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Filosofia

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Por:   •  1/3/2015  •  848 Palavras (4 Páginas)  •  346 Visualizações

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A ética e a moral

Robert Henry Srour

In: Ética empresarial. Rio de Janeiro: Campus, 2000. p. 29-30; 33-35.

O que vem a ser a moral? Um conjunto de valores e de regras de comportamento, um código de

conduta que coletividades “adotam, quer sejam uma nação, uma categoria social, uma comunidade

religiosa ou uma organização. Enquanto a ética diz respeito à disciplina teórica, ao estudo sistemático, a

moral corresponde às representações imaginárias que dizem aos agentes sociais o que se espera deles,

quais comportamentos são bem-vindos e quais não. Em resumo, as pautas de ação ensinam o “bem fazer”

ou o “fazer virtuoso”, a melhor maneira de agir coletivamente; qualificam o bem e o mal, o permitido e o

proibido, o certo e o errado, a virtude e o vício.

A ética opera no plano da reflexão ou das indagações, estuda os costumes das coletividades e as

morais que podem conferir-Ihes consistência. Com qual propósito? Libertar os agentes sociais da prisão do

egoísmo que não se importa com os efeitos produzidos sobre os outros. A ética visa à sabedoria ou ao

conhecimento temperado pelo juízo. A moral, em contrapartida, corresponde a um feixe de normas que as

práticas cotidianas deveriam observar e que, como discurso, ilumina o entendimento dos usos e dos

costumes.

Existem morais macrossociais, que recobrem as sociedades como um todo e que servem de balizas

às centenas de morais microssociais. Estas, por sua vez, expressam os interesses e as visões de mundo das

muitas coletividades internas às sociedades, distribuindo-se entre morais paroquiais, corporativas,

profissionais, setoriais, classistas, regionais, confessionais etc.

Não há vantagem em confundir ética com moral, como induzem expressões consagradas tais como

“ética protestante”, “ética católica”, “ética liberal”, “ética socialista” ou “ética nazista”. Vale mais falar de

moral protestante, moral católica, moral liberal, moral socialista ou moral nazista. Porque a ética, como

teoria, estuda as morais na plenitude de sua natureza histórica. Somente quando especialistas se debruçam

sobre as morais e produzem um estudo delas, pode-se falar de ética do protestantismo ou de ética do

socialismo. Assim, a referência à ética empresarial ou à ética dos negócios significa estudar e tornar

inteligível a moral vigente nas empresas capitalistas contemporâneas e, em particular, a moral

predominante em empresas de uma nacionalidade específica.

Com efeito, o que é válido para a coletividade “A” não o é necessariamente para a coletividade “B”.

Os padrões culturais são extremamente diversificados e mutáveis.

[...]

Assim, as morais são múltiplas e nenhum sistema de normas morais pode pretender obter o selo da

eternidade ou da universalidade. E isso por uma razão bem simples: as representações mentais, os bens

simbólicos, tudo o que é imaginário finca suas raízes na história e, portanto, mergulha por inteiro nos

eventos singulares e em fluxo. Assume, por isso mesmo, caráter efêmero, transitório, provisório,

passageiro, mutável.

Acontece que nenhuma moral se sustenta pura e exclusivamente pelas virtudes de seu discurso. Há

sempre um embate entre morais diversas, que expressam ideologias variadas e representam interesses

Ética e negócios

diferenciados, na maioria das vezes contraditórios. A exemplo das ideologias, a moral dominante numa

coletividade qualquer é fruto de uma relação de forças. Se não, cairíamos num vale-tudo relativista.

A questão-chave dos problemas da moralidade repousa no conflito de interesses. Numa primeira

instância, os interesses pessoais contrapõem-se a tutti quanti interesses coletivos – familiares, paroquiais,

corporativos, empresariais, comunitários, classistas, de categorias sociais, nacionais ou supranacionais.

Numa segunda instância, algum tipo de interesse coletivo pode contrapor-se a outros de igual ou maior

abrangência. A não ser o egoísmo que expressa, in extremis, os interesses privados e pessoais, toda moral é

sempre a moral de algum agente coletivo. A eficácia de qualquer moral depende dos apoios políticos ou

dos agentes que a suportam, bem como do arsenal de sanções de que dispõem para fazer valer seus

ditames – sejam eles dogmas, sejam eles propósitos.

Abrindo parênteses, o que vêm a ser as normas sociais? Pautas de ação que expressam valores,

balizas definidas por uma coletividade qualquer para guiar o comportamento. Tais exigências tornam

obrigatórias as condutas e operam como fatores de coesão social ou como regras de convivência visando à

coexistência entre interesses contraditórios. Mas por que as normas sociais são acatadas? Por três razões

que muitas vezes se conjugam:

1. A convicção de que a vida em sociedade requer o respeito a regras de interesse comum (é o caso

das normas morais); essa convicção decorre da socialização ou da reflexão;

2. A submissão dos agentes diante da ameaça representada por sanções que a coletividade pode

exercer (é o caso das normas jurídicas);

3. A adesão motivada pela necessidade de identificar-se e pertencer a dada coletividade (é o caso

das normas de etiqueta).1

As normas jurídicas (leis e regulamentos) dispõem de sanções sobre o corpo ou as vontades dos

agentes sociais. Correspondem a reclusões (privação de liberdade) ou a outras formas de intimidação, e são

respaldadas pelo poder político ou pelo monopólio da violência que o Estado detém. Por via de

consequência, sua eficácia repousa nos efeitos da coação externa. As demais normas, por sua vez, tais

como as de etiqueta, as religiosas, as estéticas e as morais, têm caráter simbólico e implicam a aceitação

“voluntária” dos agentes. Isso não quer dizer que estejam destituídas de sanções contra quem as

desrespeitar. Apenas indica que as sanções não têm caráter físico, mas imaginário, cultural. Sua eficácia

reside em boa parte (embora não exclusivamente) na coação interna, na dinâmica da consciência, de seus

temores e fantasmas, nos padrões inculcados pelos agentes sociais.”

...

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