A Negação Dadaista
Artigos Científicos: A Negação Dadaista. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: gentille • 13/11/2014 • 1.576 Palavras (7 Páginas) • 424 Visualizações
SURREALISMO
Os conteúdos morais e de valores tradicionais da sociedade burguesa consolidadas, bem como das suas artes, no final do século XIX e início do século XX na Europa encontram na guerra – I Grande Guerra Mundial- sua antítese. A morte e a angústia, generalizadas, rondaram e afetaram de forma especial os artistas e intelectuais da época e permitiram novos questionamentos filosóficos e estéticos e um caminho radical de desconstrução de paradigmas.
Esse caminho de desconstrução, notadamente no campo da estética, foi chamado de Dadaísmo, caracterizado pela negação de tudo que se mostra técnico, científico, poético e formal. A impressão era de que a humanidade era regida pela hipocrisia e que a guerra era a face da inutilidade do desenvolvimento humano. Nesse momento, para os Dadaístas, o mundo fica sendo entendido como um ambiente aprisionador do homem e constituído de uma natureza artificial e manipuladora, formado de objetos de pobre significância e que, portanto, não valeria mais ser mais imitado.
Com o fim da guerra e a revolução russa a ideia de um mundo novo e possível começa a tomar corpo. A fratura aberta pela revolta Dadá a favor de uma concepção de liberdade originária na destruição e negação das convenções morais e sociais conduziu à formação de uma nova tendência de pensamento estético chamada de Surrealismo, composta basicamente de sonho e realidade.
Conforme Mario de Micheli (1914-2004, crítico de arte e escritor italiano – antifascista) em seu livro As vanguardas artísticas, o surrealismo apresentou-se como transmissor dos anseios gerados no Dadaísmo para um novo modelo de ideal de liberdade possível, de um novo homem, realizável por meio da pesquisa científica de base filosófica e psicológica.
De Micheli explicitou a função mediadora, superadora, do Surrealismo na tensão existente entre arte e sociedade, indivíduo e coletividade, entre fantasia e realidade.
A figura de guia espiritual e teórico do movimento coube ao poeta Andre Breton (1896-1966), artista que se ocupa decisivamente da criação de poesias por meio da técnica de escrita automática. Essa técnica, já conhecida no movimento Dadaísta (automação mecânica), é transportada para produzir expressões do pensamento artístico provenientes dos fluxos existentes no inconsciente, que são livres dos bloqueios da consciência /razão.
Breton é o autor do Manifesto Surrealista publicado em 1924, onde reivindica o direito da imaginação e dos sonhos na produção da arte. Mais tarde, em 1926, época da guerra marroquina, ele escreve: “a arte autêntica de hoje está ligada à atividade social revolucionária: ela tende à confusão e à destruição da sociedade capitalista”.
Na soma desses dois documentos Breton propõe a conciliação de coisas inconciliáveis anteriormente: a liberdade individual baseada na teoria da psicanálise de Freud e a teoria materialista e dialética de liberdade social expressa em Karl Marx. Assim pensa que a nova sociedade precisa de um novo indivíduo livre para criar e transformar o mundo, assim é a dialética do surrealismo.
A posição política dos Surrealistas se consolida na prática na luta contra o Fascismo Franquista, embora já afastados a partir de 1935 do Partido Comunista Francês. Ilustra esta posição o discurso de P. Eluard em 1936 em Londres onde coloca a fraternização dos poetas e proletários contra a moral burguesa que constrói bancos, casernas, prisões e prostíbulos e diz : ” Há mais de cem anos os poetas (Rimbaud, Sade, entre outros) desceram das alturas nas quais julgavam estar. Eles andaram pelas ruas, insultam seus mestres, não tem mais deuses, ousaram beijar na boca a beleza e o amor, apreenderam os cantos de revolta da multidão miserável e, sem repugnância, procuraram ensinar-lhe os seus.”
Para os Surrealistas a inspiração do movimento também pode ser ilustrada quando Eluard cita Sade e Lautreamount aludindo à revolta moral. O primeiro quando quis “restituir ao homem civilizado a força dos instintos primitivos” e o segundo que trava uma luta contra o que é falso, artificial, contra uma “realidade mentirosa e indigente” que humilha o homem.
O fim dessa indigência, explicado no campo da psicanálise pelos Surrealistas, está inicialmente na verificação e exposição dos desejos mais contidos no pensamento, existentes no inconsciente e acessados durante o sono, nos sonhos. Porque aí reside a capacidade de aumentar as forças de superfície ou de contrapor-se vitoriosamente a elas. O sonho, neste momento, é entendido como parte do processo do pensamento e também como sendo capaz de produzir compensações no conflito das atitudes racionais e desejos íntimos e profundos do inconsciente. Essas compensações são ideias surgidas na vigília e de realizações de desejos durante o sono, pelo sonho.
O automatismo psíquico, método da construção Surrealista, é empreendido como um dos principais meios de acesso ao inconsciente em momento de vigília, como o devaneio. Breton, no Manifesto Surrealista, explica um procedimento de escrita automática que conduz à criação de arte. Basicamente concentrando-se em abstrair seu “gênio”, suas capacidades e as dos outros, repetindo que “a literatura é um dos caminhos mais tristes que podem conduzir a qualquer coisa” , escrevendo frases sem pensar ininterruptamente, sem tema predisposto. A todo instante surgirão espaçadamente frases estranhas ao nosso pensamento consciente. A primeira frase estranha deverá ter a sua primeira palavra assinalada com L, por exemplo. Na sequência, as frases deverão iniciar com a letra “L” sucessivamente. Esse “ditado automático” possui agora um fundo original de caráter revelador.
Contudo o método não se aplica a todas as experiências porque se “escreverem tristes idiotices, estas permanecerão tristes idiotices” de idiotas.
A expressão figurativa da arte Surrealista foi eventualmente criticada porque não ofereceria a mesma condição de rápida transcrição. Breton, porém, explica que o modelo para a arte figurativa estaria também na possibilidade de transformar um objeto vulgar em objeto distinto; outra indicação era a de ser possível a criação de modelos interiores ao processo do pensamento, no inconsciente e trazê-los à tona por meio das fotomontagens semelhantes às produzidas
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