Resenha Filme Homo Sapiens

A busca pela "melhora" humana é apresentada no filme "Homo Sapiens 1900", como tendo por base no fato de o homem ser capaz de observar a si mesmo e insatisfazer-se com suas imperfeições. Em 1900 então, o termo "eugenia" surge como um fim para essa insatisfação, ou seja, inicia-se a busca à higiene racial e o consequente aperfeiçoamento da raça humana.

Tal insatisfação é ilustrada no filme como alicerce da construção do sonho do homem de intervir na natureza, e o ato de estudar a vida humana como o maior desafio da ciência. Bachelard, no entanto, destoa um pouco desta premissa definitiva de ciência, dizendo que o conhecimento do real nunca é pleno e imediato. Somente após a elaboração de um conjunto de argumentos o pensamento empírico torna-se claro. O conhecer ocorre num processo dialético que se contrapõe a conhecimentos anteriores, destruindo aqueles mal formulados e superando o que se caracteriza como obstáculo à própria espiritualização científica. Para ele, “ diante do real, aquilo que cremos saber com clareza ofusca o que deveríamos saber. Quando o espírito se apresenta à cultura científica, nunca é jovem. Aliás, é bem velho, porque tem a idade de seus preconceitos. Aceder à ciência é rejuvenescer espiritualmente, é aceitar uma brusca mutação que contradiz o passado” (p. 18).

O diretor do filme examina a arte como fonte de autocontemplação do homem, uma vez que o ser humano busca beleza e harmonia. Nota-se a volta da influência grega em relação aos padrões de beleza, uma vez que valorizavam as medidas proporcionais e a constante busca pela perfeição. Eles acreditavam assim estavam fazendo ciência.

A partir daí, podemos questionar: "Mas então, quais são os usos sociais da ciência? É possível definir até onde a ciência pode ir? E os perigos de ir além?"

Segundo Bordieau, o campo científico, ou, a área de atuação da ciência, está colocado como um "universo intermediário entre autonomia total e submissão às leis sociais", estando então a ciência colocada em um campo relativamente autônomo e constituída por agentes que ocupam posições específicas.

O cientista inglês Francis Golton afirma no filme que o empecilho à evolução do homem é o fato de as pessoas inferiores procriarem mais rapidamente. A vida em sociedade deveria ser entendida como um jardim, em que as ervas daninhas deveriam ser separadas das plantas úteis. Ainda houve a separação do termo eugenia em duas classificações: a positiva, a qual consistia na melhoria da raça humana através do cruzamento de seres superiores; e a negativa, a qual evitava que pessoas inferiores se reproduzissem. Dava-se início a discriminação entre os próprios homens, dentro de uma mesma sociedade. Já em 1895, o médico alemão Alfred Ploetz, afirma ser necessário provocar a morte de um recém-nascido caso ele nasça fraco ou deformado, introduzindo o termo "higiene racial".

Neste sentido, é tênue a linha que separa a formação da eugenia como ciência de somente uma teoria de opinião que cresceu e se popularizou. Bachelard diz que possibilitar a formação do espírito científico significa entender a ciência como oposta à opinião, já que aquela tem necessidade de comprovação. A opinião, por não necessitar do rigor cognitivo e teórico-metodológico, é entendida como um dos obstáculos a ser superados pelo espírito científico. De fato, ideologias e cosmovisões progressistas costumam basear-se puramente no objetivo a ser alcançado, e não no empirismo. O próprio autor lembra que a abstração costuma se desgastar e a concretude permanece no pensamento, podendo, ideias dominantes, por vezes, polarizar o espírito. O senso comum representa a experiência imediata, o conhecimento vulgar. Ou seja, tudo o que se precisa romper para se tornar possível o conhecimento científico, racional e válido.