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A Consolação Da Filosofia

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Por:   •  16/9/2013  •  1.404 Palavras (6 Páginas)  •  498 Visualizações

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Revista Época

03/01/2007 - 12:07 | Edição nº 450 Ruth de Aquino.

ENTREVISTA

A consolação da filosofia

Pensador francês se inspira nos gregos antigos e no budismo para orientar a busca da felicidade

Existem imbecis felizes e gênios infelizes, segundo André Comte-Sponville, um dos mais respeitados filósofos e ensaístas da atualidade. Ideal seria escolher uma terceira via: a dos sábios, que não se apóiam na esperança como muleta. Esperar não é saber, diz o pensador. Ele vive em Paris e tem livros traduzidos para mais de 20 idiomas. Sponville recorre a Epicuro, Montaigne e Buda para nos incitar a agir. Em sua opinião, Woody Allen resume, com genialidade, nossa aptidão para a tristeza: "Como eu seria feliz se eu fosse feliz!". Em seu pequeno livro Felicidade, Desesperadamente, o filósofo condena as utopias. Sugere viver na lucidez, na desesperança e no momento presente: "Quando você faz amor, o que mais deseja? O orgasmo ou o ato em si?", pergunta Sponville. "Se for o orgasmo, a masturbação é o meio mais rápido."

QUEM É

Filósofo de 54 anos, é casado e tem três filhos. Considera-se um "liberal de esquerda", ateu e feliz

QUEM SÃO SEUS MESTRES

O grego Epicuro, os franceses Montaigne e Pascal e Spinoza (ver o quadro à pág. 32)

O QUE PUBLICOU

No Brasil, seus livros mais conhecidos são Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, Tratado do Desespero e da Beatitude e Felicidade, Desesperadamente

ÉPOCA - O senhor afirma que todos os homens sem exceção procuram ser felizes e cita Pascal, em seus Pensamentos (1670): "A busca da felicidade é o motivo de todas as ações de todos os homens, inclusive dos que vão se enforcar". Para a maior parte da humanidade, essa busca não seria vã?

André Comte-Sponville - Tudo depende do que se entende por felicidade. Se você busca uma alegria contínua e soberana, ou mesmo a ausência total de sofrimento e angústia, certamente nunca será feliz. "Toda vida é sofrimento", dizia Buda. E tinha razão. A felicidade, se a entendemos como uma alegria completa, é apenas um sonho, que nos separa do contentamento verdadeiro. Em busca da felicidade absoluta, nós nos proibimos de viver as felicidades relativas e nos tornamos infelizes. Se, ao contrário, você entender como felicidade o fato de não ser infeliz ou simplesmente de poder desfrutar algumas alegrias, a felicidade não é impossível. E você será feliz somente por não ser triste. À exceção, claro, nos momentos mais difíceis da vida.

ÉPOCA - Qual é sua definição de felicidade na vida cotidiana?

Comte-Sponville - Todo lapso de tempo durante o qual a satisfação parece imediatamente possível. Não há como se sentir alegre permanentemente. Isso é impossível. Mas há como sentir que podemos ser felizes por nós mesmos, sem que nada de essencial mude no mundo. A infelicidade se instala quando nossas alegrias dependem totalmente de circunstâncias externas.

ÉPOCA - O senhor é feliz?

Comte-Sponville - Sim. Não tenho grande mérito nisso. Vivo com uma mulher que amo e que me ama, tenho três filhos com saúde, trabalho no que me dá prazer, meus livros são bem-sucedidos. Em resumo, tenho muita sorte. É preciso sempre ter um pouco de sorte para ser feliz. Mas também é preciso amar a vida, mesmo quando ela é difícil e angustiante. Consigo ser um pouco assim, cada vez mais graças à filosofia.

ÉPOCA - O senhor associa a felicidade à sabedoria. Os ingênuos e os ignorantes seriam então condenados a ser infelizes? Há quem diga que saber demais pode nos levar à angústia ou a um sentimento de impotência.

Comte-Sponville - Existem imbecis felizes e gênios infelizes. Mas a sabedoria é algo distinto da genialidade. Tampouco tem a ver com desatino ou tolice. A sabedoria é, sim, um certo tipo de felicidade. Mas nada tem a ver com a felicidade ilusória, conseguida por drogas ou pela ignorância. A sabedoria é a felicidade dentro da verdade. É o máximo de felicidade associado ao máximo de lucidez. Essa é a meta da filosofia. Nesse caminho, há muitas ilusões a perder e algumas verdades desagradáveis a confrontar. É por isso que a filosofia passa inevitavelmente pela angústia, pela dúvida, pela desilusão. Continua sendo apenas um caminho. Porque o destino é uma felicidade autêntica. É isso que chamamos de sabedoria.

ÉPOCA - E a infelicidade, como ela se revela na vida real?

Comte-Sponville - Quando toda alegria parece impossível, quando acordamos pela manhã sem outra perspectiva a não ser a angústia, a tristeza ou o sofrimento...Eu vivi isso. Perdi duas das pessoas que mais amava no mundo: minha única filha na época e, em seguida, minha mãe. No início, só há o horror e as lágrimas. Com o tempo, a paz retorna, em seguida a alegria. E por isso digo, por oposição, que a felicidade também existe. Como é bom deixar de se sentir infeliz!

ÉPOCA - Como a filosofia pode ajudar alguém

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