Estou Me Guardando Para o Carnaval
Por: Lucas Freitas • 3/1/2022 • Resenha • 816 Palavras (4 Páginas) • 102 Visualizações
Prova 2 de Filosofia da Tecnologia
A presente proposta de avaliação consiste na realização de uma resenha integrada entre um documentário ou filme com um (ou mais) dos textos que foram propostos no SIGAA para a disciplina de Filosofia da Tecnologia. Para tanto, deve-se realizar livremente essa atividade escolhendo um fio condutor que se adeque ao seu título (todos os trabalhos devem ter um título ligado a um problema que se verificou entre o filme/documentário e o texto). No que toca o problema escolhido, não se faz necesário o vínculo com a engenharia civil, mas sim, com as questões ligadas à tecnologia e/ou a filosofia.
Documentário: Estou me guardando para o carnaval
Textos: A condição humana e A autonomia e os sujeitos bem adaptados (breve referência)
O sistema vigente em Toritama: A autonomia extenuante dos confeccionadores de jeans
Utilizando um dos versos da canção “Quando o carnaval chegar” de Chico Buarque como título da obra, o filme “Estou me guardando para o carnaval” trata-se de um documentário nacional produzido no ano de 2019 e dirigido pelo Marcelo Gomes que consiste em mostrar como é o cotidiano de uma pequena cidade no interior de Pernambuco, Toritama ou a capital do jeans como é conhecida, por produzir anualmente mais de 20 milhões de jeans. Tudo começa quando Gomes chega ao município com sua equipe observando um cenário completamente tomado pelo jeans uma cena totalmente distinta com a que ele tinha visto em uma viagem com seu pai, as atividades agrícolas foram substituídas pelas maquinas de costura e a cidade rural estava se tornando industrial. Entrevistando cada pessoa, o diretor descobre o que cada um faz e como funciona aquele sistema capitalista. Basicamente uma fábrica de jeans havia se mudado para Toritama e fez o fluxo natural da cidade se modificar por inteiro, no fundo do quintal das casas surgiram as facções do jeans uma com função diferente da outra, mas todas com o mesmo propósito, produzir muito para ganhar mais. Várias filmagens do longa retrata o dia a dia exaustivo da população acompanhados pelo barulho ensurdecedor das máquinas de costura com movimentos manuais repetitivos, com uma carga horária mais extensa que o normal, uma linha de produção em massa que nos remete a um processo parecido com o método criado por Henry Ford, o Fordismo. Entretanto, de acordo com os moradores eles são os próprios empreendedores e autônomos, sendo assim qual seria o motivo que os faz se submeterem as essas condições desgastantes? Em conformidade com um dos habitantes que ainda mantém o hábito agrícola, a razão seria, como foi mencionado acima, trabalhar muito para maximizar o lucro, ou seja, eles estão determinados a subsistir apenas para gerar o ouro (jeans), podemos estabelecer uma relação com um texto de grande importância para a filosofia escrito pela renomada Hannah Arendt para exemplificar e explicar a presente situação. A Condição Humana traz as três atividades da vita activa, o labor, o trabalho e a ação. Associando ao labor, os homens estão deixando de viver, para apenas sobreviver, isso faz com que o animal laborans – animal trabalhador se torne cada vez mais consistente, no entanto essa consistência acarreta no descaso e na impulsividade, essa modificação surge após o implemento do culto ao trabalho pelo capitalismo. Correlacionando, por sua vez, o trabalho a autora alemã diz que a sociedade hodierna está voltada para a cultura do trabalho, pela produção em massa, para produção de bens, não abstendo os impactos negativos oriundos dessa condição. Nesse documentário acontece exatamente conforme os conceitos analisados pela Hannah Arendt, porém o diretor demonstra de uma maneira bem mais didática como a manipulação capitalista instituiu em primeiro plano a servidão em apenas gerar lucros, deixando viver, adotando a cultura do trabalho o ano inteiro nas confecções de jeans em condições que o submetem quase a escravos modernos devido as explorações, para que no final eles vendem tudo aquilo que foi e que não foi conquistado afim de lembrar o que realmente é viver passando as suas melhores férias de carnaval em uma praia, podemos estabelecer a esta questão entre a venda dos seus bens com a produção em massa, uma relação com o texto A autonomia e os sujeitos bem adaptados de Wolfgang Leo Maar, que aborda sobre a adaptação da sociedade às imposições de uma situação vigente, em uma determinada parte do texto trata que a liberdade da autonomia dos sujeitos frente a um sistema de produção que cobra cada vez mais e o retorno é inversamente proporcional, apesar de essa ser a realidade deles, a população produz jeans de maneira exorbitante, e do mesmo jeito eles negociam seus bens e lucros para poder curtir suas férias, como mencionado acima. O longa se despede com uma chuva, antes sendo um indicativo de plantio para os agricultores, atualmente é um indicativo que as férias acabaram e os moradores de Toritama recomeçam esse ciclo repetitivo e extenuante para reconquistar tudo novamente.
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