Um Ensaio sobre o Islamismo
Por: Jacinto de Thormes • 31/5/2016 • Resenha • 986 Palavras (4 Páginas) • 432 Visualizações
Resenha
BALTA, Paul. Islã. Porto Alegre, RS: L&PM, 2010.
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Em sua obra “O Islã”, o egípcio Paul Balta, especialista em assuntos do mundo árabe e muçulmano, propõe-se, através da análise de vinte idéias preconcebidas existentes no imaginário ocidental e mesmo no muçulmano, a demonstrar que o Islã não é um todo monolítico, imutável e intolerante. Essa concepção ganhou mais força por conta principalmente dos atentados de 11 de setembro de 2001, contra Nova York, e o Islã passou então a ser incondicionalmente associado ao terrorismo, ao fundamentalismo e ao fanatismo religioso. Mas, de fato, desde a Idade Média o Islã tem assustado os povos ocidentais, a começar pela invasão da península ibérica pelos mouros, que deixou marcas indeléveis na memória coletiva nativa, apesar do legado cultural positivo transmitido por eles. Mas foi a partir da Revolução Iraniana, em 1979, que o Islã adquiriu essa aura de vocação para ao terrorismo.
Quanto aos preconceitos, Balta os dividiu em três capítulos: História e Civilização, Religião e Sociedade e O Islã e o Mundo Moderno. Para cada um deles, formulados como indagações, ele traça um histórico evolutivo e comparativo com outras situações e nesse quesito é bastante didático e esclarecedor.
No primeiro capítulo, História e Civilização, Balta tem a dura tarefa de tentar desmentir os preconceitos mais usuais que pesam contra o Islamismo. Ao narrar o aparecimento e trajetória de Maomé, no tópico onde se questiona sua legitimidade como profeta, Balta o descreve como alguém que se inscreve na tradição de seus antecessores, anunciando o fim dos tempos ou o reino de Deus, todos tendo o ambiente arenoso do deserto como palco da anunciação e encontro com o Senhor, cenário predileto do Criador para trazer a revelação aos profetas errantes. Está, portanto, no mesmo nível de credibilidade dos outros, mesmo porque a própria Igreja Católica, no Concilio Vaticano II, reconheceu o caráter profético de Maomé.
Aos questionamentos de imposição da sua fé pela força e intolerância para com outras religiões, nos é demonstrado que, mais do que o poderio militar dos conquistadores islâmicos, foram a desorganização estrutural dos territórios e a fragilidade espiritual e confusão teológica reinantes no Ocidente cristão que propiciaram o estabelecimento dos invasores e a disseminação da sua crença, tendo ela convivido em termos relativamente pacíficos com outros credos, graças ao estatuto da dhimma, ou pacto de proteção, pelo qual era permitida, com restrições, a prática dos costumes de outras religiões, nos territórios ocupados. Mesmo assim, era uma situação mais amena do que aquela enfrentada por judeus e muçulmanos em territórios majoritariamente cristãos.
Se a contribuição arabe-muçulmana para o progresso cientifico pode ser demonstrada, pela enumeração de feitos atribuídos a estudiosos árabes, constata-se que existe sim um permanente estado de guerra entre o Islamismo e o Ocidente, bastando ver o extenso rol de conflitos que o autor nos apresenta, sem entrarmos em considerações sobre a culpabilidade de cada um dos lados, ainda que, para alguns, as investidas contra o Ocidente não são mais do que reações às freqüentes intervenções na política do Oriente, principalmente por parte dos Estados Unidos, ora privilegiando Israel quanto à restituição de territórios ocupados, ora apoiando Khomeini ou Sadam Hussein, o que tem causado freqüentes desestabilizações regionais.
Não foi possível também para Balta confirmar que o Islã é a melhor de todas as religiões. Os praticantes de qualquer religião crêem que a sua é a melhor de todas, e os muçulmanos não fogem à essa regra. Mas justificam isso pelo fato do islamismo ser uma religião una, não fragmentada como o judaísmo e o cristianismo. Na verdade, desde a morte de Maomé os muçulmanos já se deparavam com diversos cismas e disputas pela sucessão do profeta, que redundaram em conflitos e surgimentos de variações do islamismo ainda hoje existentes.
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