Introdução à Leitura de Platão - Ménon (Alexandre Koyré)
Por: raphyza • 23/5/2021 • Abstract • 744 Palavras (3 Páginas) • 505 Visualizações
O tema da natureza da virtude e da maneira de adquiri-la atravessa quase todos os diálogos de Platão. Sócrates define que não sabe se e nem como a virtude poderia ser ensinada e desenvolvida por exercício e construída pela natureza, assim como não sabe o que é a virtude. Uma perspectiva não é conciliável com aqueles passos nos quais Platão parece efetivamente apresentar uma cooperação entre os fatores que determinam o surgimento da virtude, a questão da aquisição da virtude dependa da sua perspectiva particular, que não seria correto identificar imediatamente nem com aquela de Sócrates.
O tema da forma de aquisição da virtude e em geral das competências disciplinares estava no centro de um confronto que envolvia sofistas, retores, especialistas das diversas técnicas. O que é procurado é o sentido único e abrangente da virtude e não a multiplicidade de formas com que se apresenta. O diálogo prossegue com a colocação de Sócrates de que a virtude pode ser procurada mesmo não sabendo o que seja, esta colocação é importante, pois enfatiza mais o caminho a ser percorrido do que uma definição pronta e acabada. Uma constante indagação e busca de resposta para o entendimento da virtude é então o caminho, pois não se sabe o que é e tudo o que pode ser conhecido requer um trabalho de rememoração, conforme mencionado:
“Ora, sendo a própria justiça uma virtude, daí decorre que Ménon definiu a virtude por uma das suas particularizações ou, como diz Sócrates, o todo pela parte.” p. 19.
Pela dialética Sócrates realiza uma inquirição do sentido da justiça, como virtude e critério de valor que funda o plano político, com base no qual cada sociedade cria o seu sistema jurídico, as suas leis, de acordo com seu contexto histórico. É a instituição da justiça que instaura a liberdade dos cidadãos e a igualdade sem a qual não se pode participar do exercício do poder.
A maneira de adquirir a virtude deve comportar uma forma de pré-compreensão da natureza da virtude. A maneira como se pode conseguir a virtude, depende em certa medida do que se entende por virtude: se a arete tivesse a ver com o nascimento e com o pertencimento a um genos particularmente prestigioso, é evidente que ela não seria ensinável e dependeria inteiramente da natureza. A interrogação com a qual se abre o diálogo pressupõe uma certa unidade da virtude, porque não teria sentido se interrogar sobre a maneira de obter a virtude, se à noção de virtude faltasse unidade. Tudo isso significa que os chamados de Sócrates voltados a individuar um eidos unitário da arete resultam perfeitamente funcionais à solução da interrogação de Mênon.
Sócrates estabelece a identidade entre virtude e conhecimento, ou de qualquer modo, individualizava no conhecimento a condição simultaneamente necessária e suficiente de obtenção da virtude. A ausência de mestres de virtude induz a avançar na hipótese que o sucesso na ação não se produza só em razão do conhecimento, mas também graças à opinião correta. A fonte da virtude será constituída pela reta opinião, que representa, junto com o conhecimento, a outra causa da ação correta e útil. A virtude que ele possui constitui a verdadeira virtude, aquela virtude que se obtém por meio do conhecimento e que é ensinável. O seu ensinamento pode advir somente no interior do contexto da autêntica comunicação filosófica, conforme mencionado:
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