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A problemática do conhecimento

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Por:   •  1/5/2014  •  Pesquisas Acadêmicas  •  6.131 Palavras (25 Páginas)  •  466 Visualizações

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II - A PROBLEMÁTICA DO CONHECIMENTO

Heitor Matallo Jr.*

(Do livro: “Metodologia científica, fundamentos e técnicas, construindo o saber. Maria Cecília M. de Carvalho (org.), Campinas: Editora Papirus, 1994, pág. 13 a 28)

A preocupação com o conhecimento não é nova. Praticamente todos os povos da Antigüidade desenvolveram formas diversas de saber. Entre os egípcios a trigonometria, entre os romanos a hidráulica, entre os gregos a geometria, a mecânica, a lógica, a astronomia e a acústica, entre os indianos e muçulmanos a matemática e a astronomia, e entre todos se consolidou um conhecimento ligado à fabricação de artefatos de guerra. As imposições derivadas das necessidades práticas da existência foram sempre a força propulsora da busca destas formas de saber.

Somente um povo da Antigüidade teve a preocupação mais sistemática e filosófica com as condições de formação do conhecimento: foram os gregos. Paralelamente ao conhecimento empírico legado pelos povos do Oriente, Mesopotâmia e Egito, os gregos desenvolveram um tipo de reflexão - a intuição que se destacou pela possibilidade de gerar teorias unitárias sobre a natureza e desvincular o saber racional do saber mítico. Isto não quer dizer que os gregos tivessem abandonado sua mitologia e cosmologia em favor de uma saber racional, mas tão-somente que eles começaram a ter consciência das diferenças entre estas duas formas de logos.

A epistemé característica do pensamento grego era do tipo theoretiké, isto é, um tipo de saber adquirido pelos "olhos do espírito" (1) e que ia além dos meros fenômenos empíricos. Esta diferença entre conhecimento prático - que estava ligado ao trabalho, à execução de atividades de produção de bens e coisas necessárias à vida - e conhecimento teórico - ligado ao prazer de saber - chegou a cristalizar-se como formas de conhecimento de diferentes naturezas. Esta diferença que surgiu entre os gregos foi resultado - segundo Farrington (2) - de uma separação de atividades de classe, da separação entre "cabeça e mão". Conforme o autor, só o aparecimento de uma classe ociosa poderia ensejar o desenvolvimento de um conhecimento desvinculado das necessidades. Como esta classe tinha mais prestígio e status, sua atividade foi considerada superior, pura e livre, em oposição ao trabalho prático, considerado inferior, desinteressante e preso ao interesse de outrem, já que era executado por escravos para os senhores.

Platão, de Rafael

PLATÃO foi o primeiro filósofo a desenvolver uma teoria sobre o mundo utilizando-se da intuição como forma de pensamento superior. A sua Teoria das Formas (3) é um exemplo disso, e revela a tentativa de fundamentar um conhecimento certo e verdadeiro para além do cambiante e fugaz mundo dos fenômenos. Para Platão, o mundo sensível está em constante mudança e, neste caso, se tora impossível conhecê-lo por razões óbvias: não se pode conhecer uma coisa que deixa de ser ela mesma na sucessão do tempo.

O recurso metodológico e filosófico para solucionar esta dificuldade é pressupor que exista na coisa algo que permanece ou que esteja presente na sucessão do tempo: é a sua ESSÊNCIA. Para Platão, a essência da coisa está em sua Forma ou Idéia. Assim, para toda coisa do mundo sensível existe uma certa Idéia ou Forma que lhe corresponde como sua essência ou natureza. As idéias são perfeitas, imutáveis e não habitam o mundo espaço-temporal, sendo apreendidas apenas pelo pensamento puro. As coisas sensíveis sãos como cópias imperfeitas das Idéias ou Formas, já que por princípio uma coisa perfeita, se mudar, é para pior. A mudança aparece como o elemento que corrompe e degenera, pois afasta cada vez mais a coisa de sua natureza.

Foi na escola platônica, a Academia, que se desenvolveu a DIALÉTICA a e, mais tarde, o conhecimento aristotélico. A dialética, ou o método socrático, foi de extrema importância na história do pensamento, pois significou o rompimento racional com o senso comum ou a tentativa de realizá-lo. A dialética é realizada num diálogo onde uma das artes leva a outra á reconhecer as contradições e incoerências de suas crenças. Neste processo, as premissas I do pensamento comum são questionadas e criticadas até que os temas apareçam despidos dos preconceitos e valorações comuns. A dialética socrática é um método de aproximações sucessivas (4) onde não há propostas de solução para as questões, mas tão-somente a crítica contra as concepções propostas. Este método, diria o filósofo austríaco Karl Popper, elimina as teorias que não suportam a prova. (5)

Aristóteles

Juntamente com Platão, ARISTÓTELES, foi o grande personagem que erigiu a ciência grega e ocidental, formulando min conhecimento que prevaleceu quase intocado até o século XVI.

Enquanto Platão ensinava que só podemos conhecer as Formas ou Idéias e não propriamente as coisas (destas só podemos ter opiniões confiáveis), Aristóteles se distanciava desta doutrina promovendo uma convergência entre as formas e os fenômenos (a virtude está nomeio). Ele criticou a dialética por sua negatividade, por sua incapacidade de criar conhecimentos positivos e adotou a doutrina de que as formas só subsistem na matéria e é só por estas que obtemos aquelas. A existência das Formas - que para Platão eram eternas, imutáveis e independentes do mundo sensível - e, para Aristóteles, uma "realidade materializada" que não pode ser entendida senão pelo estudo das coisas concretas. Isto quer dizer que o conhecimento começa no estudo das coisas, mas não se resume a isto. Aristóteles se utilizou da INDUÇÃO - processo que tem como perspectiva a formulação de leis gerais a partir da observação de fatos particulares - para formular princípios explanatórios gerais e, a partir destes, voltar a fazer DEDUÇÕES de novas ocorrências. Deve-se associar, portanto, a indução e a dedução, a investigação de particulares e a formulação de princípios explanatórios que, por meio da dedução, explicarão novas ocorrências. Dá observação de que os corpos caem, sejam eles lançados à distância ou soltos no ar, formulou Aristóteles a sua teoria do movimento e da estrutura da matéria que, por dedução, explica o movimento dos astros e a aparente diferença de velocidades de diferentes corpos em queda livre.

O conhecimento consistia, então, em saber quais as características

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