Resenha - Storytelling: as narrativas da memória na estratégia da comunicação
Por: Sandi Aurélio • 5/5/2018 • Resenha • 4.202 Palavras (17 Páginas) • 565 Visualizações
Nome: Sandi de Oliveira Aurélio
N° USP: 9801142
Resenha do livro “Storytelling: as narrativas da memória na estratégia da comunicação”
Storytelling: uma nova lógica comunicacional
O livro “Storytelling: as narrativas da memória na estratégia da comunicação” de autoria de Rodrigo Cogo, publicado pela Aberje editorial, traz reflexões muito interessantes sobre a situação em que vivemos hoje e o contexto no qual as estratégias comunicacionais encontram dilemas onde suas técnicas e abordagens já não se mostram suficientes para considerar alguma mudança ou superar o problema.
O texto se trata de um produto de uma dissertação de mestrado do autor onde todo o livro parece remeter ao seu conceito principal, o storytelling ou contação de histórias. O próprio prefácio conduzido por seu orientador na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, Paulo Nassar, se inicia como o início de um conto com contextualizações próximas ao leitor, uma linguagem acessível e até mesmo a evidenciação sucinta do problema o qual o livro se dedica à embater, a crise da comunicação e sua narrativa mecânica.
Na apresentação que se segue, escrito pela professora Drª Suzana Lopes Salgado Ribeiro, adentramos à questão do “contar uma história”. Para ela esse comportamento acompanha a espécie humana desde o seu surgimento, além de ser algo que apresenta como uma forma de nos conectar com nossas raízes e reforçar argumentos. No entanto, ao pensar sobre esse assunto em um âmbito da comunicação empresarial, por exemplo, Ribeiro nos provoca com a seguinte questão “por que empresas devem contar histórias?” e apresenta o conteúdo de Rodrigo Cogo como a resposta.
Já nesta apresentação podemos coletar alguns pontos importantes sobre storytelling que são debatidos pelo autor ao longo de sua obra. Temos, nessa parte do livro, citações de relações entre a história oral e o storytelling “enquanto produções narrativas baseadas em experiências” (COGO, 2016, p.16) que produzem ou possibilitam a produção de conhecimento; a participação de memórias, pessoas e rituais. Contudo, nos deparamos com uma diferenciação entre história oral, como aquela que se preocupa com a memória debatendo sua ficcionalidade, e o storytelling como um diálogo abrangente e criativo, não necessariamente ficcional, mas capaz de ativar memórias coletivas. Tais diferenciações são importantes em capítulos posteriores do livro, especialmente no momento em que o autor postula como embasamento ao storytelling a “Tecnologia Social da Memória” e sua contribuição à comunicação organizacional.
Um fato que diferencia esse livro dos demais livros acadêmicos que usualmente utilizamos na universidade é a introdução do autor, que de certa forma reforça o argumento de que esse livro não se trata apenas de um objeto, mas um conceito. Na introdução o autor cita uma lacuna entre as intenções dos profissionais em comunicação e a “efetiva atração, retenção e transformação” (COGO, 2016, p.21) em seu público de interesse, apresenta aqui uma distinção entre a informação e a efetiva comunicação de algo em um relacionamento. Propõe explorar a narrativa do storytelling e auxiliar na estruturação narrativa do mesmo como um suporte ao problema “informar vs. comunicar”. Contudo, além da introdução a qual estamos familiarizados, com a apresentação dos focos de cada capítulo e a contextualização do assunto do livro em si, o autor se apresenta de forma totalmente coerente com a proposta do livro até aqui. No tópico “falando tudo de novo, de outra forma” o autor conta um pouco de sua história, problemas, dilemas além de sua relação pessoal com o tema. Cogo consegue apresentar o livro como um resultado de suas vivências e toda essa exposição favorece a identificação do leitor - principalmente se o leitor for um estudante de comunicação - com o tema e o próprio autor.
Capítulo 1: A confiança na comunicação sob impacto do multiprotagonismo
Ao adentrar no conteúdo do livro começa-se uma grande contextualização acerca do tema. Seu início se trata uma análise do atual contexto da sociedade que é comparado com o uso de antigos modelos comunicacionais. Além disso se discute características valorizadas em comunicações atuais como a confiança e o respeito à diversidade de vozes e ações.
Pela intensa globalização e rapidez comunicacional provocada por tecnologias como a internet, nossa sociedade se apresenta como algo metamórfico que se transforma continuamente, afetando também conceitos antes considerados como “certos” - imutáveis -, como o conceito de distância, tempo e relacionamentos. O meio de comunicação de séculos passados que via seu público como passivo se considerava a única forma de obtenção de informações hoje se esbarra em um momento em que as pessoas “são protagonistas de novas interações mediadas ou incitadas pela tecnologia” (COGO, 2016, p.31).
Apesar de vermos um público protagonista de suas relações, temos uma espécie de paradoxo, pois em nosso contexto pós-modernos estamos isolados - seja geograficamente ou não - e ao mesmo tempo em conjunto no mundo digital. Todo esse contexto desfavorece uma comunicação tradicional e passa a exigir uma “nova forma de comunicação socializada” (COGO, p.31), algo que Manuel Castells - de acordo com o texto - chamou de “auto comunicação massiva”, onde as pessoas conectadas em rede convivem em certa convergência com a diversidade e incentivo ao protagonismo.
Adentrando a discussão de rede, Cogo cita Pierre Lévy com a conceituação de que o “Ciberespaço” oferece um sistema comunicacional “de todos para todos”, o que provoca a construção de sociedades - ainda que em nível digital - cooperativas orientadas por uma inteligência coletiva baseada no enriquecimento mútuo das pessoas (2016, p.32,). Diante desse cenário, com públicos que em suas relações com diversas opiniões passam a apresentar uma maior criticidade e capacidade comunicativa, a comunicação organizacional não sai ilesa. Suas ações, segundo Cogo, passam a necessitar da legitimação de um grande número de protagonistas.
Nesse ambiente o multiprotagonismo ganha espaço e é explicado aqui como um sistema de organização social que não aceita mais uma centralidade, onde cresce a importância dada à comunicação e ao relacionamento como fatores para obtenção de confiança e legitimação. Atenção que se dá ao relacionamento envolve, além do público externo, o público interno, que também passa a exigir gestões participativas e dialógicas. Isso pode ser visto em diversas iniciativas de grandes empresas de pesquisa de satisfação interna e seu ranqueamento no site Love Mondays.
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