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UMA PERSPECTIVA PARA O DESENVOLVIMENTO

Por:   •  9/12/2017  •  Artigo  •  5.066 Palavras (21 Páginas)  •  270 Visualizações

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HIPERTEXTO: UMA PERSPECTIVA PARA O DESENVOLVIMENTO

DO PENSAMENTO COMPLEXO NA EDUCAÇÃO

César Augusto Ambrósio Telhado[1] 

RESUMO: Vivemos numa era de incertezas. O paradigma cartesiano nos legou uma visão fragmentada da realidade. A ciência evoluiu, mas trouxe também muitos problemas que provaram que um novo paradigma precisava ser criado, ou seja, uma nova forma de investigar a realidade. Neste cenário surge a teoria da complexidade como fundamento para as propostas de educação para o novo milênio, segundo a Unesco. Com o avanço tecnológico, surgiram as novas tecnologias da educação (TIC), trazendo em seu escopo uma forma especial de organização do conhecimento: o hipertexto. Além de transformar a organização do conhecimento humano, ele tem também, pelas suas características de multilinearidade, heterogeneidade, interatividade, interdisciplinaridade, intertextualidade, dialogicidade e  polifonia, o potencial de despertar o pensamento complexo. Este artigo apresenta as possibilidades que o hipertexto proporciona a uma prática educativa engajada e comprometida com essa nova maneira de pensar o mundo. Uma tese que defende o hipertexto não apenas como um aspecto do uso das tecnologias na educação, mas como uma alternativa frente ao ensino tradicional, aniquilante, hierarquizador, atomizador da realidade.

PALAVRAS-CHAVE: hipertexto, pensamento complexo, mundo virtual, educação e tecnologias.

1. Introdução

Vivemos numa época em que a verdade absoluta não existe mais. Os passos que a ciência e a filosofia deram levaram o homem a caminhar em direções nunca antes imaginadas. Isto, embora tenha trazido inúmeros avanços importantes para a sociedade, permitiu que chegássemos a um verdadeiro labirinto, em que o homem não pode prever o seu futuro (como antes se pensava). O paradigma cartesiano nos legou uma maneira errônea de estudar os fenômenos. Ao dividir para conhecer, a ciência cegou a humanidade, e esta não vê as relações que há entre a totalidade das coisas e suas partes constituintes.

Dessa forma, olhamos tudo de forma parcial, descontextualizado, isolado, sem vínculo com um todo. Nosso olhar é cego porque ignoramos a articulação que há entre a parte e a totalidade e vice-versa. Por isto, vários filósofos, sociólogos e cientistas em geral têm apresentado produções científicas em que demonstram preocupação com essa situação paradigmática. É a “era das incertezas” segundo Edgar Morin[2].

Neste contexto, torna-se mais forte a idéia de uma nova mentalidade científica para conhecimento do mundo e do homem. O mundo precisa ser olhado de outro ângulo, dizem os pensadores atuais. Os planejamentos escolares devem basear-se nesta nova concepção de ciência: o pensamento complexo. Este olhar, diferentemente do olhar tradicional, busca compreender a realidade como um entrelaçamento de pontos distantes e diferentes, com relações diversificadas, sem hierarquia, porém complementares e interdependentes.    

Paralelamente, com o surgimento das novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), surgem também as concepções de hipertexto. Trata-se de uma forma especial de produção e leitura textuais, em que não há a tradicional linearidade. O leitor começa e termina, passando por pontos diversos, conforme os seus interesses e propósitos. Isto foi grandemente facilitado pelo advento do computador e as grandes redes de comunicação virtual hoje existentes. Estas redes virtuais dão uma dimensão infinita ao espaço que o navegador utiliza. Também, não há uma relação de princípio, meio e fim, sobre um mesmo objeto de leitura, pois inúmeros pontos estão em potencial relação. O leitor é quem tece a sua rede, delineando seu caminhar. Acreditamos que esta flexibilidade de leitura do hipertexto permite ao usuário contemplar o mundo virtual em forma de teia, assim como o mundo real.

Neste artigo, pretendemos refletir sobre esta similaridade, sobre as possibilidades que o hipertexto propicia ao educador, na perspectiva do pensamento complexo. Como e em que medida as noções hipertextuais podem subsidiar uma pedagogia centrada nessa nova mentalidade científica, que é base para a educação do século XXI.  

2. Hipertexto: uma relação de similaridade entre o real e o virtual

O hipertexto é uma forma de texto em que o leitor tem a possibilidade de “desenhar” sua trajetória de leitura. Isto porque o texto assim constituído possui “pontes” que o conectam a outros textos, fazendo referências a outros assuntos, associando os conteúdos e até ampliando sua análise. Este emaranhado de atalhos forma uma rede multidimensional, em que o leitor pode transitar, livre e subjetivamente, para construir o seu texto interpretativo. Esta interessante forma de construção textual foi potencializada com o advento das novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), porque os avanços científicos nesta área trouxeram uma possibilidade quase infinita de uso do hipertexto.

Neste contexto, uma das áreas sociais mais influenciadas é a educação. A aprendizagem teve um novo enfoque a partir dessa inovadora forma de comunicação e informação por meio dos aparatos tecnológicos. Atualmente, os conhecimentos científicos da humanidade, acumulados desde a Antigüidade, podem ser acessados livremente pela Internet. Dessa forma, não haveria necessidade de professor e também de escola, pois os conhecimentos já estão prontos e disponíveis. Entretanto, há uma elementar carência de que a escola participe desta evolução, recriando suas metodologias, suas práticas, frente a esta realidade social.

Entre outras questões, há uma que se reveste de suma importância para o professor: a intermediação entre a criança e a máquina. Ou seja, a orientação ao aluno sobre como transformar a informação em conhecimento útil para a sua vida, haja vista o infinito leque de opções e informações que ele tem ao acessar os recursos tecnológicos multimidiáticos.

O hipertexto possui como características: a não-linearidade, a multilinearidade, a heterogeneidade, a interatividade, a intertextualidade, a interdisciplinaridade, a dialogicidade e a polifonia. Vamos descrever sucintamente cada uma dessas categorias.

A não-linearidade indica que o hipertexto possui várias seqüências e direções, ao contrário dos textos tradicionalmente elaborados, que têm predefinidos o começo, o meio e o fim. Esta categoria suscita uma outra, que é a multilinearidade. Assim, o hipertexto não somente é a-linear, como também permite múltiplas trajetórias de  leitura.

O hipertexto é heterogêneo, pois dispõe de imagens, sons, palavras, diversas sensações, modelos, e na comunicação as mensagens podem ser multimídias multimodais, analógicas, digitais, etc. Ou seja, não é somente letras que compõem o texto. Os recursos multimidiáticos modernos trabalham com vários equipamentos adicionais que dão suporte e possibilidades diversas de uso (scanner, impressora, câmera digital, dispositivos de áudio, videoconferência, etc.), tornando o texto potencialmente heterogêneo.

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