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POSITIVISMO

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Por:   •  12/5/2014  •  Projeto de pesquisa  •  9.544 Palavras (39 Páginas)  •  997 Visualizações

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CRISTINA COSTA. - RESUMO DO CAP. 4 SOBRE POSITIVISMO (...)

CRISTINA COSTA. - RESUMO DO CAP. 4 - POSITIVISMO (...)

1- Introdução: cientificismo e organicismo

A primeira corrente teórica sistematizada de pensamento sociológico foi o positivismo, a primeira a definir precisamente o objeto, a estabelecer conceitos e uma metodologia de investigação. Definir a especificidade do estudo científico da sociedade conseguiu distinguir-se de outras ciências estabelecendo um espaço próprio à ciência da sociedade.

O positivismo derivou do "cientificismo", isto é, da crença no poder exclusivo e absoluto da razão humana em conhecer a realidade e traduzi-la sob a forma de leis naturais. Seu conhecimento pretendia substituir as explicações teológicas, filosóficas e de senso comum por meio das quais o homem explicava a realidade.

Essa tentativa de derivar as ciências sociais das ciências físicas é patente nas obras dos primeiros estudiosos da realidade social. O próprio Comte deu inicialmente o nome de “física social” às suas análise da sociedade, antes de criar o termo sociologia. Seu conhecimento pretendia substituir as explicações teológicas, filosóficas e de senso comum. Segundo o positivismo os princípios reguladores do mundo social diziam respeito a acontecimentos exteriores aos homens, questões humanas, e a rápida evolução dos conhecimentos das ciências naturais - física, química, biologia - e o visível sucesso de suas descobertas no incremento da produção material e no controle das forças da natureza atraíram os primeiros cientistas sociais para o seu método de investigação.

Essa filosofia social positivista se inspira no método de investigação das ciências da natureza, assim como procurava identificar na vida social as mesmas relações e princípios com os quais os cientistas explicavam a vida natural. A própria sociedade foi concebida como um organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionavam harmonicamente. Por isso o positivismo foi chamado também de organicismo.

Auguste Comte (1798-1857). Nasceu em Montpellier, França, de uma família católica e monarquista. Tornou-se um discípulo de Saint-Simon, de quem sofreu enorme influência. Devotou seus estudos à filosofia positivista, considerada por ele uma religião, da qual era o pregador. Segundo sua filosofia política, existiam na história três estados: um teológico, outro metafísico e finalmente o positivismo. Este ultimo representava o coroamento do progresso da humanidade, sobre as ciências, distinguia-se as abstratas das concretas, sendo que a ciência mais complexa e profunda seria a sociologia, ciência que batizou em sua obra Curso de filosofia positivista, em seis volumes, publicada entre 1830 e 1842.

2 - O darwinismo social

A expansão da Revolução Industrial pela Europa trouxe consigo a destruição da velha ordem feudal e a consolidação da nova sociedade – a capitalista - , estruturada sobre a indústria. Surgia a época dos monopólios e dos oligopólios, que, associados ao capital dos grandes bancos, dá origem ao capital financeiro. Esta reestruturação do capitalismo estava associada às sucessivas crises de superprodução na Europa, que traziam consigo a morte de milhares de pequenas indústrias e negócios. Estas, por sua vez, tiveram de se unir ao capital bancário para sustentar e financiar sua própria expansão. Crescer para fora dos limites da Europa. Desencadeava-se, assim, a corrida para a conquista de impérios além-mar; os alvos eram a África e a Ásia. Nesses continentes podia-se obter matéria-prima bruta a baixíssimo custo, bem como mão-de-obra barata; eram também pequenos mercados consumidores. Assim a conquista, a dominação e a transformação da África e da Ásia pela Europa precisavam apresentar uma justificativa que ultrapassasse os interesses econômicos imediatos. Assim, conquista e dominação foram transformadas em “missão civilizadora”. A “civilização” era oferecida, mesmo contra a vontade dos dominados, como forma de “elevar” essas nações do seu estado primitivo a um nível mais desenvolvido, no sentido de transformar suas formas tradicionais de vida e neles introduzir os valores do colonizador.

Tais idéias, transpostas para a análise da sociedade, resultaram no darwinismo social, isto é, o princípio de que as sociedades se modificam e se desenvolvem num mesmo sentido e que tais transformações representariam sempre a passagem de um estágio inferior para outro superior, em que o organismo social se mostraria mais evoluído.

Os principais cientistas sociais positivistas, inspirados na perspectiva de Darwin entendiam que as sociedades tradicionais encontradas na África, na Ásia, na América e na Oceania não eram senão “fósseis vivos”, “primitivos”, do passado da humanidade.

É importante situar o desenvolvimento do pensamento positivista no contexto histórico do século XIX. A expansão da Revolução Industrial pela Europa, obtida pelas revoluções burguesas que atingiram todos os países europeus até 1870. A Europa deparou com civilizações organizadas sob princípios tais como o politeísmo, a poligamia, formas de poder tradicionais, castas sociais sem qualquer tipo de mobilidade, economia agrária de subsistência, em sua grande maioria, ou voltada para um pequeno comércio local e artesanato Doméstico. Assim, o europeu teve primeiro de organizar, sob novos moldes, as nações que conquistava, estruturando-as segundo os princípios que regiam o capitalismo. De outra forma seria impossível racionalizar a exploração da matéria-prima e da mão-de-obra, de modo a permitir o consumo de produtos industrializados europeus e a aplicação rentável dos capitais excedentes na Europa, nesses territórios. A justificativa de que a Europa tinha, diante dessas sociedades, a obrigação moral de civilizá-las, de retirá-las do atraso em que viviam. Nesse sentido, entendia-se que o ápice da humanidade - o mais alto grau de civilização a que o homem poderia chegar - seria a sociedade industrial européia do século XIX. Se o homem constitui sociologicamente uma espécie, o mesmo não se pode dizer das diferentes culturas que ele desenvolveu. Além disso, o caráter cultural da vida humana imprime, no desenvolvimento das suas formas de vida, princípios diferentes daqueles existentes na natureza. Os princípios da seleção natural são aplicáveis às espécies cujo comportamento é expressão das leis imperativas da natureza.

Hoje, sente-se que a complexidade da cultura humana tem concorrido para limitar a ação da lei de seleção natural. A adaptabilidade do homem e a sua dependência cada vez menor em relação ao meio têm transformado o ser humano numa espécie à qual a seleção natural se aplica de maneira especial e relativa.

No darwinismo social, isto é, o princípio de que as sociedades se modificam e se desenvolvem num mesmo sentido e que tais transformações representariam sempre a passagem de um estágio inferior para outro superior, em que o organismo social se mostraria mais evoluído, mais adaptado e mais complexo. Os frutos do progresso não eram igualmente distribuídos, nem todos participavam igualmente das conquistas da civilização. Como o positivismo explicava essa distorção?

3 - Uma visão crítica do darwinismo social – ontem e hoje

A adaptabilidade do homem têm transformado o ser humano numa espécie à qual a seleção natural se aplica apenas de maneira especial e relativa. Essa transposição serviu entretanto como justificativa de uma ação política e econômica que nem sequer avaliava efetivamente aquilo que representaria o “mais forte” ou mais evoluído. A regra darwinista da competição e da sobrevivência do mais forte é aplicada as leis de mercado, principalmente pela doutrina do liberalismo econômico.

Se o homem constitui sociologicamente uma espécie, o mesmo não se pode dizer das diferentes culturas que ele desenvolveu. Além disso, como vimos no início deste livro, o caráter cultural da vida humana imprime, no desenvolvimento das suas formas de vida, princípios diferentes daqueles existentes na natureza. A adaptabilidade do homem e a sua dependência cada vez menor em relação ao meio têm transformado o ser humano numa espécie à qual a seleção natural de maneira especial e relativa. A regra darwinista da competição e da sobrevivência do mais forte é aplicada às leis de mercado, principalmente pela doutrina do liberalismo econômico.

Pressupõe-se que competitividade seja o princípio natural - e, portanto universal e exterior ao homem - que assegura a sobrevivência do melhor, do mais forte e do mais adaptado.

4 - Duas formas de avaliar as mudanças sociais

O darwinismo social, além de justificar o colonialismo da Europa mo resto do mundo, refletia o grande otimismo com que o progresso material da industrialização era recebido pelo europeu.

O desenvolvimento industrial gerava a todo o momento novos conflitos sociais. Os primeiros pensadores sociais positivistas responderam com as idéias de ordem e progresso.

Haveria, então, dois tipos característicos de movimento na sociedade. Um levaria à evolução transformando as sociedades, segundo a lei universal, da mais simples a mais complexa, da menos avançada a mais evoluída.

Os movimentos reivindicatórios, os conflitos, as revoltas deveriam ser contidos sempre que pusessem em risco a ordem estabelecida ou o funcionamento da sociedade, ou ainda quando inibissem o progresso.

Privilegiar o estático sobre o dinâmico, o progresso deveria aperfeiçoar os elementos da ordem e não destruí-los.

Assim se justificava a intervenção na sociedade sempre que fosse necessário assegurar a ordem ou promover o progresso.

5 - Organicismo

Não podemos deixar de nos referir, num capítulo que trata do positivismo e do darwinismo social, a outra escola que se desenvolveu no rastro da conquista das ciências biológicas e naturais e da teoria evolucionista de Charles Darwin. Foi o organicismo, que teve como seguidores cientistas que procuraram aplicar seus princípios na explicação da vida social.

Um deles foi o alemão Albert Schäffle, que se dedicou ao estudo dos “tecidos sociais”. Ninguém, entretanto, se destacou como Herbert Spencer, filósofo inglês que procurou estudar a evolução da espécie humana. Se seguidor, o francês Alfred Espinas, afirma que os princípios da biologia são aplicáveis a todo ser vivo.

Todos esses cientistas partem do princípio de que existem caracteres universais presentes nos mais diversos organismos vivos, dispostos sob a forma de órgãos e sistemas.

6 - Da filosofia social à sociologia

Procurava resolver os conflitos sociais por meio da exaltação à coesão, à harmonia natural entre os indivíduos, ao bem-estar do todo social. Tenham servido como lemas de uma ação política conservadora, como justificativa para as relações desiguais entre sociedades, é preciso lembrar que eles representaram um esforço concreto de análise científica da sociedade.

Primeiras formulações objetivas sobre a sociabilidade humana.

6 - Da filosofia social à sociologia

Diante desses estudos, devemos não perder a perspectiva crítica, mas entende-los como as primeiras formulações objetivas sobre a sociedade humana. Foram teorias que abriram as portas para uma nova concepção da realidade social com suas especialidades e regras.

Entre os filósofos sociais franceses, pode-se destacar Hipolite Taine, cujas idéias sofreram menor influência de Comte. Formulou uma concepção de realidade histórica como determinada por três forças primordiais: a “raça”, que constituiria o fundamento biológico; o “meio”, que incluiria aspectos físicos e sociais; e o “momento”, que se constitui no resultado das sucessões históricas.

Outra figura relevante é Gustave Le Bon, médico e arqueólogo, contemporâneo de Taine, autor de pioneira e controvertida obra sobre a “psicologia das multidões”, na qual reflete sobre as crenças sociais mais gerais formadoras da “mentalidade coletiva” e a sua ação em indivíduos agrupados em multidão. Pierre Le Play, outro destes filósofos sociais, havendo concentrado seus esforços na busca da “menor unidade social”, comparável ao átomo da física ou as células da biologia. Le Play estabeleceu a família como essa unidade básica e universal.

O positivismo foi o pensamento que glorificou a sociedade européia do século XIX, em franca expansão. Procurava resolver os conflitos sociais por meio da exaltação à coesão, à harmonia natural entre os indivíduos, ao bem-estar do todo social.

Por mais evidentes que sejam hoje os limites, interesses, ideologias e preconceitos inscritos nos estudos positivistas da sociedade, por mais que eles tenham servido como lemas de uma ação política conservadora, como justificativa para as relações desiguais entre sociedades, é preciso lembrar que eles representaram um esforço concreto de análise científica da sociedade.

A simples postura de que a vida em sociedade era passível de estudo e compreensão; que o homem possuía - além de seu corpo e sentimentos - uma natureza social; que as emoções, os desejos e as formas de vida derivavam de contingências históricas e sociais -, tudo isso foram descobertas de grande importância.

Quase todos os países europeus economicamente desenvolvidos conheceram o positivismo. No entanto, foi na França, por excelência, que floresceu essa escola, a qual, partindo de uma interpretação original do legado de Descartes e dos enciclopedistas, buscava na razão e na experimentação seus horizontes teóricos.

Quase todos os países europeus economicamente desenvolvidos conheceram o positivismo. No entanto, foi na França, por excelência, que floresceu essa escola, a qual, partindo de uma interpretação original do legado de Descartes e dos enciclopedistas, buscava na razão e na experimentação seus horizontes teóricos.

Hipolite Taine formulou uma concepção da racionalidade histórica como determinada por três forças primordiais: a "raça", que constituiria o fundamento biológico; o "meio", que incluiria aspectos físicos e sociais, e o "momento", que se constitui no resultado das sucessões históricas. Outra figura relevante e Gustave Le Bon, médico e arqueólogo, contemporâneo de Taine, autor de pioneira e controvertida obra sobre a "psicologia das multidões", na qual reflete sobre as crenças sociais mais geniais formadoras da "mentalidade coletiva" e sua ação em indivíduos agrupados em multidão. Pierre Le Play, outro destes filósofos sociais, tinha uma perspectiva naturalista bem acentuada, havendo concentrado seus esforços na busca da "menor unidade social", comparável ao átomo da física ou às células da biologia. Le play estabeleceu a família como essa unidade básica e universal, postulando que as relações sociais seriam decorrência das relações familiares, em grau variável de complexidade. Fora da França cabe lembrar mais uma vez o trabalho do inglês Herbert Spencer, por suas reflexões na linha do evolucionismo e do organicismo.

A maioria dos primeiros pensadores sociais positivistas permanece presa por uma reflexão de natureza filosófica sobre a história e a ação humanas

Diante desses estudos, devemos não perder a perspectiva crítica, mas entende-los como as primeiras formulações objetivas sobre a sociedade humana. Foram teorias que abriram as portas para uma nova concepção da realidade social com suas especialidades e regras.

Entre os filósofos sociais franceses, pode-se destacar Hipolite Taine, cujas idéias sofreram menor influência de Comte. Formulou uma concepção de realidade histórica como determinada por três forças primordiais: a “raça”, que constituiria o fundamento biológico; o “meio”, que incluiria aspectos físicos e sociais; e o “momento”, que se constitui no resultado das sucessões históricas.

Outra figura relevante é Gustave Le Bon, médico e arqueólogo, contemporâneo de Taine, autor de pioneira e controvertida obra sobre a “psicologia das multidões”, na qual reflete sobre as crenças sociais mais gerais formadoras da “mentalidade coletiva” e a sua ação em indivíduos agrupados em multidão. Pierre Le Play, outro destes filósofos sociais, havendo concentrado seus esforços na busca da “menor unidade social”, comparável ao átomo da física ou as células da biologia. Le Play estabeleceu a família como essa unidade básica e universal.

Postado por Professor Adaltonàs 16:21Nenhum comentário:

QUINTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2014

CRISTINA COSTA. RESUMO ATÉ CAP. IV: INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA

RESUMO: INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA

O RENASCIMENTO

O Renascimento, mais do que a maioria dos diversos momentos históricos suscita grandes controvérsias. Há quem veja nesse movimento filosófico e artístico o momento de ruptura entre o mundo medieval – com suas características de sociedade agrária, estamental, teocrática e fundiária – e o mundo moderno urbano, burguês e comercial. Mudanças significativas ocorrem na Europa a partir de meados do século XV lançando as bases do que viria a ser, séculos depois, o mundo contemporâneo. A Europa medieval, relativamente estável e fechada, inicia um processo de abertura e expansão comercial e marítima. A identidade das pessoas, até então baseadas no clã e na propriedade fundiária, vai sendo progressivamente substituída pela identidade nacional e pelo individualismo. A mentalidade vai se tornando paulatinamente laica – desligada das questões sagradas e transcendentais -, as preocupações metafísicas vão convivendo com outras mais imediatistas e materiais, centradas principalmente no homem. Embora as questões metafísicas e filosóficas tenham sido consideradas desde a Antiguidade, no Renascimento a nova sociedade que emerge exige a distinção entre conhecimento especulativo e o pragmático.

Analisar as contradições sociais e procurar resolvê-las, acreditar que o bem-estar do homem depende das condições sociais é o germe do pensamento sociológico.

A ILUSTRAÇÃO E A SOCIEDADE CONTRATUAL

O Renascimento desenvolveu nos homens novos valores, diferentes daqueles vigentes na Idade Média. Os valores renascentistas estavam mais adequados ao espírito do capitalismo, um sistema econômico voltado para a produção e a troca, para a expansão comercial, para a circulação crescente de mercadorias e para o consumo de bens materiais. Instalava-se uma sociedade baseada na distinção pela posse de riqueza e não pela origem, nome e propriedade fundiária. Essa mudança radical no mundo ocidental exigia uma nova ordem social, dirigida por pessoas dispostas a buscar um espaço no mundo, a competir por mercados e a responder de forma produtiva à ampliação do consumo. Pessoas cuja vida estivesse direcionada para a existência terrena e suas conquistas, e não para a vida após a morte e para os valores transcendentais. Todas essas mudanças se anunciavam no Renascimento e se tornavam cada vez mais radicais à medida que se adentrava a Idade Moderna e a Revolução Industrial se tornava realidade. A nova concepção de lucro, elaborada e praticada pelo comerciante burguês renascentista, é a marca decisiva da ruptura com os valores e as idéias do mundo medieval. O lucro não é mais apenas o valor que se paga ao comerciante pelo trabalho realizado. O lucro expressa a premissa da acumulação, da ostentação, da diferenciação individual e assim realiza a idéia de que tenho o direito de cobrar o máximo que uma pessoa pode pagar. A idéia e a realização do lucro não eram de forma alguma novas. Eram conhecidas desde a Antiguidade, a partir do momento em que surgiu o comércio usando o dinheiro como equivalente de troca e, em decorrência, a acumulação de riqueza. No entanto, a forma de pensar e praticar o lucro era distinta. No Império Romano o comércio realizado com a prática de preços considerados abusivos era considerado ilegal e pouco nobre, e a Igreja Católica considerava pecaminosa a atividade econômica. Vejamos essa situação hipotética: na Grécia, um armador vivia da compra, do transporte e da venda de azeitonas à Europa. O preço final do produto remunerava o comerciante por seu trabalho de intermediação. Nesse preço estavam embutidas a reposição dos navios e dos escravos e a viagem de volta. Muitos comerciantes enriqueceram, porque agora também se cobrava o máximo possível pela mercadoria. Essa forma de entender o lucro era nova na história e foi instaurada pela burguesia a partir do Renascimento. Se um comerciante pode auferir numa troca comercial o maior preço possível que a situação permite – resultante da relação entre oferta e procura e de outras condições produtivas e de mercado -, então é preciso que a produção seja racional e em larga escala. O fato de a concordância ser cada vez maior também exige maior racionalidade e previsão. A procura por novas técnicas mais eficientes se torna uma constante. Muitos prêmios são oferecidos aos inventores, e projetos como os de Leonardo da Vinci, que ficaram apenas no papel, passam a fazer enorme sucesso. Desenvolvem-se a ciência e a tecnologia, enquanto na filosofia cada vez mais se procuram as raízes das formas de pensar.

O Renascimento introduziu e desenvolveu o antropocentrismo, a laicidade, o individualismo e o racionalismo. Com relação à vida social, passou-se a concebê-la como uma realidade própria sobre a qual os homens atuam; percebeu-se também a existência de diferentes modelos – a República, a Monarquia – e passou-se a analisa-los e a defender um ou outro modelo. Conseguiu-se vislumbrar a oposição entre indivíduo e sociedade, entre vontade individual e regras sociais.

A Ilustração, movimento filosófico que sucedeu o Renascimento, deu um passo além. Concebeu novas idéias de vida social e entendeu a coletividade como um organismo próprio. Começou a discernir aspectos e áreas da indústria, a cidade, o campo. O conceito de nação, como forma de organização política pela qual as populações estabelecem relações intersocietárias, já se cristaliza na Ilustração. O nacionalismo emergente do Renascimento, identificado ainda com o monarca e preso ao sentimento de fidelidade e sujeição, dá lugar à noção de organismo representativo da coletividade, independentemente de quem ocupa, por certo tempo, os cargos disponíveis.

O princípio da representatividade política, revelando um aprofundamento no entendimento da vida social, assim como o aparecimento de teorias capazes de explicar a origem do valor das mercadorias e outros mecanismos sociais, mostram o grau de desenvolvimento do pensamento social. Já era possível identificar fenômenos sociais e concebe-los em sua natureza própria diferenciada. O surgimento de conceitos, como Valor e Estado, revela a existência de uma metodologia e a emergência de uma nova forma de conhecer a realidade social. O Renascimento correspondeu a uma primeira fase da sistematização do pensamento burguês, na medida em que procurava trazer a volta à Europa os valores laicos, o gosto pela vida e o racionalismo, e atribuía ao indivíduo valores pessoais que não provinham da sua origem. Embora ainda tivesse um certo caráter religioso, o Renascimento exaltava a natureza e os prazeres da vida terrena, fosse o êxtase religioso ou o simples prazer dos sentidos, que se consegue junto à natureza.

Nos séculos XVII e XVIII, entretanto, a burguesia avança na concepção de uma forma de pensar própria, capaz de transformar o conhecimento não só numa exaltação da vida e dos feitos de seus heróis, mas também num processo que frutificasse em termos de utilidade prática. Afinal, o desenvolvimento industrial se anunciava em toda sua potencialidade; os empreendimentos, quando bem dirigidos, prometiam lucros miraculosos. Portanto, era preciso preparar a sociedade para receber os resultados desse trabalho. Os próprios sábios deveriam se interessar em desenvolver conhecimentos de aplicação prática.

A sociedade apresentava necessidades urgentes ao desenvolvimento científico: melhorar as condições de vida; ampliar a expectativa de sobrevivência humana a fim de engrossar as fileiras de consumidores e, principalmente, de mão-de-obra disponível; mudar hábitos sociais e formar uma mentalidade receptiva às inovações técnicas. A prática de elaboração dos projetos científicos para o desenvolvimento da indústria passa a ser aplicada à sociedade, pois sem um planejamento racional dos meios de transporte terrestres e marítimos, da distribuição e armazenamento dos produtos, da melhoria da infra-estrutura, todo o esforço produtivo estaria perdido. O planejar e o projetar o futuro trouxeram consigo também o conceito de nação, correspondendo à extensão territorial onde a burguesia de determinado país teria total controle sobre o mercado. A nação deveria se submeter a uma organização política que pudesse favorecer o desenvolvimento econômico e estimulá-lo. Dentro dessa nova organização política da sociedade deveria privilegiar-se o indivíduo, principal motor do progresso econômico. Este deveria estar livre das amarras impostas até então pela sociedade feudal, pois, de posse de sua total liberdade de agir, mover-se e estabelecer-se, o individuo poderia promover o progresso econômico.

Novos valores guiando a vida social para sua modernização, maior empenho das pesquisas e do saber em conquistar avanços técnicos, melhora nas condições de vida, tudo isso somado levou a esse surto de idéias, conhecido pelo nome de Ilustração. Após um primeiro momento em que a existência de um poder central garantia a emergência e a organização dessa nova ordem social, o mercado exigia liberdade de expansão. As novas formas de pensar e agir aliavam-se à necessidade de a burguesia libertar-se das amarras estabelecidas pelas monarquias absolutas, que não permitiam a livre iniciativa, a liberdade de comercio e a livre concorrência de salários, preços e produtos.

Assim, a Ilustração foi essencialmente pragmática e liberal, uma vez que a burguesia queria uma ordem econômica, política e social em que tivesse participação no poder e pudesse realizar seus negócios sem entraves. Podemos dizer que a burguesia já se sentia suficientemente forte e confiante em seus próprios objetivos de vida para dispensar a figura do rei como mercantilista, onde o Estado favorecia uma política de acumulação. Fortalecida, a burguesia propunha agora formas de governo baseadas na legitimidade popular, ate mesmo governos republicados. Conclamava o povo a aderir à defesa da igualdade jurídica e do sufrágio universal.

O pensamento burguês representou uma ruptura com relação ao mundo medieval. O desenvolvimento do capitalismo estimulou a sistematização do pensamento sociológico. A filosofia social da ilustração levou a descoberta das bases materiais das relações sociais.

A CRISE DAS EXPLICAÇÕES RELIGIOSAS E O TRIUNFO DA CIÊNCIA

Vários aspectos da filosofia da Ilustração prepararam o surgimento das ciências sociais no século XIX. O primeiro deles foi a sistematização do pensamento cientifico. Os efeitos de novos inventos, como o pára-raios e as vacinas, e desenvolvimento da mecânica, da química e da farmácia, eram amplamente verificáveis e pareciam coroar de êxitos as atividades cientificas. Claro está que a sociedade européia da época não se dava conta das nefastas conseqüências que a Revolução Industrial do século XVIII traria para o mundo tradicional agrário e manufatureiro. Aos olhos dos homens da época, eram vitoriosas as conquistas do conhecimento do humano, no sentido de abrir caminho para o controle sobre as leis da natureza. As idéias de progresso, racionalismo e cientificismo exerceram todo um encanto sobre a mentalidade da época. A vida parecia submeter-se aos ditames do homem esclarecido. Preparava-se o caminho para o amplo progresso cientifico que aflorou no final do século XIX. Se esse pensamento racional e científico parecia válido para explicar a natureza, intervir sobre ela e transformá-la, ele poderia também explicar a sociedade vista como um elemento da natureza. E a sociedade, da mesma forma que a natureza, poderia ser conhecida e transformada.

Se a ciência tinha sucesso na explicação da natureza, poderia também explicar a sociedade, como elemento da natureza. O pensamento laico-científico permitiu pensar a sociedade como obra humana e não divina.

POSITIVISMO: UMA PRIMEIRA FORMA DE PENSAMENTO SOCIAL

A primeira corrente teórica sistematizada de pensamento sociológico foi o positivismo, a primeira a definir precisamente o objeto, a estabelecer conceitos e uma metodologia de investigação. Além disso, o positivismo, ao definir a especificidade do estudo cientifico da sociedade, conseguiu distinguir-se de outras ciências estabelecendo um espaço próprio à ciência da sociedade. Seu primeiro representante e principal sistematizador foi o pensador francês Auguste Comte. O positivismo derivou do “cientificismo”, isto é, da crença no poder exclusivo e absoluto da razão humana em conhecer a realidade e traduzi-la sob a forma de leis naturais. Essas leis seriam a base da regulamentação da vida do homem, da natureza como um todo e do próprio universo. Seu conhecimento pretendia substituir as explicações teológicas, filosóficas e de senso comum por meio das quais – até então – o homem explicava a realidade. O positivismo reconhecia que os princípios reguladores do mundo físico e do mundo social diferiam quanto à sua essência: os primeiros diziam respeito a acontecimentos exteriores aos homens; os outros, a questões humanas. Entretanto, a crença na origem natural de ambos teve o poder de aproxima-los. Além disso, a rápida evolução dos conhecimentos das ciências naturais – física, química, biologia – e o visível sucesso de suas descobertas no incremento da produção material e no controle das forças da natureza atraíram os primeiros cientistas sociais pra o seu método de investigação. Essa tentativa de derivar as ciências sociais das ciências físicas é patente nas obras dos primeiros estudiosos da realidade social. O próprio Comte deu inicialmente o nome de “física social” às suas análises da sociedade, antes de criar o termo sociologia. Essa filosofia social positivista se inspirava no método de investigação das ciências da natureza, assim como procurava identificar na vida social as mesmas relações e princípios com os quais os cientistas explicavam a vida natural. A própria sociedade foi concebida como um organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionavam harmonicamente, segundo o modelo físico ou mecânico. Por isso o positivismo foi chamado também de organicismo. Podemos apontar, portanto, como primeiro princípio teórico dessa escola a tentativa de constituir seu objeto, pautar seus métodos e elaborar seus conceitos à luz das ciências naturais, procurando dessa maneira chegar à mesma objetividade e ao mesmo êxito nas formas de controle sobre os fenômenos sociais.

O positivismo reconheceu a existência de princípios reguladores do mundo físico e do mundo social. Acreditando na superioridade de sua cultura, os europeus intervieram nas formas tradicionais de vida existentes nos outros continentes, procurando transforma-las. O darwinismo social justificava o colonialismo europeu e refletia o otimismo dos europeus em relação à sua cultura. Os organicistas procuravam características universais da espécie humana, deixando de lado suas particularidades. O positivismo exaltava a coesão social e a harmonia dos indivíduos em sociedade.

A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM

Embora Comte seja considerado o pai da sociologia e tenha-lhe dado esse nome, Durkheim é apontado como um de seus primeiros grandes teóricos. Ele e seus colaboradores se esforçavam por emancipar a sociologia das demais teorias sobre a sociedade e constituí-la com disciplina rigorosamente científica. Em livros e cursos, sua preocupação foi definir com precisão o objeto, o método e as aplicações dessa nova ciência. Em uma de suas obras fundamentais, As regras do método sociológico, publicada em 1895, Durkheim definiu com clareza o objeto da sociologia – os fatos sociais. Distingue três características:

1a) A coerção social – a força que os fatos exercem sobre os indivíduos, levando-os a conformar-se às regras da sociedade em que vivem, independentemente de sua vontade e escolha. Essa força se manifesta quando o indivíduo adota um determinado idioma, quando se submete a um determinado tipo de formação familiar ou quando está subordinado a determinado código de leis. O grau de coerção dos fatos sociais se torna evidente pelas sanções a que o indivíduo estará sujeito quanto tenta se rebelar contra elas. As sanções podem ser legais ou espontâneas.

Legais – são as prescritas pela sociedade, sob a forma de leis, nas quais se estabelece a infração e a penalidade subseqüente.

Espontâneas – são as que afloram como decorrência de uma conduta não adaptada à estrutura do grupo ou da sociedade à qual o indivíduo pertence.

Por exemplo, uma ofensa num grupo social pode não ter penalidade prevista por lei, mas o grupo pode espontaneamente reagir penalizando o agressor. A reação negativa a certa forma de comportamento é, muitas vezes mais, mais intimidadora do que a lei. Jogar lixo no chão ou fumar em espaços particulares – mesmo quando não proibidos por lei nem reprimidos por penalidade explicita – são comportamentos inibidos pela reação espontânea dos grupos que a isso se opuserem.

A educação – entendida de forma geral, ou seja, a educação formal e a informal – desempenha, segundo Durkheim, uma importante tarefa nessa conformação dos indivíduos à sociedade em que vivem, a ponto de, após algum tempo, as regras estarem internalizadas e transformadas em hábitos. O uso de uma determinada língua ou o predomínio no uso da mão direita são internalizados no indivíduo que passa a agir assim sem sequer pensar a respeito.

2a.) Os fatos sociais existem e atuam sobre os indivíduos independentemente de sua vontade ou de sua adesão consciente, ou seja, são exteriores aos indivíduos. As regras sociais, os costumes, as leis, já existem antes do nascimento das pessoas, são a elas impostos por mecanismos de coerção social, como a educação. Portanto, os fatos sociais são ao mesmo tempo coercitivos e dotados de existência exterior às consciências individuais.

3a.) A generalidade é a terceira característica dos fatos sociais. É social todo fato que é geral, que se repete em todos os indivíduos ou, pelo menos, na maioria deles. Por essa generalidade, os fatos sociais manifestam sua natureza coletiva ou um estado comum ao grupo, como as formas de habitação, de comunicação, os sentimentos e a moral.

Durkheim aconselhava o cientista a estudar os fatos sociais como coisas, fenômenos que lhe são exteriores e podem ser observados e medidos de forma objetiva. A generalidade de um fato social representava o consenso social e a vontade coletiva. Aquilo que põe em risco a harmonia e o consenso representa um estado mórbido da sociedade. Aos poucos começa a se desenvolver na sociologia a preocupação com o particular (pequenos grupos, sentimentos comuns resultantes da convivência social).

SOCIOLOGIA ALEMÃ: A CONTRIBUIÇÃO DE MAX WEBER

A França desenvolveu seu pensamento social sob influência da filosofia positivista. Como potência emergente nos séculos XVII e XVIII foi, com a Inglaterra, a sede do desenvolvimento industrial e da sedimentação do pensamento burguês. O desenvolvimento da industria e a expansão marítima e comercial colocaram esses paises em contato com outras culturas e outras sociedades, obrigando seus pensadores a um esforço interpretativo da diversidade social. O sucesso alcançado pelas ciências físicas e biológicas, impulsionadas pela indústria e pelo desenvolvimento tecnológico, fez com que as primeiras escolas sociológicas fossem fortemente influenciadas pela adaptação dos princípios e da metodologia dessas ciências à realidade social. Na Alemanha, no entanto, a realidade é distinta. O pensamento burguês se organiza tardiamente e quando o faz, já no século XIX, é sob influência de outras correntes filosóficas e da sistematização de outras ciências humanas, com a história e a antropologia. A associação entre história, esforço interpretativo e facilidade em discernir diversidades caracterizou o pensamento alemão e quase todos os seus cientistas. Weber foi o grande sistematizador da sociologia na Alemanha, consegue combinar duas perspectivas: a histórica, que respeita as particularidades de cada sociedade e a sociológica, que ressalta os elementos mais gerais de cada fase do processo histórico

Uma das diferenças existentes entre o positivismo e o idealismo é a importância que o segundo dá a história. Weber conseguiu desenvolver a perspectiva histórica e sociológica. Cada indivíduo age levado por motivos que resultam da influência da tradição, dos interesses racionais e da emotividade. A tarefa do cientista era descobrir os possíveis sentidos da ação humana. Afirmava que o cientista, como todo indivíduo em ação, age guiado por seus motivos, sua cultura e sua tradição. Qualquer que seja a sua perspectiva, ela será sempre parcial.

KARL MARX E A HISTÓRIA DA EXPLORAÇÃO DO HOMEM

Vimos até agora que o pensamento sociológico, em seu desenvolvimento, abordou níveis diferentes da realidade. O método positivista expôs ao pensamento humano a idéia de que uma sociedade é mais do que a soma de indivíduos, que há normas, instituições e valores estabelecidos que constituem o social. Weber reorganizou os fatos sociais “à luz” da história e da subjetividade do agente social.

A corrente mais revolucionária do pensamento social tanto nas conseqüências teóricas quanto na prática social, é o materialismo histórico de Karl Marx. Marx produziu muito e suas idéias se desdobraram em várias correntes e foram incorporadas por inúmeros teóricos. Com o objetivo de entender o capitalismo, Marx produziu obras de filosofia, economia e sociologia. Sua intenção não era apenas contribuir para o desenvolvimento da ciência, mas propor uma ampla transformação política, econômica e social. Sua obra O capital, destinava-se a todos os homens, não apenas aos estudiosos da economia, da política e da sociedade. Este é um aspecto singular da teoria de Marx: há um alcance mais amplo nas suas formulações, que adquiriram dimensões de ideal revolucionário e de ação política efetiva. As contradições básicas da sociedade capitalista e as possibilidades de superação apontadas pela obra de Marx não puderam, pois, permanecer ignoradas.

Podemos apontar algumas influências básicas no desenvolvimento do pensamento do referido autor: a leitura crítica da filosofia de Hegel, de quem Marx absorveu e aplicou, de modo peculiar, o método dialético. Destacava o pioneirismo dos críticos da sociedade burguesa, mas reprovava o “utopismo” das suas propostas de mudança social. As teorias desenvolvidas tinham como traço comum o desejo de impor de uma só vez uma transformação social total, implantando, assim, o império da razão e da justiça eterna. Nesses sistemas elaborados havia a eliminação do individualismo, da competição e da influência da propriedade privada. Tratava-se de descobrir um sistema novo e perfeito de ordem social, vindo de fora, para implantá-lo na sociedade, por meio da propaganda e, sendo possível, como o exemplo, mediante experiências que servissem de modelo. Com esta formulação, desconsideravam a necessidade da luta política entre as classes sociais e o papel revolucionário do proletariado na realização dessa transição.

A trajetória de Marx é marcada pelo desenvolvimento de conceitos importantes como alienação, classes sociais, valor, mercadoria, trabalho, mais-valia, modo de produção.

Marx afirmava que as relações entre os homens são relações de oposição, antagonismo e exploração. A Revolução Industrial acelerou o processo de alienação do trabalhador dos meios e dos produtos de seu trabalho. O capitalismo transformou o trabalho em mercadoria. As classes sociais não apresentam apenas uma diferente quantidade de riqueza, mas também posição, interesse e consciência diversa. O estudo do modo de produção é fundamental para se saber como se organiza e funciona uma sociedade. A realidade social era uma concretude histórica – um conjunto de relações de produção que caracteriza um momento histórico. Contribuiu para uma nova abordagem do conflito, da relação entre consciência e realidade, e da dinâmica histórica.

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SEGUNDA-FEIRA, 23 DE SETEMBRO DE 2013

CRISTINA COSTA. RESUMO DO CAP. 7 - Karl Marx e a história da exploração do homem

Capítulo VII - Karl Marx e a história da exploração do homem

Introdução:

Vimos até agora que o pensamento sociológico, em seu desenvolvimento, abordou níveis diferentes da realidade. Sabemos que, se iluminarmos uma mesa cheia de objetos com luzes de diferentes cores, partindo de diversos focos, estaremos produzindo imagens distintas dos mesmos objetos. Nenhuma delas, entretanto, é desnecessária ou incorreta. Cada uma delas “põe à luz” ou privilegia determinados aspectos. Assim também acontece com as teorias científicas e, entre elas, as sociais.

O método positivista expôs ao pensamento humano a idéia de que uma sociedade é mais do que a soma de indivíduos, que há normas, instituições e valores estabelecidos que constituem o social. Weber, por sua vez, reorganizou os fatos sociais “à luz” da história e da subjetividade do agente social.

Agora falaremos de Karl Marx e do materialismo histórico, a corrente mais revolucionária do pensamento social nas conseqüências teóricas e na prática social que propõe. É também um dos pensamentos mais difíceis de compreender, explicar ou sintetizar, pois Marx produziu muito, suas idéias se desdobraram em várias correntes e foram incorporadas por inúmeros teóricos.

Com o objetivo de entender o capitalismo, Marx produziu obras de filosofia, economia e sociologia. Sua intenção, porém, não era apenas contribuir para o desenvolvimento da ciência, mas propor uma ampla transformação política, econômica e social. Sua obra máxima, O capital, destinava-se a todos homens, não apenas aos estudiosos da economia, da política e da sociedade. Este é um aspecto singular da teoria de Marx. Há um alcance mais amplo nas suas formulações, que adquiriram dimensões de ideal revolucionário e ação política efetiva. As contradições básicas da sociedade capitalista e as possibilidades de superação apontadas pela obra de Marx não puderam, pois, permanecer ignoradas pela sociologia.

A idéia de alienação

Marx desenvolve o conceito de alienação mostrando que a industrialização, a propriedade privada e o assalariamento separavam o trabalhador dos meios de produção – ferramentas, matéria-prima, terra e máquina –, que se tornaram propriedade privada do capitalista. Separava também, ou alienava, o trabalhador do fruto de seu trabalho, que também é apropriado pelo capitalista. Essa é a base da alienação econômica do homem sob o capital.

Politicamente, também o homem se tornou alienado, pois o princípio da representatividade, base do liberalismo, criou a idéia de Estado como um órgão político imparcial, capaz de representar toda a sociedade e dirigi-la pelo poder delegado pelos indivíduos. Marx mostrou, entretanto, que na sociedade de classes esse Estado representa apenas a classe dominante e age conforme o interesse desta.

Com o desenvolvimento do capitalismo, a filosofia, por sua vez, também passou a criar representações do homem e da sociedade. Diz Marx que a divisão social do trabalho fez com que a filosofia se tornasse a atividade de um determinado grupo. Ela é, portanto, parcial e reflete o pensamento desse grupo. Essa parcialidade e o fato de que o Estado se torna legítimo a partir dessas reflexões parciais – como, por exemplo, o liberalismo – transformaram a filosofia em “filosofia do Estado”. Esse comportamento do filósofo e do cientista em face do poder resultou também na alienação do homem.

Uma vez alienado, separado e mutilado, o homem só pode recuperar sua condição humana pela crítica radical ao sistema econômico, à política e à filosofia que o excluíram da participação efetiva na vida social. Essa crítica radical só se efetiva na práxis, que é a ação política consciente e transformadora.

Com base nessa principio, os marxistas vinculam a crítica da sociedade à ação política. Marx propôs não apenas um novo método de abordar a explicar a sociedade mas também um projeto para a ação sobre ela.

As classes sociais

As idéias liberais consideravam os homens, por natureza, iguais política e juridicamente. Liberdade e justiça eram direitos inalienáveis de todo cidadão. Marx, por sua vez, proclama a inexistência de tal igualdade natural e observa que o liberalismo vê os homens como átomos, como se estivessem livres das evidentes desigualdades estabelecidas pela sociedade. Segundo Marx, as desigualdades sociais observadas no seu tempo eram provocadas pelas relações de produção do sistema capitalista, que dividem os homens em proprietários e não-proprietários dos meios de produção. As desigualdades são a base da formação das classes sociais.

As relações entre os homens se caracterizam por relações de oposição, antagonismo, exploração e complementaridade entre as classes sociais.

Marx identificou relações de exploração da classe dos proprietários – a burguesia – sobre a dos trabalhadores – o proletariado. Isso porque a posse dos meios de produção, sob a forma legal de propriedade privada, faz com que os trabalhadores, a fim de assegurar a sobrevivência, tenham de vender sua força de trabalho ao empresário capitalista, o qual se apropria do produto do trabalho de seus operários.

Essas mesmas relações são também de oposição, e antagonismo, na medida em que os interesses de classe são inconciliáveis. O capitalista deseja preservar seu direito à propriedade dos meios de produção e dos produtos e à máxima exploração do trabalho do operário, seja reduzindo os salários, seja ampliado a jornada de trabalho. O trabalhador, por sua vez, procura diminuir a exploração ao lutar por menor jornada de trabalho, melhores salários e participação nos lucros.

Por outro lado, as ralações entre as classes são complementares, pois uma só existe em relação à outra. Só existe proprietários porque há uma massa de despossuídos cuja única propriedade é a força de trabalho, que precisam vender para assegurar a sobrevivência. As classes sociais são, pois, apesar de sua oposição intrínseca, complementares e interdependentes.

A história do homem é, segundo Marx, a história da luta de classes, da luta constante entre interesses opostos, embora esse conflito nem sempre se manifeste socialmente sob a forma de guerra declarada. As divergências, oposições e antagonismos de classes estão subjacentes a toda relação social, nos mais diversos níveis da sociedade, em todos os tempos, desde o surgimento da propriedade privada.

A origem histórica do capitalismo

O capitalismo surge na historia quando, por circunstâncias diversas, uma enorme quantidade de riquezas se concentra nas mãos de uns poucos indivíduos, que têm por objetivo a acumulação de lucros cada vez maiores.

No início, a acumulação de riquezas se fez por meio da pirataria, do roubo, dos monopólios e do controle de preços praticados pelos Estados absolutistas. A comercialização era a grande fonte de rendimentos para os Estados e a nascente burguesia. Uma importante mudança aconteceu quando, a partir do século XVI, o artesão e as corporações de oficio foram substituídas, respectivamente, pelo trabalhador “livre” assalariado – o operário – e pela indústria.

Na produção artesanal da Idade Média e do Renascimento, o trabalhador mantinha em sua casa os instrumentos de produção. Aos poucos, porém, estes passaram às mãos de indivíduos enriquecidos, que organizaram oficinas. A Revolução Industrial introduziu inovações técnicas na produção que aceleraram o processo de separação entre o trabalhador e os instrumentos de produção. As máquinas e tudo o mais necessário ao processo produtivo – força motriz, instalações, matérias-primas – ficaram acessíveis somente aos mais ricos. Os artesões, isolados, não podiam competir com o dinamismo dessas nascentes indústrias e do conseqüente crescimento do mercado. Com isso, multiplicou-se o número de operários, isto é, trabalhadores “livres” expropriados, artesões que desistiam da produção individual e empregavam-se nas indústrias.

O salário

O operário, como vimos, é aquele indivíduo que, nada possuindo, é obrigado a sobreviver da venda de sua força de trabalho. No capitalismo, a força de trabalho se torna uma mercadoria, algo útil, que se Pode comprar e vender. Surge assim um contrato entre capitalista e operário, mediante o qual o primeiro compra ou “aluga por um certo tempo” a força de trabalho e, em troca, paga ao operário uma quantia em dinheiro, o salário.

O salário é, assim, o valor da força de trabalho, considerada como mercadoria. Como a força de trabalho não é uma “coisa”, mas uma capacidade, inseparável do corpo do operário, o salário deve corresponder à quantia que permita ao operário alimenta-se, vestir-se, cuidar dos filhos, recuperar as energias e, assim, estar de volta ao serviço no dia seguinte. Em outras palavras, o salário deve garantir a reprodução das condições de subsistência do trabalhador e sua família.

O cálculo do salário depende do preço dos bens necessários à subsistência do trabalhador. O tipo de bens necessários depende, por sua vez, dos hábitos e dos costumes dos trabalhadores. Isso faz com que o salário varie de lugar para lugar. Além disso, o salário depende ainda da natureza do trabalho e da destreza e da habilidade do próprio trabalhador. No cálculo do salário de um operário qualificado deve-se computar o tempo que ele gastou com educação e treinamento para desenvolver suas capacidades.

Trabalho, valor e lucro

O capitalismo vê a força de trabalho como mercadoria, mas é claro que não se trata de uma mercadoria qualquer. Enquanto os produtos, ao serem usados, simplesmente se desgastam ou desaparecem, o uso da força de trabalho significa, ao contrário, criação de valor. Os economistas clássicos ingleses, desde Adam Smith, já haviam percebido isso ao reconhecerem o trabalho como a verdadeira fonte de riqueza das sociedades.

Marx foi além. Para ele, o trabalho, ao se exercer sobre determinados objetos, provoca nestes uma espécie de “ressurreição”. Tudo o que é criado pelo homem, diz Marx, contém em si um trabalho passado, “morto”, que só pode ser reanimado por outro trabalho. Assim, por exemplo, um pedaço de couro animal curtido, uma faca e fios de linha são, todos, produtos de trabalho humano. Deixados em si mesmo, são coisas mortas; utilizados para produzir um par de sapatos, renascem como meios de produção e se incorporam num novo produto, uma nova mercadoria, um novo valor.

Os economistas ingleses já haviam postulado que o valor da mercadoria dependia do tempo gasto na sua produção. Marx acrescentou que este tempo de trabalho se estabelecia em relação às habilidades individuais médias e às condições técnicas vigentes na sociedade. Por isso, dizia que no valor de uma mercadoria era incorporado o tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção.

De modo geral, as mercadorias resultam da colaboração de várias habilidades profissionais distintas; por isso, seu valor incorpora todos os tempos de trabalho específicos. Por exemplo, o valor de um par de sapatos inclui não só o tempo gasto para confeccioná-los, mas também o dos trabalhadores que curtiram o couro, produziram fios de linha, a máquina de costura etc. o valor de todos esses trabalhos está embutido no preço que o capitalista paga ao adquirir essas matérias-primas e instrumentos, os quais, juntamente com a quantia paga a título de salário, serão incorporados ao valor do produto.

Imaginemos um capitalista interessado em produzir sapatos, utilizando para esse cálculo uma unidade de moeda qualquer. Pois bem, suponhamos que a produção de um par lhe custe 100 unidades de moeda de matéria-prima, mais 20 com o desgaste dos instrumentos, mais 30 de salário diário pago a cada trabalhador. Essa soma – 150 unidades de moeda – representa sua despesa com investimentos. O valor do par de sapatos produzido nessas condições será a soma de todos os valores representados pelas diversas mercadorias que entraram na produção (matéria-prima, instrumentos, força de trabalho), o que totaliza também 150 unidades de moeda.

Sabemos que o capitalista produz para obter lucro, isto é, quer ganhar com seus produtos mais do que investiu. No exemplo acima, vemos, porém, que o valor de um produto corresponde exatamente ao que se investe para produzi-lo. Como então se obtém o lucro?

O capitalista poderia lucrar simplesmente aumentando o preço do produto – por exemplo, cobrando 200 pelo par de sapatos. Mas o simples aumento de preços é um recurso transitório e com o tempo cria problemas. De um lado, uma mercadoria com preços elevados, ao surgir possibilidades de ganho imediato, atrai novos capitalistas interessados em produzi-la. Com isso, porém, corre-se o risco de inundar o mercado com artigos semelhantes, cujo preço fatalmente cairá. De outro lado, uma alta arbitrária no preço de uma mercadoria qualquer tende a provocar elevação generalizada nos demais preços, pois, neste caso, todos os capitalistas desejarão ganhar mais com seus produtos. Isso pode ocorrer durante algum tempo, mas, se a disputa prolongar, poderá levar o sistema econômico à desorganização.

Na verdade, de acordo com a análise de Marx, não é no âmbito da compra e da venda de mercadorias que se encontram bases estáveis para o lucro dos capitalistas individuais nem para a manutenção do sistema capitalista. Ao contrário,a valorização da mercadoria se dá no âmbito de sua produção.

A mais-valia

Retomemos o nosso exemplo. Suponhamos que o operário tenha uma jornada diária de nove horas e confeccione um par de sapatos a cada três horas. Nestas três horas, ele cria uma quantidade de valor correspondente ao seu salário, que é suficiente para obter o necessário à sua subsistência. Como o capitalista lhe paga o valor de um dia de força de trabalho, o restante do tempo, seis horas, o operário produz mais mercadorias, que geram um valor maior do que lhe foi pago na forma de salário. A duração da jornada de trabalho resulta, portanto, de um cálculo que leva em consideração o quanto interessa ao capitalista produzir para obter lucro sem desvalorizar seu produto.

Suponhamos uma jornada de nove horas, ao final da qual o sapateiro produza três pares de sapatos. Cada par continua valendo 150 unidades de moeda, mas agora eles custam menos ao capitalista. É que, no cálculo do valor dos três pares, a quantia investida em meios de produção também foi multiplicada por três, mas a quantia relativa ao salário – correspondente a um dia de trabalho – permaneceu constante. Desse modo, o custo de cada par de sapatos se reduziu a 130 unidades.

Custo de um par de sapatos na jornada de trabalho de três horas

Meios de produção 120

+ +

Salário 30

_______

150

Custo de um par de sapatos na jornada de trabalho de nove horas

Meios de produção 120 x 3 = 360

+ +

Salário 30

__________________

390 ÷ 3 = 130

Assim, ao final da jornada de trabalho, o operário recebe 30 unidades de moeda, ainda que seu trabalho tenha rendido o dobro ao capitalista: 20 unidades de moeda, em cada um dos três pares de sapatos produzidos. Esse valor a mais não retorna ao operário: incorpora-se no produto e é apropriado pelo capitalista.

Visualiza-se, portanto, que uma coisa é o valor da força de trabalho, isto é, o salário, e outra é o quanto esse trabalho rende ao capitalista. Esse valor excedente produzido pelo operário é o que Marx chama de mais-valia.

O capitalista pode obter mais-valia procurando aumentar constantemente a jornada de trabalho, tal como no nosso exemplo. Essa é, segundo Marx, a mais-valia absoluta. É claro, porém, que a extensão indefinida da jornada esbarra nos limites físicos do trabalhador e na necessidade de controlar a própria quantidade de mercadorias que se produz.

Agora, pensemos numa indústria altamente mecanizada. A tecnologia aplicada faz aumentar a produtividade, isto é, as mesmas nove horas de trabalho agora produzem um número maior de mercadorias, digamos, 20 pares de sapatos. A mecanização também faz com que a qualidade dos produtos dependa menos da habilidade e do conhecimento técnico do trabalhador individual. Numa situação dessas, portanto, a força de trabalho vale cada vez menos e, ao mesmo tempo, graças à maquinaria desenvolvida, produz cada vês mais. Esse é, em síntese, o processo de obtenção daquilo que Marx denomina mais-valia relativa.

O processo descrito esclarece a dependência do capitalismo em relação ao desenvolvimento das técnicas de produção. Mostra, ainda, como o trabalho, sob o capital, perde todo atrativo e faz do operário mero “apêndice da máquina”.

As relações políticas

Após essa análise detalhada do modo de produção capitalista, Marx passa ao estudo das formas políticas produzidas no seu interior. Ele constata que as diferenças entre as classes sociais não se reduzem a uma diferença quantitativa de riquezas, mas expressam uma diferença de existência material. Os indivíduos de uma mesma classe social partilham de uma situação de classe comum, que inclui valores, comportamentos, regras de convivência e interesses.

A essas diferenças econômicas e sociais segue-se uma diferença na distribuição do poder. Diante da alienação do operariado, as classes economicamente dominantes desenvolveram formas de dominação políticas que lhes permitem apropriar-se do aparato de poder do Estado e, com ele, legitimar seus interesses sob a forma de leis e planos econômicos e políticos.

Cada forma assumida pelo estado na sociedade burguesa, seja sob o regime liberal, monárquico, monárquico constitucional ou ditatorial, representa maneiras diferentes pelas quais ele se transforma num “comitê para gerir os negócios comuns da burguesia” (K. Marx e F. Engles, Manifesto do Partido Comunista, in Cartas filosóficas e outros escritos, p.86), seja sob regime liberal, monárqico-constitucional, parlamentar ou ditatorial.

Para Marx as condições especificas de trabalho geradas pela industrialização tendem a promover a consciência de que há interesses comuns para o conjunto da classe trabalhadora e, conseqüentemente, tendem a impulsionar a sua organização política para a ação. A classe trabalhadora, portanto, vivendo uma mesma situação de classe e sofrendo progressivo empobrecimento em razão das formas cada vez mais eficientes de exploração do trabalhador, acaba por se organizar politicamente. Essa organização é que permite a tomada de consciência da classe operária e sua mobilização para a ação política.

Materialismo histórico

Para atender o capitalismo e explicar a natureza da organização econômica humana, Marx desenvolveu uma teoria abrangente e universal, que procura dar conta de toda e qualquer forma produtiva criada pelo homem em todo o tempo e lugar. Os princípios básicos dessa teoria estão expressos em seu método de análise – o materialismo histórico.

Marx parte do princípio de que a estrutura de uma sociedade qualquer reflete a forma como os homens organizam a produção social de bens. A produção social, segundo Marx, engloba dois fatores básicos: as forças produtivas e as relações de produção.

As forças produtivas constituem as condições materiais de toda a produção. Qualquer processo de trabalho implica: determinados objetos, isto é, matérias-primas identificadas e extraídas da natureza; e determinados instrumentos, ou seja, o conjunto de forças naturais já transformadas e adaptadas pelo homem, como ferramentas ou máquinas, utilizadas segundo uma orientação técnica específica. O homem, principal elemento das forças produtivas, é o responsável por fazer a ligação entre a natureza e a técnica e os instrumentos. O desenvolvimento da produção vai determinar a combinação e o uso desses diversos elementos: recursos naturais, mão-de-obra disponível, instrumentos e técnicas produtivas. Essas combinações procuram atingir o máximo de produção em função do mercado existente. A cada forma de organização das forças produtivas corresponde uma determinada forma de relação de produção.

As relações de produção são as formas pelas quais os homens se organizam para executar a atividade produtiva. Essas relações se referem às diversas maneiras pelas quais são apropriados e distribuídos os elementos envolvidos no processo de trabalho: as matérias-primas, os instrumentos e a técnica, os próprios trabalhadores e o produto final. Assim, as relações de produção podem ser, num determinado momento, cooperativistas (como num mutirão), escravistas (como na Antiguidade), servis (como na Europa feudal), ou capitalista (como na indústria moderna).

Forças produtivas e relações de produção são condições naturais e históricas de toda atividade produtiva que ocorre em sociedade. A forma pela qual ambas existem e são reproduzidas numa determinada sociedade constitui o que Marx denominou modo de produção.

Para Marx, o estudo do modo de produção é fundamental para compreender como se organiza e funciona uma sociedade. As relações de produção, nesse sentido, são consideradas as mais importantes relações sociais. Os modelos de família, as leis, a religião, as idéias políticas, os valores sociais são aspectos cuja a explicação depende, em princípio, do estudo do desenvolvimento e do colapso de diferentes modos de produção. Analisando a história, Marx identificou alguns modos de produção específicos: sistema comunal primitivo, modo de produção asiático, modo de produção antigo, modo de produção germânico, modo de produção feudal e modo de produção capitalista. Cada qual representa diferentes formas de organização da propriedade privada e da exploração do homem pelo homem.

Em cada modo de produção, a desigualdade de propriedade, como fundamento das relações de produção, cria contradições básicas como o desenvolvimento das forças produtivas. Essas contradições se acirram até provocar um processo revolucionário, com a derrocada do modo de produção vigente e a ascensão de outro.

A sociologia, o socialismo e o marxismo.

A teoria marxista teve ampla aceitação teórica e metodológica, assim como política e revolucionaria. Já em 1864, em Londres, Karl Marx e Friedrich Engles – companheiro em grande parte de suas obras – estruturaram a Primeira Associação Internacional de Operários, ou Primeira Internacional, promovendo a organização e a defesa dos operários em nível internacional. Extinguida em 1873, a difusão das idéias e das propostas marxistas ficou por canta dos sindicatos existentes em diversos países e nos partidos, especialmente os social-democratas.

A Segunda Internacional surgiu na época do centenário da Revolução Francesa (1889), quando diversos congressos socialistas tiveram lugar nas principais capitais européias, com várias tendências, nem sempre conciliáveis. A Primeira Guerra Mundial pôs fim à Segunda Internacional, em 1914. Em 1917, uma revolução inspirada nas idéias marxistas, a Revolução Bolchevique, na Rússia, criava no mundo o primeiro Estado operário. Em 1919, inaugurava-se a Terceira Internacional ou Comintern, que, como a primeira, procurava difundir os ideais comunistas e organizar os partidos e a luta dos operários pela tomada do poder. Ela continua atuante até hoje, enfrentando intensa crise provocada pelo fim da Uni

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