Resenha: Piratas e “Nas terras do bem-virá”
Por: Letícia Müller • 6/12/2019 • Resenha • 1.429 Palavras (6 Páginas) • 268 Visualizações
Resenha: Piratas dir.: Juan Falque e “Nas terras do bem-virá” dir.: Alexandre Ripazzo
Os conflitos por território, riquezas e poder são problemas que sempre esteviveram presentes na nossa sociedade e que ainda podem ser vistos em diversos lugares do Brasil e do mundo. Além disso, a miséria e a fome são também dificuldades enfrentadas por governos e pela ONU e que estão diretamente ligadas a esses conflitos políticos e sociais. Os documentários “Piratas” e “Nas Terras do Bem-Virá” nos mostram a realidade de duas comunidades carentes que lutam por uma vida mais digna: os peões nordestinos e os piratas somalianos. É importante ressaltar que os dois filmes nos trazem bastante pontos em comum como a migração, o desamparo, a fome, o trabalho e/ou a falta dele, nos fazem refletir e questionar sobre as forças governamentais bem como a discrepância de classes, o abuso e a falta de consciência entre elas.
A Somália é um país que desde 1991 sofre dificuldades políticas e sociais. É um país africano, que apesar de nunca ter sido colonizado formalmente, teve a região dominada por forças britânicas e italianas durante o século XIX e XX. A sua independência diante dos poderosos europeus veio em 1960, porém a democracia durou apenas 9 anos. Em 1969, através de um golpe de estado e com o auxílio do governo americano, Mohammed Siad Barre tomou o poder até 1991. O país ocupa uma posição fundamental para as rotas de transporte marítimo, e por isso tornou-se alvo de grandes disputas entre potências estrangeiras. A turbulenta saída do então ditador gerou guerra e destruição, acarretando na disputa entre facções locais com o objetivo de controlar o país. As consequências de tais acontecimentos devastaram o povo Somali. A fome, seca, violência e a anarquia assolaram a população, transformando a Somália no país mais perigoso do mundo.
Em meio ao caos instaurado no país, inúmeros navios destinados à pesca ilegal iniciaram uma descontrolada atividade nas águas da Somália. Provenientes dos Estados Unidos, Ásia e União europeia, os pescadores praticam a pesca IUU (Pesca Ilegal Não declarada e não regulada) e acabam não somente deteriorando o ecossistema, mas também empobrecendo e tirando o sustento da população de um país extremamente carente.
A comunidade Somali clamou por socorro, recorrendo a ONU e outras organizações. Entretanto suas vozes não foram ouvidas e o sofrimento se estendeu. Novos barcos começaram a permear a costa e despejar barris não identificados nas águas do mar. O conteúdo desses barris era mistério até o tsunami de 2004. Com a força marítima, os barris chegaram até a praia e se romperam, liberando substâncias tóxicas que culminaram em infecções respiratórias, hemorragias e centenas de mortes. A Somália estava sendo utilizada como depósito de objetos perigosos desde os anos 90. O conteúdo desses barris eram provenientes de resíduos radioativos, lixo hospitalar e até mesmo lixo nuclear. As nações unidas constataram o desastre, mas nenhuma providência foi tomada e ninguém foi condenado.
Diante dessa situação desesperadora, pescadores se juntaram em pequenos grupos na tentativa de conter esses navios. A partir desse contexto surgiram os “Piratas da Somália”. Esses indivíduos se auto intitularam “Guarda-Costas voluntários da Somália” e contavam com o apoio de 70% da população. O documentário abre espaço para que um dos pescadores locais explique seus objetivos: “Parar a pesca ilegal e as descargas nas nossas águas. Não nos consideramos bandidos do mar. Consideramos que os bandidos do mar são os que pescam ilegalmente e despejam lixo”.
Com a crescente força dos grupos armados, a captura dos barcos e a exigência de um resgate era um novo negócio lucrativo. A ameaça à antiga atividade das Grandes Potências fez com que a ONU tomasse providências. O pedido de ajuda da população Somali havia sido silenciado. Aos olhos do mundo, os demais países que eram dignos de receber apoio.
Por fim, o documentário apresenta a total exploração de suas reservas como motivação para que os invasores procurassem outras águas e relembra a definição apresentada no início, fazendo o espectador questionar sobre quem eram os verdadeiros “piratas”. É importante ressaltar o papel da mídia e da comunicação, que é essencial na conscientização e na delação de situações como essa, uma vez que a ONU, mesmo reiterada do assunto, não toma providências para melhorar a condição da República Federal da Somália.
O documentário “Nas Terras do Bem-Virá”, por sua vez, revela a situação de peões nordestinos que saem de suas cidades e largam suas famílias em busca de trabalho na Amazônia. A região nordestina, apesar de ser uma região rica em belezas naturais, é conhecida, principalmente, pela fome, miséria e secas ao longo do ano - que leva as pessoas a migrarem para diversos locais em busca de um jeito mais digno de se viver. Como é mostrado no filme, o nordeste é uma terra sem lei onde o poder financeiro e o prestígio social está nas mãos de grandes fazendeiros e a escravidão é o que resta para os demais cidadãos. Piauí e Maranhão são os estados recordistas nesse aliciamento de trabalhadores em regime de escravidão, existindo localidades em que 80% da população acaba migrando atrás de trabalho.
Ao contrário do prometido, as condições de trabalho são precárias e infringem os Direitos Humanos. Alguns relatam até mesmo o uso da água em
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