O Educomunicador Como Mediador da(s) Linguagem(ns)
Por: MAYARA DOS SANTOS FERREIRA • 20/2/2024 • Trabalho acadêmico • 1.180 Palavras (5 Páginas) • 94 Visualizações
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES
CCA0288 — LINGUAGEM VERBAL NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO I
Reflecon I — O Educomunicador como mediador da(s) linguagem(ns)
Discente: Rogerio Menale Sampaio
Nº USP: 5929908
Março/2019
- Introdução
Não nos é surpresa que, por volta dos dois anos de idade, uma criança com desenvolvimento motor e psíquico normais, já tem domínio relativo da linguagem. Sem a necessidade de instrução formal, ela passa a utilizar a linguagem para interagir com o mundo que a cerca, expressando suas vontades, desejos e interagindo com as demais crianças e adultos de seu convívio. Por volta dos seis anos, ela passa a frequentar a escola, local em que será alfabetizada; ou seja, passará a ter contato com a palavra escrita, podendo então ler e escrever a sua linguagem.
Isso posto, pretendemos no presente ensaio refletir sobre a importância da linguagem para os seres humanos e seu desenvolvimento natural. Pensando na formação em Educomunicação, passaremos a discutir na sequência a importância do professor para com seus alunos no processo de aprendizagem e uso da linguagem.
- O que é a linguagem?
Leontiev (1978) dedica-se a questão da linguagem em sua obra Desenvolvimento do Psiquismo. O autor expõe que a hominização dos seres humanos dá-se pelo aparecimento da sociedade e do trabalho (LEONTIEV, 1978, p. 76). Por trabalho compreende-se o processo que liga o homem à natureza e sua ação sobre ela. Tal interação entre homem e meio é caracterizada por dois elementos. Por um lado, o uso e fabrico de instrumentos, objeto que permite os indivíduos a realizarem uma ação de trabalho. Além de apresentar forma particular, é também um objeto social, pois apresenta um certo modo de emprego que é elaborado socialmente no trabalho coletivo e atribuído a ele.
Por outro, verifica-se a necessidade de uma atividade comum coletiva, na qual o indivíduo interage não só com a natureza que o cerca, mas também com outros homens — dando origem, assim, a uma sociedade. A relação e cooperação entre indivíduos supõe uma divisão técnica do trabalho. Desse modo, o ele é mediatizado pelo instrumento e pela sociedade, desde sua origem, permitindo assim a comunicação (ibid., p. 80).
Portanto, a linguagem, instrumento da comunicação humana e produto da coletividade, operando a consciência a respeito da realidade que nos cerca — e por essa razão a consciência é inseparável da linguagem. Seu surgimento só pode ser compreendido em relação com a necessidade, nascida do trabalho, que os homens sentem de interagirem entre si, uma vez que, no trabalho, os homens devem estabelecer forçosamente uma relação, uma comunicação uns com os outros. (ibid., p. 92).
O pesquisador russo Vygotsky, em sua obra Pensamento e Linguagem, debruçou-se sobre os conceitos de pensamento e linguagem, tentando compreendê-los em uma abordagem aprofundada e diferente daquela proposta por seus contemporâneos — que estudaram os conceitos de forma dissociada. Segundo o autor, a priori, o pensamento não é verbal e a linguagem não é intelectual, tendo os dois origens diferentes. Assim, inicialmente, a criança faz uso da linguagem para interagir superficialmente em seu convívio.
Entretanto, a partir de certo ponto que ocorre por volta dos dois anos de idade, as curvas de desenvolvimento do pensamento e da linguagem encontram-se. A linguagem adentra no subconsciente, permitindo desta forma a estruturação do pensamento da criança, dando início a uma nova forma de comportamento: o pensamento começa a tornar-se verbal e a linguagem, por sua vez, racional (VYGOTSKY, 1998, p.3).
O autor também compreende que o significado é a unidade mínima do pensamento humano, visto que nele ocorre a junção entre pensamento (individual) e discurso (social), resultando no pensamento verbal. Uma palavra não se refere a um objeto simples, mas sim a um grupo de objetos. Portanto, as palavras são generalizações por si próprias. Seus significados pertencem, ao mesmo tempo, ao campo da linguagem e ao do pensamento.
Entendendo que a função primordial da linguagem é a interação social, a transmissão intencional de experiências e pensamento requer um sistema mediador, que em nosso caso é a linguagem. A comunicação real exige tanto o significado generalizado quanto o signo. Isso porque a experiência pessoal existe apenas no interior do consciente do indivíduo. Para que seja expressa para o(s) outro(s), ela deve ser representada por meio de elemento comum dentro do grupo social; isto é, pela palavra escolhida pelo conjunto de indivíduos.
3. Linguagem e Educação
Na obra A Importância do Ato de Ler, Paulo Freire (1989) discute a importância da leitura e da alfabetização para os indivíduos. Para isso, ele realiza um retorno às suas reminiscências observando seu processo de alfabetização, revisitando desde a sua infância até sua atuação como professor de língua portuguesa. Com isso, em consonância com Leontiev, Freire argumenta que a leitura do mundo[1] antecede a leitura da palavra e, consequentemente, linguagem e realidade estabelecem uma relação dinâmica (FREIRE, 1989, p. 9). Assim, ao aprendermos a ler as palavras, espontaneamente realizamos a leitura do mundo que nos cerca, daquilo que está presente em nosso dia a dia. A alfabetização, por sua vez, amplia nossa capacidade de ler do mundo exterior — dando-nos, inclusive, a possibilidade de transformá-lo por meio de nossa prática consciente.
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