A Amizade em Harry Potter
Por: Dan Alves • 10/4/2019 • Resenha • 2.733 Palavras (11 Páginas) • 308 Visualizações
Para os que já leram a série de livros de Harry Potter não é novidade encontrar dentro de seu enredo problemas sociais, questões de preconceito e problemas étnicos. Pois ele gira em torno das disputas por poder, status social, igualdade dos bruxos, a tolerância e a liberdade. Permitindo-nos identificar vários tipos de questões filosóficas envolvidas nas suas entrelinhas, e trabalhar temas específicos, como: a) amizade, b) feminismo e c) moralidade, e através destes, relacionarmos as determinadas premissas de filósofos a respeito de cada tema, e compararmos informações, de forma hipotética com uma nova visão em torno dos sete volumes desta obra.
O conceito de amizade é amplo até mesmo em sua definição nos dicionários, pois envolve amor, ódio, benevolência, interesse/favor, um acordo, etc. Ela é tida como algo necessário para nós seres humano, pois mesmo que tivéssemos saúde, dinheiro e virtude, nunca conseguiríamos alcançar nossa plena humanidade sem a amizade. “Mesmo que possuamos diversos bens materiais, saúde, poder, ainda assim, não será suficiente para nossa realização plena, pois nos falta o essencial e o indispensável, a amizade”. (ARISTÓTELES, 1973). Sendo-a responsável por uma boa sociabilidade, uma vez que a estrutura do ser humano não é a razão e sim o afeto, assim como afirma Leonard Boff (2017), em seu texto ‘A religião como fonte de utopias salvadoras’. Em Sentenças principais, Epicuro, o filósofo da amizade, diz que “de todos os bens que a sabedoria pode nos oferecer para a felicidade da vida, a maior é a amizade”, sendo a amizade neste caso um fio condutor que nos dá acesso a felicidade. A amizade então foi classificada, segundo Aristóteles (1973), em três categorias; A amizade segundo o prazer; a amizade segundo a utilidade; e a amizade segundo a virtude. Sendo as duas primeiras consideradas amizades acidentais por se tratarem de amizades que buscam um fim especifico, e a última uma amizade duradoura e ideal, sendo a mesma firmada perante as virtudes. Tornando os dois primeiros tipos de amizades acidentais por perderem o encanto proporcionado pelo prazer ou pela utilidade, cessando a mesma. Nas obras de Harry Potter, notamos a presença de cada uma dessas três categorias.
A amizade segundo o prazer foi conceituada como aqueles que amam por causa do prazer: “não é por causa do caráter que os homens amam as pessoas espirituosas, mas porque as consideram agradáveis” (ARISTÓTELES, 1973). Que faz uma semelhança com o personagem Draco Malfoy e sua turma de amigos. Ele possui um status na sociedade, por pertencer a uma família famosa, que possui muito dinheiro e que vem de uma linhagem de puros-sangues, ou seja, pessoas que nascem de bruxos. Essa relação que ele tem com seus ‘amigos’ é observada como uma relação onde há submissão, pelo modo como eles se relacionam e pelos atos que praticam, deixando assim evidente para quem ler a obra, esse resquício de prazer nessa relação, pelo fato de compartilharem das mesmas ações ímpias e de superioridade por parte de Draco Malfoy, fazendo o mesmo ser temido, ao invés de admirado.
A Amizade segundo o prazer se fundamentam naqueles que buscam uma amizade pelo interesse, “que amam-se por causa de sua utilidade, por causa de algum bem que recebem um do outro, mas que não amam um ao outro por si mesmos” (ARISTÓTELES, 1973). E que pode ser relacionada aquelas amizades onde se buscam beneficio para si próprio, como é o caso do vilão do enredo de Harry Potter, Tom Servolo Riddle, Lord Voldemort ou Você-Sabe-Quem. A maioria de seus atos, senão todos, fazem elo com este tipo de amizade, pois ele, demonstra em suas ações, não temer e nem hesitar perante o que busca, a vida eterna. Utilizando de artifícios e pessoas para alcançar seus objetivos, mesmo que isso venha causar a morte de alguém. Usando seus fies, os comensais da morte, e os abandonando, ou matando-os quando acha necessário. Não se preocupando com o que lhes ocorre, desde que seus objetivos e metas sejam concretizadas. E como exemplo disso, podemos destacar a morte do Professor Quirrinos Quirrel e do Professor Severo Snape.
O último tipo de amizade descrito por Aristóteles (1973) corresponde a amizade ideal ou a amizade virtuosa, que é aquela que existe entre os homens que são bons e semelhantes na virtude, pois tais pessoas desejam o bem um ao outro de modo idêntico, e são bons em si mesmos. E ela pode ser muito bem representada pela amizade formada entres o trio de amigos, Harry, Ron e Hermione, que mesmo apresentando distinções de personalidades e mundos, eles se aceitam por serem que são e se tratam como iguais. Apesar terem enfrentado algumas dificuldades no inicio, eles provaram que a amizade virtuosa, ou amizade perfeita, se faz entre aqueles que se ajudam e que buscam um só princípio, o bem do outro como a si mesmo. Provando também a teoria de que a amizade virtuosa necessita de um vínculo intenso, onde as adversidades devem ser deixadas de lado, sendo algo que demanda um pouco de tempo. Além disso, uma amizade dessa espécie exige tempo e intimidade. Como diz o provérbio, as pessoas não podem conhecer-se mutuamente enquanto não tiverem ‘consumido muito sal’. (ARISTOTELES, 1973). Podendo também ser gerada quando se pratica atos denominados bons ou ruins. “Depende de nós praticar atos nobres ou vis, e se é isso que se entende por ser bom ou mau, então depende de nós sermos virtuosos ou viciosos.” (ARISTOTELES, 1973, p.287). O que coloca em contraste os três tipos de amizades já mencionadas e as relações dos dois grupos de amigos (Harry, Rony e Hermione; e Draco, Crabby e Goyle e etc) onde o grupo de amigos de Draco foi formado pelo fato de todos os indivíduos praticarem atos ímpios. Por outro lado, no grupo de Harry vemos que todos que estão nele inseridos, estão lá, pois seus atos são benevolentes. Amizade assim não seria eficaz se por algum motivo, os indivíduos que praticam ações viciosas tentassem algum tipo de interação harmônica com os que são virtuosos. Existindo brecha para a amizade dos homens maus e a amizade dos homens de bem. Assim, estes são amigos no sentido absoluto da palavra; enquanto os outros o serão apenas por acidente, desde que seja apenas por prazer ou interesse. Sendo mencionando por Platão no diálogo Lisis, ao dizer que somente o homem de bem é amigo do outro homem de bem, ao passo que o malvado não pode chegar à verdadeira amizade nem com o homem de bem nem com o homem malvado, e ressaltado por Voltaire (1764) ao dizer “Amizade é um contrato tácito entre duas pessoas sensíveis e virtuosas. Sensíveis, porque um monge, um solitário, pode não ser ruim e viver sem conhecer a amizade. Virtuosas, porque os maus não buscam mais que cúmplices.” Sendo que quem determina esse tipo de amizade é o afeto
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