Trabalho sobre comunicação retórica
Por: Giovanni Paniccia Loureiro • 11/4/2017 • Artigo • 2.181 Palavras (9 Páginas) • 232 Visualizações
Curso: Ciências Contábeis
Disciplina: Comportamento Organizacional
- Mariana Castilho Pinheiro - 31600395
- Giovanni Loureiro - 31380417
- A Pólis: democratização.
Jean Pierre Vernant, em sua obra As Origens do Pensamento grego, logo no primeiro parágrafo do Capítulo IV, intitulado, O universo espiritual da Polis, assevera que:
O aparecimento da polis constitui, na história do pensamento grego, um acontecimento decisivo [...] marca um começo, uma verdadeira invenção; por ela, a vida social e as relações entre os homens tomam uma forma nova, cuja originalidade será plenamente sentida pelos gregos [...] O que implica o sistema da polis é primeiramente uma extraordinária preeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos do poder (VERNANT, 1992, p. 34)
É no advento das cidade-estado que, segundo o historiador helênico, a palavra ganha ressignificação. Ela vem a se tornar um instrumento político por excelência. A manifestação de todo o poder político – e de dominação – sobre os outros.
A preponderância da palavra na pólis é, assim, ao mesmo tempo, o poder da persuasão propriamente dita. A política passa a ser o palco daquele que melhor persuade, e a Ágora, lugar por excelência do exercício da linguagem. Dominar o jogo de linguagem, dominar a palavra, a persuasão, suas regras e sua eficácia, por meio do debate contraditório, do bom argumento, é, a rigor, a origem da democracia.
Por que a origem da democracia entre os gregos se dá, em certo sentido, principalmente fundamentada pela palavra? – ora, no advento da pólis, como ressalta Vernant, a palavra, ao ganhar novo significado – obviamente – perde o significado que detinha anteriormente, a saber, o de sacralidade.
A palavra não é mais o termo ritual [...] Todas as questões de interesse geral que o Soberano tinha por função regularizar e que definem o campo da arché são agora submetidas à arte oratória e deverão desenvolver-se na conclusão de um debate (Idem, p. 35)
A palavra antes era medida por seu valor religioso, destinada ao âmbito privado ao basileu e aos sacerdotes. Todavia, juntamente da gênese da cidade-estado, agora, supõe-se a presença de um público capaz de levar a efeito um debate, pelo qual a palavra, mudando sua configuração, passa a ser uma juíza que favorece, entre iguais, àquele que melhor argumenta – e não o soberano por nascimento apenas.
As assembleias, assim como as guerras, para a Antiguidade grega, foram comparadas como lutas de tribunal, buscando, pela faculdade daquele que é mais excelente, vencer seu oponente. Concursos de discussões eram comuns.
Outro ponto decisivo que incidiu sobre o modo de relação entre o homem e a linguagem, também no âmbito da polis, é a distinção entre um domínio público e um domínio privado da vida em comunidade. O que, segundo Vernant, encarregou-se de engendrar a exigência do cidadão grego àquilo que chamamos de publicidade.
Publicidade aqui concebida como práticas abertas, estabelecidas em plena luz do dia, contrapondo-se à qualquer processo secreto – algo que determina de sobremaneira uma solapa na religião dos mistérios grega (assunto que será brevemente abordado mais adiante).
A publicidade, assim que a palavra deixa de ser de “domínio privado” (unicamente de sacerdotes de basileus) e passa à pertencer a todos, o grupo tende, paulatinamente, a opor-se sobre qualquer conduta não divulgada. O privilégio exclusivo do basileu, ou do genos, detentores da arché, entra em colapso.
À isso podemos chamar de democratização; exemplificando: “a epopeia homérica é um primeiro exemplo desse processo: uma poesia de corte, cantada primeiramente nas salas dos palácios; depois sai deles, desenvolve-se e transpõe-se em poesia de desta” (Idem, ibidem)”.
Consequentemente, passo-a-passo à democratização da palavra, emerge, no seio da polis, na praça pública, a crítica, que se abre à totalidade da comunidade, motivando interpretações diversas, oposições e discussões. Não obstante, a discussão, o debate, torna-se uma prática intelectual – a do conhecedor de todas as coisas – e, assim, no cerne da disputa política, temos a gênese de uma arte: a arte da retórica.
No tocante à oralidade, por consequência, o possuidor do melhor espírito retórico exerce sobre a polis maior dominação política. Entretanto, é preciso a ressalva: tal dominação efetiva-se por meio da qualidade do orador, e não mais pela autoridade do monarca, submetido, agora, à “prestação de constas. Já que não impõem pela força de um prestígio pessoal ou religioso” (idem, p. 36), isto é, detém-se diante da totalidade da comunidade grega.
Consequentemente, a escrita passará, junto da retórica, a ser o centro da atividade grega. Ela passará a ser o ponto chave daquilo que chamamos de publicidade porque ela própria se tornará, “quase com o mesmo direito da língua falada, o bem comum de todos os cidadãos” (idem, Ibidem).
A formação do homem grego, dada pela expansão do uso e pela disseminação da palavra, alcançará a perspectiva de reinvindicação da escrita, agora, no tocante à redação das leis. Escrever as leis da cidade é primordial, pois, desse modo, assegura-se a permanência da equidade das leis aos cidadãos e sua permanência – não dependendo unicamente da oralidade de alguém, elas passam a ser fixas. A autoridade do basileu é reduzida, este que, antes, era o detentor do direito de “dizer” as leis.
A lei escrita é superior a todos os cidadãos, ainda que exprimindo uma normatização que será considerada sagrada, ainda assim, está sujeita a modificações.
- A figura do sábio.
Essas transformações supracitadas não foram empreendidas sem que houvesse qualquer tipo de resistência. Os antigos sacerdotes existiam como propriedades de certos genos e marcavam sua autoridade com um poder divino. A polis remove este privilégio desta classe e torna-os bens comuns, em proveito oficial da cidade. De todo. Não mais de uma ou outra pessoa apenas. Quem cultua os deuses, agora, cultua a cidade.
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