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Gordofobia e Mídias Digitais

Por:   •  10/4/2021  •  Artigo  •  3.691 Palavras (15 Páginas)  •  164 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIENCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Redes Sociais e Gordofobia: representações e influências de mulheres gordas

Davi Rocha Correa[1] e Iris Lorena Marques da Silva Costa[2]

Resumo: Considerando a problemática que a gordofobia representa, neste artigo, aborda-se a questão dos impactos desse tipo de discriminação no Instagram, e o surgimento de perfis que resistem e propagam um conteúdo que vai à contramão da maior parte dos conteúdos relacionados à beleza do corpo e suas influências nas relações sociais, online e offline. Para entender como se chegou até aqui, portanto, é importante conhecer o contexto histórico que permeia a sociedade nos assuntos que tratam da beleza, e conhecer também a atuação do Instagram e os impactos gerados nas relações sociais por meio dos atores que ocupam essa plataforma.

Palavras-chave: Corpo Gordo; Redes sociais; Gordofobia; Marketing.

Abstract: Considering the problematic that fatophobia represents, in this article, the issue of the impacts of this type of discrimination on Instagram is addressed, and the emergence of profiles that resist and propagate content that goes against most of the content related to the beauty of the body and its influences on social relationships, online and offline. To understand how it got here, therefore, it is important to know the historical context that permeates society in matters dealing with beauty, and also to know the role of Instagram and the impacts generated on social relations through the actors who occupy this platform.

Keywords: Fat Body; Social media; fatophobia; Marketing.

Introdução:

Adele, Fabiana Karla, Preta Gil e Cacau Protásio, o que há em comum entre essas mulheres além da carreira artística? Todas já sofreram algum tipo de ataque relacionado ao peso e ao corpo, a marcante gordofobia. A aversão a pessoas gordas e com sobrepeso as faz se sentir inferiores às outras, desencadeando traumas ou até mesmo levando-as à morte. Um levantamento realizado entre 2006 e 2018, segundo dados da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), mostrou que o Brasil é um dos países com as taxas de obesos e sobrepesos mais elevadas, atrás somente dos Estados Unidos, China e Rússia.

Em 2020, após ficar meses fora dos holofotes, a cantora Adele ressurgiu nas redes sociais, mas o que chamou a atenção das pessoas não foi o fato do ressurgimento e sim a quantidade de quilos perdidos, cerca de 45 kg a menos. Diversos comentários se levantaram, entretanto, os fãs da artista ficaram incomodados com a ocorrência da aparência ter sido de maior impacto na sua carreira, deixando de lado os troféus e premiações. No twitter um rapaz disse “Mais uma vez, emagrecer acaba sendo mais importante do que um acontecimento celebrativo. O ponto aqui é entender que o emagrecimento acaba tendo mais prestígio do que qualquer outro acontecimento.”.

Acontecimentos como esses são tão comuns que estão enraizados na história da televisão, programas como Chacrinha, Silvio Santos e Domingão do Faustão esculpem a mulher ideal para os programas de auditório. Por quê nos palcos seria diferente? Após o advento das redes sociais, perguntas como essas puderam ser trabalhadas e, mulheres e homens com corpos reais se sentem cada vez mais representados. Os dígitos das balanças estão deixando de ditar as regras. O feminismo tem discutido essas questões por décadas e, de alguma forma, apresentou uma agenda de que a beleza das mulheres deveria ser protegida em sua singularidade e principalmente nas redes sociais.

Desde a Grécia antiga, o tema de refletir sobre a beleza e o julgamento das coisas belas ainda existe na filosofia hoje. Entre outras questões, alguns filósofos também perguntam: De acordo com as diferentes culturas e épocas, a beleza é universal ou relativa? O que a beleza significa para a sociedade e as pessoas que nela vivem? Como ainda somos muito jovens, seja qual for o preço, a aparência da boneca Barbie e o "padrão selvagem", somos obrigados a competir por ela, o que motiva as meninas a modelar seus corpos e estilos desde muito jovens.

1-Um breve passeio pela história da beleza

A beleza ganha em cada época, forma, tamanho, cor e significado. Viajando ao passado, começando pela pré-história, tem-se a figura da Vênus Paleolítica, uma estátua de uma moça de seios fartos, quadris largos e pernas curtas que, segundo arqueólogos, era uma deusa que representava a fertilidade e seria o retrato do modelo de beleza mais valorizado na época ou tido como o mais ideal. Ao sair da idade da pedra e chegar à antiguidade clássica, tem-se o surgimento das primeiras academias e pela primeira vez uma há certa padronização de beleza, que visava um corpo mais harmonioso e com medidas mais proporcionais. Em Roma, surge também a grande valorização de um corpo são e uma mente igualmente sã, baseada no pensamento do poeta romano Juvenal[3], essa valorização já revisitou uma concepção de que o padrão de beleza está ligado a uma vida saudável.

Chegando à Idade Média, essa valorização do corpo é perdida, e toda a manifestação ou vaidade com o mesmo é tida como pecaminosa. Na época, o que era realmente considerado belo, era aquilo que refletia o divino, conjunto às virtudes morais. E por essas questões morais, visando evitar a tentação do próximo, as vestimentas eram longas escondendo a maior parte do corpo. Essa concepção era originada de valores religiosos; assim como todos os outros âmbitos da sociedade naquele período, a igreja ditou, inclusive, o que era e não era belo.

Com a chegada do Renascimento, o resgate aos padrões da antiguidade teve sua vez. Até então tinha-se a imagem da virgem Maria, expondo toda sua santidade como exemplo de beleza, no entanto, essa “imaculada” representação perde lugar para deusas, ninfas, semi deuses, anjos e personagens bíblicos totalmente nus, exibindo corpos atléticos, no caso dos homens, e no caso das mulheres: cabelos longos, seios fartos, quadris e cintura bem roliços. Essa concepção de beleza durou até meados do século XVII e XIX e é no final dessa era que o sex-appeal ganha espaço. Esse termo, traduzido do Inglês, significa “apelo sexual”. A expressão traz consigo o poder da atração através do charme, não sendo apenas bonita fisicamente, mas o bonito por completo despertaria também o desejo sexual na forma de andar, falar e até de gesticular.

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