A invenção da prensa
Por: jiullia • 10/5/2017 • Resenha • 1.116 Palavras (5 Páginas) • 1.136 Visualizações
História Social da Mídia
Professor Delfim Afonso
Resumo de Texto: A revolução da prensa gráfica em seu contexto
Jiullia Márcia da Silva
BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Uma História Social da Mídia: De Gutemberg à Internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006. Págs. 24-79.
O desenvolvimento da prensa gráfica por Johann Gutenberg de Mainz, na metade do século XV, é considerado grande marco para a história da imprensa no mundo. As inovações trazidas por tal invenção foram determinantes para a história da comunicação, mesmo que seja válido o pensamento de que a prensa, em si, serviu muito mais como um acelerador das mudanças sociais modernas do que como um agente dessas transformações. Com sua criação mudaram desde a estrutura das cidades até o modo como a sociedade lidava com a informação; em cinqüenta anos, já existiam mais de 250 gráficas espalhadas pela Europa, cuja produção de livros se apresentou como um contraste ao quadro que perseverava por toda a Idade Média. Durante um milênio, havia escassez de informação; em cem anos, tinham-se muito mais livros do que um único homem poderia ler durante toda a sua vida. O aumento da produção livreira representou a possibilidade de padronizar e preservar o conhecimento e a memória ao mesmo tempo em que, com a diversidade das publicações, apresentou-se também a pluralidade de visões divergentes sobre um mesmo assunto, o que abriu possibilidades para o desenvolvimento do senso de ceticismo e crítica. Apesar disso, a prensa trazia ameaças a alguns grupos: os escribas, que perderiam seu poderio frente ao invento tecnológico, e o clero, que veria os textos canônicos do Cristianismo interpretados pelo próprio povo, o que colocaria seu domínio em cheque.
Apesar de sua grande contribuição para o mundo em crescimento na época, a prensa de Gutenberg e sua criação não deveriam ser vistas como um momento de ruptura. Isso seria aumentar a função do meio em si, minimizando a ação dos escritores e impressores que usaram essa tecnologia para diferentes finalidades; bem como seria insinuar que os meios de comunicação suplantam uns aos outros, o que não é verdade.
A comunicação física, com o desenvolvimento do sistema postal e surgimento da idéia de correio, manteve-se forte até a metade do século XIX, com a popularização do telefone e o surgimento da internet. A comunicação oral, muito valorizada na Grécia antiga e destacada na Idade Média pela idéia do púlpito como meio de comunicação de massa, continuou a expandir sua influência mesmo com o início da idade moderna. O ensino nas universidades era oral; os boatos serviam como uma forma de serviço postal e foram força motriz de diferentes acontecimentos sociais importantes; a criação de rumores era usada como maneira de influenciar o mercado, causando aumento e diminuição de preços; as tabernas e os cafés, como centros de comunicação oral, reuniam intelectuais importantes e se mostravam como ambientes de discussão e criação cultural. Por sua vez, a comunicação escrita, que na Idade Média parecia restrita aos mosteiros, ganhou também um novo contexto na Europa moderna: houve um esforço para o ensinamento da leitura e da escrita, separadamente, entre os séculos XVII e XVII, o que causou um aumento de profissões ligadas à esta, como pessoas contratadas por iletrados para escreverem cartas, e também trouxe resultados políticos, como o surgimento da “sociedade da informação”, de administrações públicas mais burocráticas e impessoais, e também de mecanismos para se fazer ouvir as vontades das pessoas comuns, como, por exemplo, a assinatura de petições. Já a comunicação visual, cuja interpretação dos gestos era importante para a retórica e cujo emprego foi um importante modo de educar a população durante a Idade Média, ganhou mais força com o surgimento da imagem impressa. Fortaleceu-se a produção de mapas impressos, que estimularam o senso de consciência global.
Todos esses meios interagem entre si para gerar novas formas de comunicação. Um exemplo é a comunicação multimídia – que, durante os primeiros séculos da Idade Moderna, foi conhecida através de rituais, espetáculos, teatro, balé, ópera, entre outras –¸ mas ela com certeza não é a única. A existência desses meio-lugares entre diferentes meios de comunicação é a prova de que, quando uma nova tecnologia surge, a tendência não é haver um desaparecimento de todas as tecnologias anteriores; na verdade, o que se observa é que ambos, o velho e novo, coexistem e competem entre si até que se estabeleça alguma divisão de trabalho ou função. O caráter da interação entre os meios é muito mais de ganho que de substituição. E da mesma forma que a mídia impressa não substituiu a oral, a existência da prensa gráfica não apagou o registro manuscrito. Ambas conviveram simultaneamente por séculos, interagindo e influenciando-se uma à outra; era muito comum marcas da oralidade na escrita, sentenças que eram pensadas para ser lidas em voz alta, muito mais palatáveis aos ouvidos do que aos olhos. Entre o manuscrito e a impressão, nota-se que ambos ganharam força em contextos distintos.
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