Foucault o Corpo e a Educação
Por: Elisangela Brito • 14/10/2016 • Artigo • 3.508 Palavras (15 Páginas) • 607 Visualizações
Foucault o corpo e a educação:
docilização moderna e possibilidades de libertação
“Devemos ainda nos admirar que a prisão se pareça com as fábricas,
com as escolas, com os quartéis, com os hospitais, e todos
se pareçam com as prisões?” (Foucault, 1987)
Introdução:
De acordo com o filosofo francês Michel Foucault, a escola é um espaço disciplinar. Na verdade ele é um espaço onde se aplica uma tecnologia disciplinar. Com este intuito, Foucault, denuncia a escola como espaço de docilização dos corpos, assim como outros espaços como prisões, quartéis, hospitais psiquiátricos etc. Enfim toda instituição moderna está à mercê deste sistema de controle e disciplina. Este sistema se dá a partir do século XVII, onde existe um aprofundamento das idéias modernas, de estado sob o domínio da razão, que tudo pode e coordena.
A escola se torna então um espaço aonde esta normativa vai se instaurar. Pelo motivo que já apresentamos, e por que além de ser um espaço delimitado, onde os alunos permanecem “trancafiados”, também é o espaço para a propagação de uma ideologia da modernidade, de um sujeito moderno.
Kant, sobre a pedagogia, afirma, ser a educação um problema muito importante, e vemos que a formação do indivíduos para uma maioridade em detrimento de um inferioridade é o ponto principal de uma educação. Abbagnano, afirma algo parecido no dicionário de filosofia:
A educação é definida não no ponto de vista da sociedade, mas do ponto de vista do indivíduo: a formação do indivíduo, sua cultura, torna-se o fim da educação, e também porque ela acontece em cada indivíduo e em cada contexto histórico. A definição de educação na tradição pedagógica do Ocidente obedece inteiramente a essa exigência. E é definida como formação do homem, amadurecimento do indivíduo, consecução da sua formação completa ou perfeita, etc.: portanto, como passagem gradual – semelhante à de uma planta, mas livre – da potência ao ato dessa forma realizada (ABBAGNANO, 2000, P. 306).
Kant em um sistema que leva em consideração o indivíduo, pois este é o pensamento reinante na modernidade. E esta busca é a da perfeição da sociedade moderna.
Um animal é por seu próprio instinto tudo aquilo que pode ser; uma razão exterior a ele tornou por ele antecipadamente todos os cuidados necessários. Mas o homem tem necessidade de sua própria razão [...] e precisa formar por si mesmo o projeto de sua conduta (Kant, 2006, p.12).
A busca por um homem que possa ser dono de si, e que possa se constituir de forma plena, pela razão perfeita.
O homem só pode tornar-se verdadeiro homem mediante a educação, e ele é tal como ele o faz. Deve-se notar que ele só pode ser educado por outros homens que, por sua vez, foram educados se um ser superior tomasse conta de nós, veríamos tudo o que o homem pode vir a ser... Se pelo menos uma experiência fosse feita com a ajuda dos poderosos ou com as forças colaborativas de muitas pessoas, poderíamos conhecer o ápice da capacidade humana. É extremamente penoso para o filósofo e para o filantropo constatar como os poderosos na maioria das vezes só pensam em si próprios e não tomam parte no importante experimento sobre a educação para fazer a humanidade aproximar-se da usa perfeição (CAMBI, 1999. p. 362).
De acordo com o autor, esta busca pela perfeição é uma busca da comunidade, e portanto, aqui encontramos um eco na obra de Foucault, pois vemos como se empanhe a sociedade como relação ao avanço social, e a implementação de um sistema de controle que possibilite o esta guinada da sociedade.
Mas voltando para Kant, a educação é um meio de desenvolvimento da liberdade:
Para Kant é somente a partir da educação que o homem pode alcançar, com plenitude, sua humanidade, pois a educação o “constrói”, fazendo com que ele seja capaz de gozar sua liberdade. A liberdade plena só pode ser alcançada a partir do momento em que o homem compreende que deve cumprir a lei moral e é capaz de cumpri-la. O papel da educação é aperfeiçoar as disposições que o homem já traz dentro de si referentes a esta lei. O autor considera que a educação deve atender a quatro aspectos imprescindíveis para seu desenvolvimento: a disciplina, a cultura, a civilidade e a moralidade. Segundo sua classificação a disciplina seria o componente principal da Educação Física que visa impedir que os resquícios de animalidade do homem prejudiquem sua humanidade – uma forma de “domar” sua selvageria. Depois de disciplinado, o homem encontra-se em condições de entrar em contato com os demais aspectos – que unidos constituem o que Kant denominou Educação Prática, também conhecida como educação moral. (Zeferino, 2009)
Portanto podemos observar a importância da educação para a modernidade, e como esta se insere como um saber de capital interesse para a sociedade. E como afirma Foucault, esta disciplina é que garante a formação de um indivíduo dócil.
A disciplina que submete o homem às leis da humanidade e começa a fazê-lo sentir a força das próprias leis. Mas isso deve acontecer bem cedo. Assim, as crianças são mandadas cedo à escola, não para que aí aprendam alguma coisa, mas para que aí se acostumem a ficar sentadas tranqüilamente e a obedecer pontualmente àquilo que lhes é mandado, a fim de que no futuro elas não sigam de fato imediatamente cada um de seus caprichos (KANT, 2006, p.13).
Esta declaração de kant, demonstra claramente o que Foucault vêm analisando e denunciando. Este sujeito está se moldando a uma sociedade dominadora e sem nenhuma crítica, desde muito jovem, o homem vai se amoldurando a este pensamento.
Um dos maiores problemas da educação é o poder de conciliar a submissão ao constrangimento das leis com o exercício da liberdade [...] É preciso habituar o educando a suportar que a sua liberdade seja submetida ao constrangimento de outrem e que, ao mesmo tempo, dirija corretamente a sua liberdade. Sem essa condição, não haverá nele senão algo mecânico; e o homem, terminada a sua educação, não saberá usar sua liberdade (KANT, 2006, p.32).
Por traz desta conduta está toda a ideologia do sociedade que aparece e que está nascendo neste momento histórico. E observamos isto na fala de um filósofo que reuniu fileiras de seguidores até a atualidade. E podemos perceber como esta ideologia está presente desde muito cedo na formação da educação. O campo que permite a criação de uma forma de controle é o saber, e o discurso. As pessoas são levadas a praticar estas ordens, sem se perguntar de onde vêm, por que educação é assim e não de outra forma.
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