O livro O que o Brasil, o Brasil?

Onde quer que haja um um brasileiro adulto há com ele o Brasil.

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O livro O que faz o brasil, Brasil? foi editado a mais de vinte anos, na década de 80, no entanto sua importância dentro da historiografia brasileira é notória. A natureza das questões levantadas sobre a formação da identidade do povo brasileiro parece compor uma espécie de síntese do pensamento de Roberto da Matta, o que justifica uma análise mais minuciosa desta importante obra, voltada não só para antropólogos, historiadores, e cientistas sociais, mas para o público em geral.

O autor – historiador, antropólogo e um dos mais importantes teóricos brasileiros – faz seu recorte temático baseado em uma problematização na qual elege como ponto central de sua análise o fenômeno da identidade nacional, criada por uma complexa conjuntura de fatores, trabalhada sob a perspectiva de uma temporalidade de longa duração.

É comum na sociedade brasileira pensar a identidade do Brasil, ou do “ser brasileiro”, como algo estabelecido naturalmente, ou melhor, sem muita reflexão. Sabemos o que é ser brasileiro, pois somos brasileiros e incorporamos tal identificação, mas não conseguimos refletir com profundidade acerca de tal formação discursiva. É com este objetivo que Roberto da Matta desenvolve seu ensaio. Segundo ele "onde quer que haja um brasileiro adulto, existe com ele o Brasil e, no entanto – tal como acontece com as divindades - , será preciso produzir e provocar a sua manifestação para que se possa sentir sua concretude e seu poder" (p. 12).

Lançando mão da Antropologia Social, da Matta procura “examinar alguns aspectos da sociedade brasileira que o povo encara e certamente ama como uma divindade” (p. 13). A construção de uma identidade nacional é feita por afirmativas, identificações, ou negações de certas questões comuns em uma determinada sociedade. Comuns no sentido de estarem presentes cotidianamente na vida das pessoas que compõem esta sociedade. Nesse sentido, o Brasil está em todo lugar, e pode ser encontrado nos aspectos, atitudes, instituições e modos de comportamento que desenvolvemos cotidianamente e que formam o aparato cultural que compõe a identidade do brasileiro.

Estabelecido este pré-suposto, da Matta escolhe os aspectos deste aparato cultural que forma a identidade brasileira. Em primeiro lugar, esta identidade estaria nos lugares que formam o “esqueleto de nossa rotina diária”: a casa e a rua. Pois estas – apesar de suas inumeráveis diferenças e de nossa notória preferência pelo ambiente da casa, com sua tranqüilidade, aconchego e sua rotina fácil de ser controlada, em detrimento da rua, o ambiente do trabalho mas, ao mesmo tempo, do caos, da sujeira e do descontrole – “formam os espaços básicos através dos quais circulamos na nossa sociabilidade” (p. 33). São espaços complementares, mas que não podem ser confundidos. Dentro desses espaços desenvolvem-se as diversas facetas de nossa sociedade, é neles que nossas festas, comemorações e ritos – sejam de “inversão”, como o carnaval, que inverte nossa lógica social, colocando o mundo de “cabeça para baixo”, ou de “reforço”, como nossas paradas militares, festas religiosas, ritos de passagem e cerimoniais, que celebram