Filosofia - gênese
Artigo: Filosofia - gênese. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: feliperondini • 16/7/2014 • Artigo • 3.630 Palavras (15 Páginas) • 205 Visualizações
DISCURSO
filosofia - génese
Na Filosofia clássica : "operaçäo intelectual que se efectua por uma sequência de operaçöes elementares e sucessivas". Um conhecimento discursivo opöe-se a um conhecimento intuitivo ou imediato. Pode-se assim assemelhar discursivo a racional, e discurso a razäo.
O discurso é a traduçäo normalmente aceite do termo grego - logos. A lógica é uma ciência reflexiva do discurso. O discurso é entäo uma sequência ordenada de enunciados de onde cada um extrai o seu valor a partir dos que o precedem, e dos quais é conclusäo. Um discurso verdadeiro encontra a sua verdade na sua coerência, mas também na evidência do seu ponto de partida. O discurso científico näo tenta fundar-se a si mesmo e encontra o seu ponto de arranque a partir de um domínio do real reconhecido como interessante em si, com tendência posterior a alargar-se. Do mesmo modo, o discurso matemático parte de axiomas ou decisöes sem se mostrar interessado ou capaz de os/as revelar.
Para a filosofia tradicional, a pluralidade dos discursos coerentes (aqueles nos quais näo é possível encontrar erros lógicos) constitui um escandalo.No entanto , a filosofia ambiciona constituir o seu discurso em sistema, eliminando todo o recurso a um conhecimento intuitivo, täo evidente a certos espíritos como duvidoso para outros. O discurso hegeliano constitui-se assim em discurso absolutamente coerente no qual o racional é efectivamente real (wirklich) e o efectivamente real - racional.
O ser possível uma revolta contra o discurso uni-total hegeliano mostra que o discurso näo pode deduzir a estrutura una do mundo. Deixando de lado como inessencial o que Kierkegaard (o individuo), Marx (a práxis real) ou Heidegger (o Da-sein) retêm como fundamental, o discurso uni-total (absolutamente coerente) mostra que ele ainda vai escolher entre um inessencial e um essencial em funçäo de um critério näo pensado.
O real é entäo o que se diz no discurso, o conjunto dos discursos, racionais ou näo, que os homens construiram sobre o real no curso da história. A filosofia poder-se-à fazer Arqueologia segundo Michel Foucault, tentando descrever as formaçöes discursivas, resultados de estratégias e de práticas, livrando a história do pensamento da sua "sujeiçäo transcendental"; uma vez que o real e o discurso säo um, é possível conseguir sobre os discursos humanos historicamente havidos o que a lógica formal conseguia por sobre o discurso racional e a lógica transcendental por sobre o conhecimento de um real pensado como exterior ao sujeito. Os discursos podem ser levados até aos conceitos primeiros näo dedutíveis aos quis se dará o nome tradicional de categorias; a exposiçäo do fechamento das categorias mostrará entäo a unidade e a totalidade do discurso que se compreenderá a si mesmo depois de ter compreendido o outro. (J. Wilfert.)
DISCURSO (linguística)
Este termo - que näo tem equivalente na maior parte das línguas näo românicas, como o inglês ou o holandês, ou que tem um sentido diferente ou desviado do francês ( por exemplo, como no alemäo, em que o mesmo termo significa apenas um encadeamento racional ou intelectual) - é de uma grande ambiguidade conceptual. O Discurso coloca-se fora das dicotomias tradicionais em teoria linguistica, como a da língua e "parole" (fala-expressäo), sistema e processo, competência e performance. Os grandes linguistas estruturalistas, como Saussure e Hjelmslev näo operacionalizaram uma noçäo de discurso. Tal como a sintaxe, o discurso está livre da doutrina oficial de Saussure que, de qualquer modo, sente incomodado a sua atitude epistemológica, que é essencialmente dicotómica e reducionista: segundo as fontes manuscritas do "Curso de Linguística Geral" (R. Godel . Paris-Genéve 1957) ao discutir o estatuto do sintagma, Saussure escreve: " É com efeito aqui que existe algo de delicado na fronteira dos domínios da língua e da fala. A fronteira da língua e da fala é um certo grau de combinaçäo" (frgt D266). O discurso é assim entendido como um terceiro termo, entre a língua e a fala, tendo uma funçäo de subversäo das dicotomias. Pode presumir-se a mesma posiçäo em face das dicotomias de processo e sistema (em Hjelmslev), e de compet~encia e performance (em Chomsky). Em poucas palavras, será o discurso qualificável como sendo objecto de uma teoria linguistica e como gramaticalmente estruturado? Os estruturalistas näo encontraram resposta. Na maior parte dos casos o discurso é identificado com a fala, ou, simplesmente com a manifestaçäo (de superfície) da língua; o linguista Martinet chega a dizer que "o discurso näo tem nada que näo se encontre na frase". Dois acrescentos poderiam oferecer uma certa consistência epistemológica à noçäo de discurso, mesmo no interior de uma concepçäo estruturalista do fenómeno da linguagem: primeiro, ligar o discurso à faculdade de linguagem (de linguajar), essa capacidade sociocognitiva de produçäo linguistica, e em seguida, interpretar o discurso como uma sintagmática(...). É assim que Buyssens (1943) pode reavaliar o discurso enquanto objecto válido de uma teoria linguistica. Era o explorar de certas consideraçöes do Curso de Linguistica geral que eram já abertamente funcionais. Essa concepçäo funcional da linguagem abre, é verdade, todo o espaço à linguistica do discurso que se veio a tornar, nos nossos dias, o ramo piloto da pragmática: foi iluminando a origem psicossocial do acto de falar que a noçäo de discurso encontrou a sua pertinência epistemológica.
Acontece que essa incerteza sobre o estatuto epistemológico do discurso ainda se näo levantou. Lembremos a tensäo entre as noçöes de discurso e de texto. à partida, é preciso fazer notar que o discurso é ao mesmo tempo o acto e o resultado desse acto, a acçäo de produçäo verbal e o resultado concreto, visível ou audível. Em seguida e juntando-se a essa primeira ambiguidade, um discurso é um enunciado que tem propriedades textuais mas é ao mesmo tempo uma actividade que deve ser caracterizada a partir de certas condiçöes de produçäo contextualisadas. O discurso é, por consequência, um "texto contextualisado". O texto, nesta perspectiva é, como a lingua em Saussure, uma estrutura abstracta, um "objecto" reconstruido e hipotético resultante da nossa investigaçäo cioentífica. Mas o discurso entäo näo é afinal pura manifestaçäo
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