Resenha do Livro Na Minha pele Lazaro Ramos
Por: Lavinia Pinheiro • 28/11/2018 • Resenha • 1.978 Palavras (8 Páginas) • 433 Visualizações
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE ESTUDOS DE GÊNERO E FEMINISMO
BACHARELADO ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE
METODOLOA CIENTIFICA APLICADA AOS ESTUDOS DE GÊNERO
LAVINIA PINHEIRO VARJÃO DOS SANTOS
RESENHA NA MINHA PELE
Salvador
2018
LAVINIA PINHEIRO VARJÃO DOS SANTOS
RESENHA NA MINHA PELE
Trabalho apresentado ao curso de Estudos de Gênero e Diversidade, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia como requisito para obtenção de nota do I semestre na disciplina de Metodologia Cientifica Aplicada aos Estudos de Gênero.
Salvador
2018
Na minha pele
A obra Na minha pele de Lázaro Ramos, famoso ator e escritor negro, analisa as questões raciais no Brasil sob a ótica e experiências de vida do autor, ele irá tratar justamente do seu estigma de ator negro, pontuando o fato de ser uma exceção dentro da mídia brasileira. Uma das suas preocupações na escrita do livro foi justamente esta, de comprovar que a tese da meritocracia é infundada, o seu sucesso é um caso isolado de privilégio dentre os negros que não conseguem chegar a tal patamar, mas não por não merecimento e sim pela mecânica do próprio sistema que é excludente e só permite a ascensão de alguns.
O livro é divido em duas partes, na primeira ele fala das suas experiências de vida e na segunda parte ele se aprofunda no problema do racismo e apresenta suas impressões sobre o tema. A narrativa é como uma conversa do autor com o leitor, ele vai e volta no tempo diversa vezes, introduz pensamentos e indagações ao seu leitor, mesmo com o peso que o tema carrega, ele consegue trazer leveza e até humor a obra como na primeira parte do livro, que começa explicando o processo de construção do livro que durou cerca de dez anos, ele já tinha começado a escrever livros infantis e foi com essa proposta para a editora, mas que recusou inicialmente essa temática, incentivando-o a escrever sobre o racismo e sobre a sua vida, de início conta que teve receio, mas resolveu se arriscar, e aprofundar-se no tema para ter bagagem para esse escrita, mas sem pretensão de formular um estudo, ensaio sobre o tema.
Nos primeiros capítulos ele retrata suas origens, sua infância e juventude e seu processo de construção de identidade negra, relata a trajetória até chegar no espaço onde ele está atualmente, e mostra o fato de o quanto mais próximo ao topo ele ia chegando, menos negros ele encontrava, fato esse despercebido pelas pessoas que já estavam nestes lugares, ele sempre se preocupava em mostrar para seus amigos brancos como ele era único negro em certos ambientes frequentados e o indicativo disso na sociedade. Ele traz essas nuances do racismo na primeira parte intercaladas com sua experiências. O fato da falta de representatividade na infância com heróis e personagens infantis, o seu ídolo nesse período era o Jairzinho da turma do Balão Mágico, pela identificação visual que tinha com este. Relata que a família não tinha auto-afirmação da identidade negra, as mulheres tinham seus cabelos alisados; seu processo de construção de identidade veio através do Bando de teatro do Olodum que ele ingressou aos 16 anos e adquirindo consciência foi transferindo aos poucos a sua família. A intolerância religiosa era bastante acentuada tanto que as práticas religiosas de matriz africana eram realizadas de maneira secreta, as pessoas não declaravam suas religiões. O que também se relaciona com a desvalorização da cultura e apagamento da história do povo negro que ele denuncia na obra, por não haver registros, não se tem conhecimento de onde vieram os ancestrais das famílias negras, ja maioria dos brancos sabe e fala com orgulho da descendência das suas. O pouco que ele conseguiu descobrir das suas origens se deu através de conversas com os familiares mais velhos, a história do seu vilarejo e de todos aqueles compostos pela comunidade negra não tem registro palpável, escrito, e isso foi uma maneira proposital de dominação pelos brancos, ao apagarem as raízes, origens de um povo, os laços de pertencimento passam a se afrouxar, dificultando a união.
Além disso o ensino da história brasileira nas escolas não possuem um aprofundamento no assunto da escravidão e a história dos negros na construção do país, somente com a aprovação da lei n° 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que as escolas passam a abordar tal assunto, mas ainda sem grande aprofundamento pelo fato das próprias lacunas existentes na história, que foi escrita pelos brancos. Ao final do livro ele faz recomendações de arquivos que pautam essas questões, um desses é o TED de Chimamanda Adichie intitulado “O perigo da história única” que irá debater justamente sobre as implicações da história ser escrita por apenas um dos lados, a criação de estereótipos, a parcialidade, se resume todo um povo a uma única visão, a exemplo o que ocorre com a população do continente africano que é visto pelo resto do mundo apenas como pessoas em condições de miséria e nada a mais, referem-se a um continente com distintos países e culturas de forma homogênea e ignorante ao citar como um país.
Lázaro pontua como herança do período da escravidão o trabalho doméstico e a forma como esse trabalho é visto e desvalorizado, por muito tempo não havia quaisquer direitos garantidos a essa classe trabalhadora, era de fato um trabalho análogo à escravidão até o século XXI, onde muitas mulheres jovens eram levadas do interior e vindas de famílias carentes, e recebiam em troca cama e comida, algumas ainda recebiam um salário ínfimo que ajudavam a família, folgas e férias eram raridades. O autor aborda esse tema pois sentia a ausência da sua mãe que era empregada doméstica e passava a maior parte dos dias na casa dos patrões, alguns dias ele dormia lá com ela, e se sentia mal pela forma como via a mãe sendo tratada e como ele era tratado também naquele espaço, o tratamento segundo ele era relativamente bem, no entanto em muitos momentos fazia-se questão de deixar clara a barreira que existia por ele ser filho e da empregada e não membro da família. Era o único a ser reclamado quando as brincadeiras evoluiam para bagunça e não podia explorar os ambientes da casa, tanto ele quanto a sua mãe, não comiam da mesma comida que os patrões. Como exposto por Gabriela Valentim e Carolina Mendonça as casas dos patrões das empregadas têm sido as “senzalas modernas”.
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