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EROS E CIVILIZAÇÃO É A INTERPRETAÇÃO DE FREUD ACERCA DA CIVILIZAÇÃO

Por:   •  9/3/2016  •  Trabalho acadêmico  •  1.770 Palavras (8 Páginas)  •  307 Visualizações

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        O ponto de partida de Eros e Civilização é a interpretação de Freud acerca da civilização. Marcuse, ao contrário dele, defende a possibilidade de uma civilização sem repressão. Ele propõe então uma sociedade não-repressiva em que as restrições das satisfações libidinais dos homens seriam reduzidas ao mínimo possível.

        Marcuse retira de Marx a ideia da revolução das massas trabalhadoras e a necessidade da abolição do modo de trabalho capitalista. No capitalismo tardio, o proletariado não tem mais a capacidade de revolução universal, pois as classes já foram uniformizadas. Além disso, as massas trabalhadoras estão ofuscadas pelo consumo e por uma falsa liberação dos costumes, o que faz com que percam seu senso crítico e, consequentemente, se integrem totalmente ao sistema.

        A partir disso, Marcuse diz que é preciso fazer uma reinterpretação do pensamento marxista, em que é necessário acrescentar a dimensão do lúdico, do erotismo, da alegria, etc., além de manter a capacidade crítica, porém a recolocando em termos da felicidade total do ser humano.

        Na obra O mal-estar da civilização, Freud reflete se o homem pode ser feliz de forma duradoura. Sua resposta é que o homem está condenado à infelicidade. Ele ainda elabora a tese de que só é possível existir uma civilização a partir da repressão libidinal, o que significa que a civilização só começa quando se renuncia a satisfação das necessidades.

        É necessário que o homem escolha a repressão, pois caso contrário, haverá dissolução social e voltaríamos à barbárie. Segundo ele, essa repressão é necessária para conter a agressividade natural dos seres humanos.

        O princípio de prazer não seria capaz de manter a sobrevivência dos seres humanos, pois ele só se preocupa com uma satisfação imediata. O princípio de realidade, por outro lado, garantiria a sobrevivência dos seres humanos, pois ele consegue adiar e até mesmo suprimir a satisfação de um desejo, fazendo com que se aumentem as chances de sobrevivência de um indivíduo.

        A humanidade também precisa enfrentar sua agressividade natural, que Freud se refere como pulsão de morte. Sem uma repressão dessa pulsão, a civilização não poderia progredir nem existir. Quanto mais civilizada é uma cultura, mais repressora e menos violenta ela é. Nesse contexto, a sublimação é importante, pois é fundamental que grande parte da energia sexual seja canalizada para o trabalho e que a agressividade seja liberada em atividades que não prejudiquem outros indivíduos.

        Marcuse rejeita a tese de Freud e propõe que é possível existir uma sociedade não-repressiva em que os homens atingem a felicidade. Para ele, Freud estava certo em dizer que há um conflito entre o indivíduo e a sociedade, mas errou ao dizer que tal conflito é uma consequência necessária para todas as civilizações.

        Além disso, Freud errou ao fazer uma interpretação biológica do princípio de realidade. Marcuse então elabora os conceitos de princípio de desempenho e princípio da mais-repressão para “corrigir” a interpretação de Freud.

        O princípio da mais-repressão se refere às restrições causadas pela dominação social e histórica. Ele se difere da repressão básica, que são as modificações ou repressões nas pulsões necessárias para garantir a sobrevivência da raça humana. O princípio de desempenho se refere à forma específica do princípio de realidade na sociedade moderna industrializada.

        Quando falamos de uma sociedade não-repressiva, é importante notar que Marcuse não se referia a uma sociedade com grau zero de repressão, mas sim de uma sociedade que anula a mais-repressão e substitui o princípio de desempenho por um de realidade que libera espaço para o de prazer. São as modernas sociedades que são capazes de fazer isso, uma vez que elas são capazes de aumentar o tempo livre dos trabalhadores. Tal tempo livre se contrapõe ao tempo de trabalho, que não oferece nenhuma satisfação libidinal para o trabalhador.

        Na sociedade tecnológica moderna, o tempo livre é utilizado principalmente para a recuperação das energias para o trabalho, sem cumprir sua finalidade principal, que é a satisfação libidinal.

        Freud estava certo ao identificar certo conflito biológico entre o princípio de prazer e o de realidade, mas errou ao não considerar que esse conflito é resultado de um desenvolvimento histórico. Por isso, para Marcuse, a pretensão de que o princípio de realidade tenha validação universal não se sustenta. Os controles repressivos do princípio de realidade são os mesmos do de desempenho.

        Para atingirmos uma sociedade não-repressiva, devemos derrubar esses conteúdos repressivos, substituir o princípio de realidade e “libertar o Eros”. Isso significa tornar o princípio de prazer dominante e que a liberação libidinal é a passagem para uma civilização sem mais-repressão. A libertação do Eros é possível através da dimensão estética.

        Nas modernas sociedades, a estética é vista como ineficiente e como um passatempo. Tal visão sobre a estética é resultado de uma repressão cultural que visa manter a dominação do princípio de desempenho. Para suprimirmos tal princípio, é necessário resgatar a dimensão política e revolucionária da estética. Marcuse pretende resgatar o conceito de estética, de forma que a sua existência possa sustentar o conceito de uma sociedade emancipada.

        Kant apresenta uma divisão entre o domínio da natureza e domínio da moralidade. O princípio é analisado na Crítica da Razão pura, em que é demonstrado que os juízos sintéticos a priori só produzem conhecimento quando sintetizam os dados da sensibilidade com as categorias do entendimento. Nesse sentido, a sensibilidade é vista como inferior em relação ao entendimento, apesar de não haver conhecimento sem ela.

        Na Crítica da Razão Prática, é analisado o domínio da moralidade sob o ponto de vista da liberdade. Uma ação só é moral quando for livre, e não movida por determinações biológicas ou físicas. Nesse caso, a sensibilidade não importa, já que liberdade significa agir com independência em relação a ela.

        Porém, Kant criou uma separação muito radical entre essas duas esferas, visto que o homem pertence as duas simultaneamente. Era necessário então o surgimento de uma mediação, que vai ser introduzida como dimensão estética na Crítica da Faculdade de Julgar. Além disso, Kant também recuperou a importância da imaginação como intermediária entre as faculdades cognitivas e práticas.

        Ele define o belo como o objeto de uma satisfação desinteressada, pois caso contrário, não seria possível ter uma objetividade estética, já que os interesses são pessoais e por isso não podem ser generalizados. Ao ignorar os desejos particulares, os homens poderão então obter uma satisfação que se deve somente à beleza do objeto estético. Tal satisfação é resultado de uma harmonia entre a imaginação e o entendimento, e que deve ser válida universalmente.

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