precariedade em seu ambiente de trabalho. Esta pesquisa qualitativa se propõe a articular trabalho e saúde do trabalhador situando este debate no âmbito da reestruturação produtiva e mudanças no mundo do trabalho.
INTRODUÇÃO
O lixo é definido, em geral, como o resíduo sólido descartado pela população. Os profissionais encarregados de sua coleta e do seu destino final são chamados genericamente de lixeiros ou garis. Os coletores de lixo vêem-se obrigados, diariamente, a ter que lidar com uma realidade tão universalmente abjeta, sem receberem salários condignos, socialmente eqüitativos, até mesmo quando comparados aos de outras categorias pertencentes ao setor terciário, no qual se inserem. Não existem, portanto, condições em que qualquer negociação social de prestígio profissional pudesse superar ambas as fontes de mal-estar psíquico em relação à vida e identidade profissional dos lixeiros.
1. A CIDADE E PRODUÇÃO DO LIXO
A produção de lixo domiciliar constitui-se num problema na medida em que é um fenômeno em acentuado crescimento no mundo, por conta da criação e ampliação das zonas urbanas. Este lixo é responsável por inúmeros prejuízos para o meio ambiente e para a população em geral. E como é de fundamental importância a realização da limpeza urbana, os coletores de lixo são agentes indispensáveis nessa dinâmica social. Dito de outro modo, a limpeza urbana está na razão direta da preservação ambiental e saúde da comunidade (Ferreira et al., 2001).
1 Sociólogo, Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia, realizando seu doutoramento na PUC/GO e Professor Assistente I do Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia/UFAM.
O trabalho dos coletores de lixo está entre as ocupações de maior risco para a saúde dos trabalhadores; eles estão constantemente expostos a esforços físicos durante a realização de suas atividades laborais, os quais envolvem caminhadas, corridas, subidas e descidas de ladeiras e levantamento e transporte de pesos variados ao longo do dia (CARDOSO, 2013, p. 604). Trata-se de um trabalho fisicamente pesado e bastante complexo, em que o gari precisa encontrar estratégias para se adaptar continuamente à variabilidade das situações e regular sua carga de trabalho, visto que ele trabalha em média 5 horas por dia, de segunda a sábado, percorrendo rotas que variam de 10 a 14 quilômetros de extensão (VASCONCELOS, 2008, p. 408). A execução desse trabalho está significativamente associada a diversos riscos biológicos, químicos, físicos e psicossociais (DOREVITCH et al., 2001 e PORTA et al., 2009). A maneira como é feita a coleta de lixo varia de acordo com características tecnológicas da região e demográficas, culturais e educacionais da população local (Ferreira et al., 2001).
Uma coisa é certa: estes trabalhadores estão constantemente expostos a riscos físicos, químicos, biológicos e psicossociais (Porta et al., 2009) e, possivelmente, tais fatores podem desencadear uma série de agravos à saúde, como traumas mecânicos, envenenamentos químicos, doenças alérgicas do aparelho respiratório, bem como doenças de pele, pulmonares, respiratórias, músculo-esqueléticas, do aparelho digestivo e doenças infecciosas.
2. TRABALHO, PRECARIEDADE E SAÚDE DO TRABALHADOR
A precarização do trabalho é entendida como uma ameaça aos trabalhadores, e aos que se encontram desempregados, pois estão dispostos a aceitar qualquer categoria de trabalho precário. Segundo Galeazzi (2006), “a definição de trabalho precário contempla pelo menos duas dimensões: a ausência ou redução de direitos e garantias do trabalho e a qualidade no exercício da atividade”. (p. 203). Nesse sentido, o trabalhador estar alienado ao trabalho precário e encontra-se distante de conhecer as políticas públicas e sociais voltados para si, ou seja, esquecendo que é um sujeito de direito.
Bauman (2005) retrata que na contemporaneidade os indivíduos e trabalhadores são vistos como seres supérfluos, impuros que são destinados à lixeira humana, ou seja, os homens passam a ser considerados rejeitáveis na atual conjuntura; são desprotegidos da legislação, não possuem vínculos empregatícios formais, sofrendo precarização de seu
trabalho, tornando-os vulneráveis e descartáveis para o no mercado de trabalho e para o sistema capitalista.
A conjuntura do trabalho está relacionada à reestruturação produtiva, na qual se deu a chamada flexibilidade, que vem marcando o atual cenário das relações de trabalho, o modo de organizar e de gerir o espaço produtivo, bem como as funções, os salários e a jornada de trabalho. Com a flexibilidade as relações de trabalho, as empresas e instituições modificaram os critérios de gestão, as contratações, os salários, as jornadas e os ditames do processo produtivo.
Diante das relações de trabalho, a imprevisibilidade, a insegurança, a incerteza e a falta de controle sobre o trabalho, a falta de conhecimento sobre o salário, o tempo e o vínculo de emprego marcaram as relações na esfera produtiva na contemporaneidade e são indicadores da precariedade no trabalho. Para Kalleberg (2009), estas são indicadores da precariedade que marca as relações de trabalho hoje. Essas precariedades também se revelam no mundo do trabalho a partir dos acordos de trabalho não normatizados, informais, temporários, terceirizados e pelas condições de saúde.
Constata-se também que nos últimos anos, importantes perdas para a classe trabalhadora, os direitos sociais conquistados estão sendo substituídos/reduzidos, o aumento da informalidade, o desemprego força as enfrentarem filas de espera (o chamado exército de reservas) para tentar uma vaga no mercado do emprego e o comprometimento da saúde física e psíquica dos trabalhadores.
Conforme Navarro e Padilha (2007), a flexibilização
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