O Conceito de Sociedade é Teoricamente Obsoleto?”

Em seu texto, Strathern, irá trazer à tona o conceito de sociedade utilizado muitas vezes como uma entidade completamente isolada, sem relação com outros fenômenos, o quê para a autora trouxe efeitos negativos. Para a autora, a sociedade é estuda de diversas formas, como manifestação individual de um grupo que acabava por caracterizar uma sociedade. Tem-se uma sociedade relacionada a outra a partir de uma listagem comparativa, que acabava por personificar a sociedade assim como ocorria com seus indivíduos. Se, por um lado, o conceito de sociedade foi de grande valia para pensarmos a organização da vida social, por outro, o fato de termos tratado tal conceito como um objeto abstrato do pensamento, como se fosse uma unidade estanque, dissolveu as diversas formas de relações que o envolve.

Enquanto o pêndulo estava em movimento, o conceito de sociedade era um local útil de repouso. Mas o pêndulo praticamente parou de oscilar. Tendo se movimentado entre as morfologias sociais e as transações individuais, as representações coletivas e as ideologias de grupos de interesse, a antropologia do final do século XX acabou por atolar-se no pântano do construcionismo social. Essa é uma espécie de versão estremecida e combalida da dicotomia sociedade-indivíduo, na medida em que esse modelo se inspira nas ideias de forças externas que incidem sobre o indivíduo, e do indivíduo que afirma sua experiência pessoal em oposição à sociedade. (STRATHERN, 2014, p. 231)

Em posições divididas, vemos a sociedade contrárias às noções de natureza, indivíduo, economia etc. As dicotomias produzidas inibem as relações entre os conceitos e modelam nossas formas de pensamento e nossas atitudes. Toda essa conceituação levou a criação de uma nova dicotomia: sociedade e indivíduos. Nesse contexto a sociedade é observada por um momento como secundária, dado que esta é resultado da interação entre os indivíduos e, posteriormente, suas atitudes serão reguladas devido a vida em sociedade. Os resultados gerados por essa forma de pensamento degradam os modos de organização social e acabam por esconder formações sociais e relações de poder.

A autora enfatiza a necessidade de desestabilização dos conceitos para que eles sejam vistos a partir de suas relações de poder. O grande problema da abstração do conceito como um objeto abstrato e cristalizado é o fato de ser absorvido em oposição e não em relação a algo, suprimindo as diversas formas de relação que constituem a sociedade. Strathern aponta

quando Leach conceitua que não há oposição entre sociedade e indivíduo, pois as práticas sociais são uma forma de comportamento humano. Portanto, a abordagem entre os conceitos deveria ser construída sob um olhar dialético, dado que ambas se contemplam.

Por fim, Strathern aponta a necessidade da revisão de conceitos que por vezes escondem relações sociais e de poder, e com isso revelando conceitos naturalizados que devem ser repensados, questionados e, muitas vezes, recriados.

O que proponho a vocês é que não precisamos do conceito de sociedade, exatamente porque não precisamos contrastá-lo com o conceito de indivíduo. Para "nós", antropólogos, a promoção dessa dicotomia certamente não tem cabimento. (STRATHERN, 2014, p. 238)