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Resenha do Livro Abril Despedaçado

Por:   •  27/11/2018  •  Resenha  •  663 Palavras (3 Páginas)  •  250 Visualizações

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KADARÉ, Ismail. Abril despedaçado. Companhia das Letras, 1991.

Victor Hugo de Araujo Dantas[1]

Gjorg Berisha “toma o sangue” de Zef Kryeqyq. É a 45ª morte de uma vendeta iniciada a setenta anos, quando um desconhecido foi vítima de um Kryeqyq depois de ser acolhido pelo clã dos Berisha.

O que mantêm a matança entre as duas famílias é o chamado “Kanun”, que é um código moral que é transmitido há séculos entre as gerações que residem nas montanhas albanesas.

O autor, se aprofunda no Kanun, mantendo um rigor cientifico, ele consegue de maneira magistral extrair os direitos e deveres do código. A vendeta explicita no Kanun, especifica quem, como, onde, quando, a posição da vítima, a comunicação da execução, o velório, o banquete, o sepultamento, os prazos da próxima vendeta até mesmo imposições feitas a família da vítima enquanto ela não recuperar p sangue que foi tomado.

O jovem Gjorg cumpre seu dever de cobrar dos Kryeqyq o sangue que eles devem aos Berisha, e os Kryeqyq têm agora o direito de recuperar o sangue que lhes foi tomado, matando Gjorg dentro de 28 dias. É o Kanun – esse círculo vicioso de execuções – que impulsiona o enredo de Abril despedaçado.

O autor do livro, descreve com rigor antropológico, os detalhes dessa cultura de vendeta nas montanhas albanesas, isso torna o livro ainda mais interessante para leitura.

Narrado de maneira espetacular, o livro, que aborda o tema dos tradicionais locais de vingança da Albânia, que fascina no modo como narra a trajetória de um homem marcado para morrer.

O texto abordado é muito complexo, e exige releituras para compreender histórias que seguem praticamente ocultas na vida do casal que chega até as montanhas para a lua de mel na isolada região montanhosa que segue o código de Kanun, e a tragédia do jovem Gjorg.

Pela primeira vez, vi um livro que tem como personagem principal, não um homem ou um animal, mas tem como principal protagonista um objeto, que é descrito pelo autor de maneira magistral. No livro, esse objeto é chamado de “Kanun”, um código de transmitido via oral que rege a honra, moral e valores que devem ser seguidos pelos clãs das montanhas albanesas em que o romance é narrado.

A história começa com um fuzilamento, o jovem Gjorg toma o sangue de Zef da familia Kryeqyq, a partir do acontecido, Gjorg tem 28 dias até que a família Kryeqyq venha tomar o sangue de volta da família Berisha, como diz o código seguido pelos clãs, o Kanun.

No passar dessa trégua, chega até as montanhas albanesas, um casal, Bessian e Diana, que vai até o Rrafsh (região da Albania) passar a Lua de Mel e que assim como Gjorg, têm suas vidas devastadas pelo Kanun e seu feudo de sangue.

O kanun, é um objeto que divide a Albania em duas, uma, seguindo a cultura dos clãs das montanhas, e a outra que é do restante do povo albanês, regidos por outros códigos mais globalizados.

Bessian, é um escritor Albanês da cidade, ele sabe o significado do Kanun para a região, porém, Bessian é da cidade, a sua visão é extremamente romantizada e abstrata da realidade que segue o povo camponês. Diana, sua esposa, não teve influencia dos albaneses, e sua visão de mundo é mais realista para com a vida daquelas pessoas. Isso faz com que Diana tenha um posicionamento diferenciado no romance, chegando a questionar a moralidade do código, com riqueza de detalhes apresentadas pelo autor do livro.

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