A Comunicação e Interações Sociais
Por: Júlia Antoniazzi • 11/10/2018 • Resenha • 1.048 Palavras (5 Páginas) • 290 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
JÚLIA ANTONIAZZI DE ALMEIDA SOARES
COMUNICAÇÃO E INTERAÇÕES SOCIAIS
PROFESSOR CAMILO AGGIO
BELO HORIZONTE
2017
Robert Park, baseado na perspectiva de Simmel e Tarde, desenvolve um estudo voltado para o cotidiano e para as interações, pensando na cidade e nas formas de integração. Segundo França e Simões (2016), Park, ao resgatar a noção de cidade como “berço da civilização”, associa essa ideia à mudança, ao progresso, à racionalização, propondo um lugar diferente para os relacionamentos e modos de vida. Assim,
antes, a cidade é um estado de espírito, um corpo de costumes e tradições e dos sentimentos e atitudes organizados, inerentes a esses costumes e transmitidos por essa tradição. Em outras palavras, a cidade não é meramente um mecanismo físico e uma construção artificial. Está envolvida nos processos vitais das pessoas que a compõem; é um produto da natureza, e particularmente da natureza humana. (Park, 1978, p. 26)
Nesse sentido, a cidade é um espaço de diversidade e mobilidade, sendo um mosaico de pequenos mundos, em que coexistem diferenças étnicas, culturais, religiosas, de interesses e outras. Segundo Park, “a cidade está enraizada nos hábitos e costumes das pessoas que a habitam” (Park, 178, p. 27). Assim, a cidade configura-se como espaços de interação pautado nas trocas culturais, no compartilhamento de símbolos e linguagens, nas características das pessoas que ali vivem. Muito mais do que uma definição física, material ou espacial, a cidade pode ser entendida como a intersecção, interação e ação de um conjunto de agrupamentos sociais, que Park chama de regiões morais. Essas regiões morais são espaços de convivência, não necessariamente físicos, que unem pessoas com afinidades, isto é, uma metáfora para entender grupos com afinidades construídas a partir de uma identidade cultural, social compartilhada para além de um ambiente concreto ou de uma materialidade definida. Nesse sentido, Janotti, a partir do estudo de grupos juvenis e mídias, complementa as regiões morais de Park com a ideia de Comunidades de Sentido, que são “agregações de indivíduos que partilham interesses comuns, vivenciam determinados valores, gostos e afetos, privilegiam determinadas práticas de consumo”. (Janotti, 2003, p. 4). No entanto, de forma complementar, Janotti aborda as formas de produção de sentido que leva à identificação e reconhecimento em um mesmo grupo identitário, como skatista ou punk. Ele vai além das ideias de Park ao abordar essas produções de sentido por meio de “processos midiáticos que se utilizam de referências globais da cultura atual” (Janotti,2003, p.4). Não só isso, mas Janotti também traz a ideia do consumo de bens culturais, retomando Canclini para entender consumo como processos culturais que se desenvolvem com base em produtos. Assim, enquanto Park coloca as regiões morais como segregações a partir de interesses, gostos e temperamentos, Janotti elucida “valores, gostos e afetos que ressaltam o ‘ideal comunitário’”(idem, p. 5), como símbolos agregadores. Apesar de Park ressaltar que as regiões morais transcendem as limitações geográficas, ele não enfatiza tanto essa ideia quanto Janotti, que traz a noção de desterritorialização como ponto de força e diferenciação da ideia de comunidade.
Para além da ideia de espaço geográfico, pode-se pensar que, tanto em Park quanto em Janotti, há a ideia de contato entre esses agrupamentos. Com uma lógica de pensamento que propõe uma visão comunicativa e interacional circular, Janotti complementa essa ideia de Park, abordando a ideia de circulação de sentidos, consumo de bens culturais que levam a retroalimentação dos estilos. Conforme ele,
as Comunidades de Sentido manifestam-se localmente através da reunião de indivíduos em Grupamentos Urbanos que operam a apropriação local dos objetos culturais veiculados mundialmente. Esse não é um caminho linear; ao fazer circular os sentidos, os indivíduos operam uma retroalimentação dos estilos que fundam a comunidade. Isso se dá não só através das desigualdades entre as condições de produção e de consumo dos produtos veiculados pelas Comunidades de Sentido, como também através das respostas locais que envolvem a produção de objetos culturais específicos, a partir de valores que permitem negociações localizadas entre sentidos mundializados e questões paroquiais. Assim, é possivel se falar na cena de drum´n´bass ou de heavy metal tanto em seus aspectos globais, como em suas apropriações específicas em Berlim, Salvador, João Pessoa ou Aracaju. (Janotti, 2003, p. 7).
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