O Socialismo Utópico
Artigo: O Socialismo Utópico. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: 123456789vinga • 26/9/2014 • Artigo • 1.229 Palavras (5 Páginas) • 160 Visualizações
Capítulo I - O Socialismo Utópico
O socialismo moderno é, em primeiro lugar, por seu conteúdo, fruto do reflexo na inteligência, de um
lado dos antagonismos de classe que imperam na moderna sociedade entre possuidores e despossuidos,
capitalistas e operários assalariados, e, de outro lado, da anarquia que reina na produção. Por sua forma
teórica, porém, o socialismo começa apresentando-se como uma continuação, mais desenvolvida e mais
conseqüente, dos princípios proclamados pelos grandes pensadores franceses do século XVIII. Como toda
nova teoria, o socialismo, embora tivesse suas raízes nos fatos materiais econômicos, teve de ligar-se, ao
nascer, às Idéias existentes.
Os grandes homens que, na França, iluminaram os cérebros para a revolução que se havia de desencadear,
adotaram uma atitude resolutamente revolucionária. Não reconheciam autoridade exterior de nenhuma
espécie. A religião, a concepção da natureza, a sociedade, a ordem estatal: tudo eles submetiam à crítica
mais impiedosa; tudo quanto existia devia justificar os títulos de sua existência ante o foro da razão, ou
renunciar a continuar existindo. A tudo se aplicava como rasoura única a razão pensante. Era a época em
que, segundo Hegel, "o mundo girava sobre a cabeça" (1), primeiro no sentido de que a cabeça humana e
os princípios estabelecidos por sua especulação reclamavam o direito de ser acatados como base de todos
os atos humanos e toda relação social, e logo também, no sentido mais amplo de que a realidade que não
se ajustava a essas conclusões se via subvertida, de fato, desde os alicerces até à cumieira. Todas as
formas anteriores de sociedade e de Estado, todas as leis tradicionais, foram atiradas no monturo como
irracionais; até então o mundo se deixara governar por puros preconceitos; todo o passado não merecia
senão comiseração e desprezo, Só agora despontava a aurora, o reino da razão; daqui por diante a
superstição, a injustiça, o privilégio e a opressão seriam substituídos pela verdade eterna, pela eterna
justiça, pela igualdade baseada na natureza e pelos direitos Inalienáveis do homem.
Já sabemos, hoje, que esse império da razão não era mais que o império idealizado pela burguesia; que a
justiça eterna tomou corpo na justiça burguesa; que a igualdade se reduziu à igualdade burguesa em face
da lei; que como um dos direitos mais essenciais do homem foi proclamada a propriedade burguesa; e que
o Estado da razão, o "contrato social" de Rousseau, pisou e somente podia pisar o terreno da realidade,
convertido na república democrática burguesa. Os grandes pensadores do século XVIII, como todos os
seus Predecessores, não podiam romper as fronteiras que sua própria época lhes impunha.
Mas, ao lado do antagonismo entre a nobreza feudal e a burguesia, que se erigia em representante de todo
o resto da sociedade, mantinha-se de pé o antagonismo geral entre exploradores e explorados, entre ricos
gozadores e pobres que trabalhavam. E esse fato exatamente é que permitia aos representantes da
burguesia arrogar-se a representação, não de uma classe determinada, mas de toda a humanidade
sofredora. Mais ainda: desde o momento mesmo em que nasceu, a burguesia conduzia em suas entranhas
sua própria antítese, pois os capitalistas não podem existir sem os operários assalariados, e na mesma
proporção em que os mestres de ofícios das corporações medievais se convertiam em burgueses
modernos, os oficiais e os jornaleiros não agremiados transformavam-se em proletários. E se, em termos
gerais, a burguesia podia arrogar-se o direito de representar, em suas lutas com a nobreza, além dos seus
Interesses, os das diferentes classes trabalhadoras da época, ao lado de todo grande movimento burguês
que se desatava, eclodiam movimentos independentes daquela classe que era o precedente mais ou menos
desenvolvido do proletariado moderno. Tal foi na época da Reforma e das guerras camponesas na
Alemanha. a tendência dos anabatistas e de Thomas Münzer; na grande Revolução Inglesa, os "levellers"
(2), e na Revolução Francesa, Babeuf. Essas sublevações revolucionárias de uma classe incipiente são
acompanhadas, por sua vez, pelas correspondentes manifestações teóricas: nos séculos XVI e XVII (3)
aparecem as descrições utópicas de um regime ideal da sociedade; no século XVIII, teorias já abertamente
comunistas, como as de Morelly e Mably. A reivindicação da igualdade não se limitava aos direitos
políticos, mas se estendia às condições sociais de vida de cada indivíduo; já não se tratava de abolir os
privilégios de classe, mas de destruir as próprias diferenças de classe. Um comunismo ascético, ao modo
espartano, que renunciava a todos os gozos da vida: tal foi a primeira forma de manifestação da nova
teoria. Mais tarde vieram os três grandes utopistas: Saint-Simon, em que a tendência continua ainda a se
afirmar, até certo ponto, junto à tendência proletária; Fourier e Owen, este último, num pais onde a
produção capitalista
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