A Relação Entre Pop Art e Moda
Por: Juliana Reis • 6/6/2021 • Ensaio • 1.677 Palavras (7 Páginas) • 238 Visualizações
Introdução:
Com o surgimento de um contexto ocidental estruturado no consumismo e na mudança de hábitos socioculturais, a sociedade se tornou incontrolavelmente padronizada e massificada com base nos preceitos capitalistas. Diante dessa situação, a arte buscou uma forma de se adaptar a tal lógica dando início ao movimento artístico da Pop Art que serviu de forte influência para o ramo da Moda, tendo em vista sua busca por simbolismos e valores, já que os trajes são formas de expressão e suportes para a criação.
Resumo:
As questões relacionadas a busca da moda em lançar tendências com base na criatividade e na inovação fez com que essa recorresse a elementos simbólicos muitas vezes representados pela arte. Somado a isso, a necessidade de o indivíduo contemporâneo afirmar sua subjetividade e sua singularidade em uma sociedade padronizada através da aparência torna essa união de oferta e demanda favorável. Assim, a associação da Pop Art, movimento artístico inserido na cultura de massa regido pela dinâmica capitalista, e moda foi utilizada por inúmeros estilistas de grande importância a fim de suprir os desejos sociais. Com isso, essa relação se consolidou pela ação de recorrer a cores intensas, desenhos simples, uso de personagens e celebridades na elaboração das estampas de sapatos, bolsas e roupas, características que definiam a Arte popular e que contemplavam o gosto da massa. Não somente, tem-se que a influência da Art pop na moda se reflete até hoje evidenciando a relativização da efemeridade quando essa está interligada a simbolismos.
Objeto:
A presente atividade acadêmica terá como objeto de estudo a relação entre moda e Pop Art dentro do contexto tecnologicamente fértil do pós segunda guerra mundial. Além disso, também será referenciado o uso pela moda desse movimento artístico de grande importância dada a necessidade dos grandes estilistas em atender as demandas e os desejos da sociedade industrial. A partir disso, tais análises servirão de apoio para compreender essa união, o poder de influência da última sob a primeira e o papel dos elementos simbólicos na moda como propulsor de permanências.
Desenvolvimento:
A perspectiva inicial que envolve a moda está representada na premissa da inovação e da criatividade, fatores que propiciam o lançamento de uma tendência aderida e aceita por uma parcela da sociedade. Diante disso, a busca de grandes estilistas em manterem suas grifes em evidência fez com que em suas composições e confecções recorressem a elementos simbólicos muitas vezes relacionados a arte. Tal fenômeno pode ser exemplificado com as referências cubistas de Chanel e posteriormente com o uso de peças de metal nas composições estilísticas de Paco Rabanne remetendo a vanguarda futurista, coleções requisitadas pelo mundo todo. Isso se deu pela necessidade do indivíduo em expressar sua subjetividade e temporalidade através da aparência demarcando sua identidade ou ocultando-a, ou seja,
a aparência corporal diz respeito a todas as características da superfície do corpo, incluindo modos de vestir e de se enfeitar, que são visíveis pelo indivíduo e pelos outros, e que são normalmente usados como pistas para interpretar as ações. (GIDDENS, 2002, p. 95)
Em consonância, durante a década de 1960 a ascensão do movimento artístico da Pop Art levou a criação de um forte influenciador simbólico em termos socioculturais, assim como ocorreu com as vanguardas europeias, isto é, se desdobrando no design, na arquitetura e principalmente na moda. Essa nova sensibilidade artística surgiu em 1930 no Reino Unido e nos Estados Unidos se consagrando apenas anos depois tendo em vista as mudanças econômicas, culturais e sociais do pós guerra, como o aumento do consumismo e da proliferação das técnicas persuasivas publicitárias. Assim,
é nesse turbilhão de acontecimentos e criatividade que um novo conceito de arte se processa. É talvez na transição do modernismo para o pós-modernismo que duas correntes artísticas se formam: a Pop e a Op Art. (SAUTCHUCK, 2006).
Tais fatores definem a chamada cultura popular, campo de expressão da Pop Art, movida por interesses econômicos homogeneizando e oprimindo outras culturas locais e anteriores devido a massificação dos comportamentos e dos desejos pela contribuição dos meios de comunicação.
Mais especificamente, os artistas buscaram aproximar a arte da cultura de massa através da criação de uma estética e expressar uma crítica ao consumismo e ao materialismo da sociedade contemporânea. Tal fazer artístico se deu pela busca dos artistas em decifrar os símbolos presentes nas embalagens, rótulos e propagandas comerciais do período, transformando aquilo que era dito vulgar em algo refinado. Ainda, ela se caracteriza pelo uso na linha criativa de cores intensas, saturadas e desenhos simples recorrendo ao gosto popular e indo de encontro a antiarte dos dadaístas iniciada por Marcel Duchamp com o Ready-made. Não somente, ela se estruturou no uso intenso de embalagens de produtos industrializados, na recorrência às técnicas de colagem, na exploração de personagens de desenhos em quadrinho e imagens de celebridades.
Como suporte, os artistas do movimento da Pop Art recorreram àqueles que mais se adequavam a nova realidade capitalista e publicitária, investindo em revistas, outdoors, televisão e em objetos cotidianos, como latinhas de alumínio, a fim de se adaptar as novas perspectivas da contemporaneidade e combater a chamada crise da arte. Além desses meios de propagação, a cultura pop utilizou o ramo da moda como tela de expressão após sua passagem pelo meio artístico, com Andy Warhol, artista pioneiro que conseguiu decifrar os desejos da cultura de massa e espelhá-los nas vestimentas através da inserção de estampas com rótulos e anúncios de produtos como as sopas Campbell‘s.
A partir disso, Yves Saint Laurent, estilista francês, lançou o vestido Mondrian na coleção outono/inverno demonstrando a possibilidade da união favorável entre moda e arte, especialmente a Pop Art. Contudo, Saint Laurent não foi o único a realizar essa união, Gianni Versace imprimindo ineditamente gravuras de Marilyn Monroe e outros grandes estilistas de grifes como Christian Dior, Jean-Charles de Castelbajac. Esses grandes nomes no ramo da moda, sobretudo donos de grifes indicam que a cultura pop não faz referência às classes mais baixas e sim a uma sociedade como um todo industrial.
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