“Por que o Brasil ainda não deu certo?” Esta é a questão que motiva a obra de Darcy Ribeiro
Resenha: “Por que o Brasil ainda não deu certo?” Esta é a questão que motiva a obra de Darcy Ribeiro. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: matadodepomba • 24/9/2014 • Resenha • 4.961 Palavras (20 Páginas) • 1.216 Visualizações
“Por que o Brasil ainda não deu certo?” Esta é a questão que motiva a obra de Darcy Ribeiro (2002), dedicada a compreender o Brasil e os brasileiros – sua gestação como povo e seu lugar específico na história humana.
Ribeiro, no quadro de sua teoria da história, cunha dois conceitos com os quais trabalhará ao longo de toda sua obra:
a) “povo novo” e
b) “transfiguração étnica”.
O primeiro diz respeito ao resultado da confluência das três matrizes raciais – portuguesa, negra e indígena – que deram origem ao brasileiro e à sua especificidade. O caráter de novidade, contudo, do povo brasileiro, carregaria consigo a outra face da mesma moeda – um povo que é simultaneamente “novo” e “velho”.
Novo porque surge como uma etnia nacional, diferenciada culturalmente de suas matrizes formadoras, fortemente mestiçada. “Velho, porém, porque se viabiliza como um proletariado externo. Quer dizer, como um implante ultramarino da expansão europeia que não existe para si mesmo, mas para gerar lucros exportáveis pelo exercício da função de provedor colonial de bens para o mercado mundial, através do desgaste da população que recruta no país ou importa.” (p. 20).
Já o conceito de “transfiguração étnica” diria respeito ao processo através do qual os povos surgem, se transformam ou morrem.
Ribeiro aplica tais termos à análise da realidade histórica brasileira, estruturando seu estudo em torno de cinco eixos:
I) “O Novo Mundo”, que situa a formação do Brasil dentro do processo de expansão dos “impérios mercantis salvacionistas” europeus;
II) “Gestação Étnica”, que mapeia os processos responsáveis pelo surgimento da etnia brasileira a partir de suas três matrizes formadoras;
III) “Processo Sociocultural”, que identifica as forças responsáveis pela diversificação de nossa matriz étnica originária em diversos “modos rústicos de ser” dos brasileiros;
IV) “Os Brasis na história”, dedicado à identificação e descrição destes modos de ser;
V) “O Destino Nacional”, que analisa o tipo de estratificação social que advém de nosso processo de formação, assim como suas consequências em termos de tensões dissociativas de caráter traumático.
“Tanto o ‘brasilíndio’ como o afro-brasileiro existiam numa terra de ninguém, etnicamente falando, e é a partir dessa carência essencial, para livrar-se da ninguendade de não-índios, não-europeus e não negros, que eles se vêem forçados a criar sua própria identidade étnica: a brasileira.” (ibidem, p. 130)
“É o resultado fundamental do processo de deculturação das matrizes formadoras do povo brasileiro. Empobrecido, embora, no plano cultural com relação a seus ancestrais europeus, africanos e indígenas, o brasileiro comum se construiu como homem tábua rasa, mais receptivo às inovações do progresso do que o camponês europeu tradicionalista, o índio comunitário ou o negro tribal.” (ibidem, p. 249)
Se nossa origem e especificidade, portanto, nos colocaram na antessala da modernidade, quais as razões para o nosso atraso frente aos países centrais? Ou, retomando a pergunta inicial de seu livro: “por que o Brasil ainda não deu certo?”
“Nós, brasileiros, nesse quadro, somos um povo em ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos oriundos da mestiçagem viveu por séculos sem consciência de si, afundada na ‘ninguendade’. Assim foi até se definir como uma nova identidade étnico-nacional, a de brasileiros. Um povo, até hoje, em ser, na dura busca de seu destino.” (Ribeiro, DARCY)“Por que o Brasil ainda não deu certo?” Esta é a questão que motiva a obra de Darcy Ribeiro (2002), dedicada a compreender o Brasil e os brasileiros – sua gestação como povo e seu lugar específico na história humana.
Ribeiro, no quadro de sua teoria da história, cunha dois conceitos com os quais trabalhará ao longo de toda sua obra:
a) “povo novo” e
b) “transfiguração étnica”.
O primeiro diz respeito ao resultado da confluência das três matrizes raciais – portuguesa, negra e indígena – que deram origem ao brasileiro e à sua especificidade. O caráter de novidade, contudo, do povo brasileiro, carregaria consigo a outra face da mesma moeda – um povo que é simultaneamente “novo” e “velho”.
Novo porque surge como uma etnia nacional, diferenciada culturalmente de suas matrizes formadoras, fortemente mestiçada. “Velho, porém, porque se viabiliza como um proletariado externo. Quer dizer, como um implante ultramarino da expansão europeia que não existe para si mesmo, mas para gerar lucros exportáveis pelo exercício da função de provedor colonial de bens para o mercado mundial, através do desgaste da população que recruta no país ou importa.” (p. 20).
Já o conceito de “transfiguração étnica” diria respeito ao processo através do qual os povos surgem, se transformam ou morrem.
Ribeiro aplica tais termos à análise da realidade histórica brasileira, estruturando seu estudo em torno de cinco eixos:
I) “O Novo Mundo”, que situa a formação do Brasil dentro do processo de expansão dos “impérios mercantis salvacionistas” europeus;
II) “Gestação Étnica”, que mapeia os processos responsáveis pelo surgimento da etnia brasileira a partir de suas três matrizes formadoras;
III) “Processo Sociocultural”, que identifica as forças responsáveis pela diversificação de nossa matriz étnica originária em diversos “modos rústicos de ser” dos brasileiros;
IV) “Os Brasis na história”, dedicado à identificação e descrição destes modos de ser;
V) “O Destino Nacional”, que analisa o tipo de estratificação social que advém de nosso processo de formação, assim como suas consequências em termos de tensões dissociativas de caráter
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