A CONCEPÇÃO DE AMOR EM AGOSTINHO
Por: Maike Machado • 8/11/2017 • Trabalho acadêmico • 9.309 Palavras (38 Páginas) • 512 Visualizações
1 A CONCEPÇÃO DE AMOR EM AGOSTINHO
1.1 Vida de santo agostinho
Dentro do contexto do pensamento medieval, um período de suma importância foi a época da patrística. Neste contexto é que está inserido o filósofo Agostinho[1]. O filósofo, teve muitas experiências em sua vida. Durante essas experiências sempre esteve em busca de uma religião autêntica. O mesmo vivia no mundo dos vícios, sexo, chegando a ter um filho, Adeodato.
No decorrer de sua vida, passou por muitos caminhos em busca de um verdadeiro amor, mas o mesmo sempre se perguntou em relação ao amor. E nessas buscas, nestas caminhadas, Agostinho entrou em uma seita religiosa, o maniqueísmo. Ali permaneceu um período de sua vida até, então, converter-se ao cristianismo.
Agostinho polemizou algumas doutrinas ou manifestações religiosas em seu tempo: O Maniqueísmo[2], o Donatismo[3], o Pelagianismo[4] e, também, o Paganismo[5].
1.1.1 A origem das duas cidades
Agostinho, dentre tantas coisas vividas em seu período, escreve a obra chamada A Cidade de Deus, escrita entre 412 e 426, e tornou-se um modelo e esquema de toda a concepção cristã de história.[6]
A Cidade de Deus se configura como um curso histórico concreto, como uma peregrinação, um caminho em direção a um fim não-terreno na qual a Providência guia a história rumo ao seu télos, ignorando os propósitos humanos, a contingência de suas ações e dos seus desígnios”.[7]
Agostinho, dentre tantas coisas vividas em relação ao amor, mostra na A Cidade de Deus, duas cidades a serem vividas: cidade de Deus e a cidade terrena. A cidade de Deus é caracterizada pelo testemunho dos mandamentos de Deus e segundo o espirito, já a cidade terrena segue os próprios desejos, desejos da carne. É a luta entre a cidade de Deus e a cidade terrena.
Sobre as duas cidades Agostinho nos diz:
Dividi a humanidade em dois grandes grupos: um, o dos que vivem segundo o homem; o outro, o daqueles que vivem segundo Deus. Misticamente, damos aos dois grupos o nome de cidades, que é mesmo que dizer sociedades de homens. Uma delas está predestinada a reinar eternamente com Deus; a outra, a sofrer eterno suplício com diabo. [...] O desenvolvimento dessas duas cidades compreende todo o lapso de tempo, também chamado século, rápida sucessão de nascimento e de mortes, que forma o curso das duas cidades [...] (AGOSTINHO, A cidade de Deus, XV, I).[8]
A cidade de Deus é odiada por aqueles que preferem a vivência na cidade dos homens. Nela ninguém nasce e ninguém morre. Aqueles que se encontram na mesma, vivem uma verdadeira felicidade, diferente da cidade terrena, os quais, vivem uma felicidade de momentos, a verdadeira felicidade é dom de Deus. Na cidade terrena, o sol brilha para todos, para os bons, que vivem verdadeiramente a palavra de Deus e vivem segundo os valores éticos morais, mas também brilha para os homens que vivem segundo os impulsos, desejos da carne. Já na cidade celeste, o sol brilha somente para os homens de bom coração (AGOSTINHO, A cidade de Deus, V, XVI).[9]
[...] Em consequência, não somente com o propósito de dar semelhante galardão a tais homens se dilatou o Império Romano, para a glória humana, mas também com o de que os cidadãos da eterna cidade, enquanto peregrinos no mundo, observem com sobriedade e diligência os referidos exemplos e vejam quanta dileção se deve à pátria soberana por amor à vida eterna, se pela glória humana seus cidadãos tanto amam a terrena (AGOSTINHO, A cidade de Deus, V, XVI).[10]
1.1.2 A origem da cidade celeste
O filósofo discorre em argumentos variados, procurando fundamentar a Cidade de Deus de acordo com o testemunho que traz um caráter bíblico-social, mesmo parecendo, por vezes, um pouco fantasiosa, é fundamentada em alicerces inabaláveis que se eternizam no tempo.
Agostinho explica:
Damos o nome Cidade de Deus, de que dá testemunho a Escritura, àquela que rendeu à sua obediência, não por movimentos anímicos fortuitos, mas por disposição da soberana providência, todos os engenhos humanos, com a garantia de autoridade divina superior aos espíritos de todas as nações. Lê-se na Escritura: Coisas gloriosas se disseram de ti, Cidade de Deus. Lê-se noutro salmo: Grande é o senhor e muito digno de louvor na cidade de nosso Deus, em seu santo monte, que dilata os contentamentos e alegrias de toda terra. E pouco depois: Tal como ouvimos, assim o vimos na Cidade do Senhor das virtudes, na Cidade de nosso Deus. Deus fundou-a para sempre (AGOSTINHO, A cidade de Deus, XI, I).[11]
Quando Deus criou o mundo e todas as coisas, em um determinado momento foi criado também os anjos, quando Deus diz: faça-se a luz e a luz foi feita, pode-se dizer que essa luz era então a criação dos anjos, os mesmos são participes da luz eterna (AGOSTINHO, A cidade de Deus, XI, IX).[12] Assim na origem da cidade de Deus, primeiramente aparece a sociedade dos anjos.[13]
Quando Deus cria a sociedade dos anjos, o mesmo não menospreza a origem do ser humano, sendo que a origem da sociedade dos homens vem logo após a sociedade dos anjos. Sendo que a criação da sociedade dos anjos, os mesmos apontariam o homem para o caminho reto e bom, para o caminho da perfeição, que se dá através do mundo inteligível, isto é, para o céu. Sendo o céu lugar onde viveremos a perfeição, perfeição esta que já se deve buscar na cidade dos homens, essa perfeição será buscada pelos homens que a Deus se voltarem com sinceridade, porém, a plenitude da perfeição do homem será alcançada somente no juízo final, no seu encontro cara a cara com Deus. [14]
Ao falar da criação do homem Agostinho nos diz:
Já é hora, segundo penso, de falarmos da origem criacional dos membros, recrutados entre os homens mortais para se unirem aos anjos imortais, da Cidade que agora peregrina mortalmente na terra ou descansa nas secretas moradas das almas daqueles que já renderam tributo à morte, com se fez, quando se tratou de anjos. O gênero humano origina-se de um só homem, o primeiro que Deus criou, segundo o testemunho da sagrada escritura, que goza de maravilha autoridade, não merecida, no orbe da terra e em todas as nações, e predisse com inspiração divina, entre outras verdades, que haveriam de crer nela. (AGOSTINHO, XII, IX).[15]
...