Antigona
Resenha: Antigona. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: gustavo421096 • 15/9/2014 • Resenha • 3.023 Palavras (13 Páginas) • 248 Visualizações
ras desditas
nossas - por mais funesta, ou ignominiosa, que não se encontre em
nossa comum desgraça! Ainda hoje - que quererá dizer esse édito que
o rei acaba de expedir e proclamar por toda a cidade? Já o conheces,
sem dúvida? Não sabes da afronta que nossos inimigos preparam para
aqueles a quem mais prezamos?
Ismênia
Ó Antígone, nenhuma notícia, agradável ou funesta, chegou a
meu conhecimento, depois da perda de nossos dois irmãos,
mortalmente feridos, em luta, um pelo outro!... Tendo fugido, esta noite,
o exército dos Argivos, nada mais vejo que possa concorrer para
aumentar nossa felicidade, nem nossas desditas.
Antígone
Eu já o sabia... Chamei-te ate aqui, fora do palácio, para que só tu
possas ouvir o que tenho a te dizer.
Ismênia
Que há, pois? Tu me pareces preocupada!
Antígone
Certamente! Pois não sabes que Creonte concedeu a um de
nossos irmãos, e negou ao outro, as honras da sepultura? Dizem que
inumou a Etéocles, como era de justiça e de acordo com os ritos,
assegurando-lhe um lugar condigno entre os mortos, ao passo que,
quanto ao infeliz Polinice, ele proibiu aos cidadãos que encerrem o
corpo num túmulo, e sobre este derramem suas lágrimas. Quer que
permaneça insepulto, sem homenagens fúnebres, e presa de aves
carniceiras. Tais são as ordens que a bondade de Creonte impõe a
mim, como também a ti, e, eu o afirmo: ele próprio virá a este sítio
comunicá-las a quem ainda as ignore. Disso faz ele grande empenho, e
ameaça, a quem quer que desobedeça, de ser apedrejado pelo povo.
www.oficinadeteatro.comTu ouviste o que eu te disse: virá o dia em que veremos se tens
sentimentos nobres, ou se desmentes teu nascimento.
Ismênia
Mas, minha pobre irmã, em tais condições, em que te posso eu
valer, quer por palavras, quer por atos?
Antígone
Quererás auxiliar-me? Agirás de acordo comigo?
Ismênia
A que perigos pensas arriscar-te ainda? Que pretendes fazer?
Antígone
Ajudarás estes meus braços a transportar o cadáver?
Ismênia
Queres tu, realmente, sepultá-lo, embora isso tenha sido vedado a
toda a cidade?
Antígone
Uma coisa é certa: Polinice era meu irmão, e teu também, embora
recuses o que eu te peço. Não poderei ser acusada de traição para com
o meu dever.
Ismênia
Infeliz! Apesar da proibição de Creonte?
Antígone
Ele não tem o direito de me coagir a abandonar os meus!
Ismênia
Ai de nós! Pensa, minha irmã, em nosso pai, como morreu
esmagado pelo ódio e pelo opróbrio, quando, inteirado dos crimes que
praticara, arrancou os olhos com as próprias mãos! E também em sua
mãe e esposa, visto que foi ambas as coisas, que pôs termo a seus dias
com um forte laço! Em terceiro lugar, em nossos irmãos, no mesmo dia
perecendo ambos, desgraçados, dando-se à morte reciprocamente! E
agora, que estamos a sós, pensa na morte ainda mais terrível que
teremos se contrariarmos o decreto e o poder de nossos governantes!
Convém não esquecer ainda que somos mulheres, e, como tais, não
podemos lutar contra homens; e, também, que estamos submetidas a
outros, mais poderosos, e que nos é forçoso obedecer a suas ordens,
www.oficinadeteatro.compor muito dolorosas que nos sejam. De minha parte, pedindo a nossos
mortos que me perdoem, visto que sou obrigada, obedecerei aos que
estão no poder. É loucura tentar aquilo que ultrapassa nossas forças!
Antígone
Não insistirei mais; e, ainda que mais tarde queiras ajudar-me, já
não me darás prazer algum. Faze tu o que quiseres; quanto a meu
irmão, eu o sepultarei! Será um belo fim, se eu morrer tendo cumprido
esse dever.1 Querida, como sempre fui, por ele, com ele repousarei no
túmulo... com alguém a quem amava; e meu crime será louvado, pois o
tempo que terei para agradar aos mortos, é bem mais longo do que o
consagrado aos vivos... Hei de jazer sob a terra eternamente!... Quanto
a ti, se isso te apraz, despreza as leis divinas!
Ismênia
Não! Não as desprezo; mas não tenho forças para agir contra as
leis da cidade.
Antígone
...