A Lista De Alice

Quando comecei a Faculdade de Administração, numa outra instituição, no 1º semestre na aula de Sociologia a Profª passou um trabalho, onde relacionou vários nomes de autores famosos para escolhermos o tema de nossos trabalhos. Li um pouco sobre todos eles e o que mais me chamou a atenção foi a história de vida do Herbert Souza, mais conhecido como “Betinho”, na verdade acho que esse foi o tema mais escolhido entre todos colegas de sala.

Um homem que já nasceu com vários problemas de saúde, como hemofilia que herdou da mãe e no decorrer da vida, só foi aumentando o número de doenças, como tuberculose e HIV, até causar sua morte em 1997 aos 61 anos. Porém, o que impressiona é que nada o impediu de lutar para viver, e dar alegria a muitas famílias com suas instituições e ações sociais. Uma frase que sempre costumava dizer: "Eu nasci para o desastre, porém com sorte".

Em meio as pesquisas, resolvi me aprofundar e decidi comprar um livro escrito pelo Betinho, onde escreveu já muito doente, que se chama: A Lista de Alice – (Companhia das Letras – 1996), onde ele narra história de pessoas que já morreram na cidadezinha onde ele nasceu no interior de Minas Gerais.

A dúvida começou quando me perguntei: “O que leva uma pessoa a escrever um livro sobre pessoas que já morreram, onde minoria de seus leitores puderam conhecer?”

Logo veio a segunda dúvida: O nome do livro em todas as pesquisas que fiz, chama-se “A Lista de Alice”, porém no livro veio escrito “A Lista de Ailce”. Lendo o livro, Betinho sempre diz Ailce referindo-se a prima que lhe passou a tal Lista de alguns dos mortos na qual ele narra as histórias no livro. Alice ou Ailce? Eis a questão!

Imagino que esta questão sobre o nome possa ser apenas um marketing para o nome do livro, um charme, como também pode ter sido criado para gerar duvidas mesmo, ou a prima dele realmente se chamava Ailce, já que as pessoas do interior tem esse dom de inventar nomes, um tanto quanto diferentes.

Uma das histórias interessante que Betinho cita no livro, quando ele descreve a morte de um Padre: “...morreu sem grandes vacilações, com a idade, e sua morte não teve repetição, morreu só uma vez como todo mundo...”. Claro que existem casos de pessoas que são dadas como mortas, o coração pára de bater por alguns segundos, e logo, surpreendem a medicina, o coração volta a bater e a pessoa vai se recuperando lentamente (ou rapidamente), podemos concluir que quando essa pessoa morrer de verdade, morreu duas vezes. Ele também explica um conceito sobre a morte: “Morrer é o ato mais simples da natureza...”.

Betinho teve muitos amores platônicos, sofreu muito com a morte dos irmãos Henfil e Chico, e pela morte dos Pais, que lhe mostraram o caminho certo a seguir, educando-o, dando carinho e amor, a ele e aos irmãos. Teve Pais fortes, lutadores da vida. Apesar de tudo que viveu, que viu e que sentiu, foi uma pessoa feliz, guerreiro... Lutou até o fim pelos seus objetivos e pela vida. Mesmo muito doente, escreveu este livro, pelas palavras, já estava prevendo que a sua hora estava chegando, porém, estava com a cabeça boa, lembrava de tudo e de todos os mortos da cidade, até dos animais e de algumas pessoas que a prima Ailce não colocou na lista. Um ano depois de escrever este livro, Herbert de Souza veio a falecer... Que Deus o tenha!