Desidério Murcho
Artigo: Desidério Murcho. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: cristinah2014 • 7/4/2014 • Artigo • 818 Palavras (4 Páginas) • 339 Visualizações
O mistério da mente
Desidério Murcho
Os problemas da filosofia da mente e das ciências da cognição são hoje em dia extremamente estimulantes por procurarem estudar fenómenos que até há pouco tempo muitas pessoas consideravam que estavam para além do alcance da ciência.
Muitos dos temas contemporâneos da filosofia da mente foram estudados por filósofos como Platão e Aristóteles, assim como Tomás de Aquino, Descartes e Locke. Todavia, só com os estudos de John Dewey (1859-1952) e Rudolf Carnap (1891-1970) a moderna filosofia da mente adquire o perfil que hoje conhecemos. A obra de The Concept of Mind, de Gilbert Ryle (1900-76), é considerada por muitas pessoas a obra fundadora da filosofia contemporânea da mente. Todavia, no longo caminho que conduziu à fundação da psicologia como ciência empírica, a obra A Psicologia de um Ponto de Vista Empírico, de Franz Brentano (1838-1917), publicada em 1874, anunciava já um dos temas fundamentais que iria fazer parte da filosofia da mente moderna: o problema da intencionalidade.
Tanto Dewey como Carnap procuraram compreender o fenómeno da consciência de um ponto de vista naturalista. Mas a abordagem naturalista dos fenómenos mentais em geral, e da consciência em particular, apesar de se ter revelado profícua, tem enfrentado grandes dificuldades, conduzindo até por vezes alguns filósofos à ideia de que tal coisa será impossível. Talvez seja este misto de extrema dificuldade e resultados de tão amplo alcance que explica que hoje em dia a filosofia da mente seja uma das áreas mais estudadas na filosofia analítica, a par da ética.
O problema da abordagem naturalista da mente é que parece implausível — além de minar a convicção religiosa de que os seres humanos possuem uma alma imortal, criada à imagem de Deus. Mas se fosse impossível explicar cientificamente os fenómenos mentais isso significaria que o universo não seria susceptível de ser inteiramente explicado de um ponto de vista naturalista, o que violaria a ideia basilar da ciência: a ideia da completude essencial das explicações naturalistas do universo — ideia que tão frutuosa tem sido nos últimos 4 séculos, permitindo explicar cada vez mais fenómenos, incluindo o que antes se considerava serem manifestações directas da vontade divina. O desafio da filosofia da mente é, pois, imenso e todas as dificuldades parecem pequenas se pensarmos no que está em jogo.
Os fenómenos mentais são aparentemente muito diferentes dos fenómenos físicos, químicos, biológicos, etc. Por isso, qualquer tentativa de reduzir os fenómenos mentais a fenómenos biológicos, químicos, etc. é extremamente difícil. O chamado "problema da mente-corpo" procura precisamente resolver a questão de saber qual é exactamente a relação entre os dois tipos de fenómenos.
Pense, por exemplo, numa dor de dentes. O aspecto mental da sua dor de dentes é o facto de ser algo que o leitor sente; e por mais que eu lhe diga que a sua dor de dentes é um certo fenómeno químico ou neurológico no seu cérebro, isto parece pura e simplesmente falso. Os fenómenos físicos que ocorrem no seu cérebro são susceptíveis de serem observados por qualquer pessoa que tenha os instrumentos relevantes à sua disposição; mas a sua dor de dentes é
...