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Mentalidade Medieval

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Por:   •  22/3/2013  •  1.900 Palavras (8 Páginas)  •  1.762 Visualizações

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A mentalidade medieval

Ao estudarmos em detalhe alguns dos aspectos da vida cotidiana medieval, parece-nos conveniente chamar a atenção do leitor para alguns dos traços mais característicos do que poderíamos chamar “mentalidade medieval”.

Sobre alguns aspectos da vida medieval, particularmente nos séculos XIII e XIV, chamamos a atenção para a vitalidade, o equilíbrio e a magnífica civilização que caracterizam essa época, civilização essa encarnada em obras-primas e que produziu grandes homens de rara qualidade humana, que venerava como seus modelos: um São Luís; um São Francisco de Assis... O que poderíamos apontar como o primeiro traço característico da mentalidade medieval: a impregnação religiosa que não está necessariamente associada ao clericalismo e dá à alma uma singular liberdade em face de um mundo transitório que lhe compete dominar.

Sobre a religiosidade medieval é característico da religiosidade medieval que seus ideais espirituais encontraram expressão em um organismo sociológico definido. A vida espiritual não era uma aspiração vaga nem uma idéia abstrata. Era uma vida no pleno sentido da palavra, um modelo organizado de conduta, personificada em distintas formas institucionais e possuidora de uma existência econômica autônoma que a tornava, ao menos potencialmente, independente do mutável ambiente social que a rodeava.

Estudando especialmente a mentalidade medieval, apresentamos o senso prático como um de seus traços mais característicos: nossos antepassados medievais parecem não ter tido outro critério senão o da utilidade. Na arquitetura, na arte, no quadro da vida cotidiana, não propiciam lugar ao ornamento, ignoram a arte pela arte. Se uma goteira se transforma para eles em gárgula, é porque sua imaginação intensa permanece sem cessar desperta e aproveita tudo o que os sentidos lhe revelam, mas não teriam tido a idéia de esculpir gárgulas que não desempenhassem o papel de goteiras, como não teriam sonhado em desenhar jardins unicamente para o prazer dos olhos. Seu senso estético permite-lhes fazer surgir por toda a parte a beleza mas para eles a beleza não dispensa a utilidade. Há, pois na mentalidade medieval um espírito positivo, realista.

O amor à poesia é outra nota característica da mentalidade medieval. A poesia para as pessoas da Idade Média era uma forma natural de expressão, fazendo parte da vida da mesma forma que as necessidades materiais, ou, mais exatamente, que as faculdades próprias do homem como o pensamento e a linguagem. E aqui se revela ainda o já citado senso prático. O poeta não é para eles um anormal: é, ao contrário, um homem completo, mais completo que aquele incapaz da criação artística ou poética.

A atividade dos jongleurs ilustra bem o valor prático da poesia quando se envolvem em tudo que excita, no momento, as paixões da multidão: cantam ou recitam lamentações fúnebres, poemas apologéticos ou verdadeiros panfletos. Em Paris os jongleurs trabalham a opinião pública quer em proveito de um homem, de uma causa, de uma idéia e, às vezes, contra homens ou contra idéias. Lembremos, a título de exemplo, a atuação do famoso jongleur Rutebeuf que durante vários anos usou de seu talento para escrever poemas que tinham por fim lembrar aos cristãos seus deveres para com a terra santa, o heroísmo dos que haviam tombado na guerra santa, o amor e o devotamento ao sacrifício pela causa sagrada. Rutebeuf (século XIII) convida o povo a condenar o egoísmo dos cavaleiros que só pensam nos seus próprios interesses e a apoiar os ideais do rei e da Igreja.

A prudência, eis outra nota marcante da mentalidade medieval, que também não deixa de manifestar o senso prático do povo do medievo. O homem, na Idade Média, usa de tudo com medida: possui uma espécie de desconfiança inata de suas próprias forças que coexiste curiosamente com o élan e a audácia das grandes empresas a que a época assistiu.

A prudência medieval explica o grande respeito pela tradição, pelo costume. Tudo o que está consagrado pelo tempo torna-se inatacável e as descobertas, na arte, na arquitetura, na vida corrente, só se impõem à medida que se apóiam na experiência. A Idade Média é caracterizada como uma época de empirismo: não se fundamenta a vida sobre princípios determinados de antemão; os princípios diretores de uma existência decorrem das condições a que ela deve adaptar-se.

Essa prudência medieval parece estar bem expressa na afirmação de Roger Bacon: Natura non vincitur, nisi parendo (Só se vence a natureza, obedecendo-lhe) e é curioso lembrar que a teologia de Tomás de Aquino situa a educação da consciência no exercício da prudência.

A noção de liberdade individual é outra nota característica da mentalidade medieval, considerando que essa liberdade não aparece como um bem ou um direito absoluto, mas, antes, como um resultado: aquele cuja segurança está garantida, aquele que possui suficientemente terras para poder enfrentar os agentes do fisco, e defender, ele mesmo, o seu domínio, é considerado livre porque possui, de fato, a possibilidade de fazer o que lhe agrada. Os outros têm por princípio: segurança, em primeiro lugar, e não parecem, aliás, sofrer a restrição, imposta pela necessidade, à sua liberdade de locomoção, nem reivindicá-la como um direito preestabelecido. Observe-se, contudo, que o homem medieval é extremamente cioso dos direitos do grupo em que está integrado e que são considerados indispensáveis à sua existência: liberdades familiares, corporativas, comunais e outras foram sempre arduamente discutidas e reivindicadas; quando necessário, defendem-nas com as armas nas mãos.

O senso de humor constitui um significativo aspecto da mentalidade medieval. O homem da Idade Média possui o senso do ridículo, o prazer de rir e de fazer rir. Mistura com facilidade o sorriso com as mais austeras preocupações. É necessário ter presente este senso de humor para melhor compreensão de certas manifestações da época, do exato sentido de certos textos. Nada escapa a esta tendência, nem mesmo aquilo que a época tem no mais alto respeito; ficamos ás vezes chocados com cenas de tavernas, com fins jocosos, introduzidas nos Mistérios e seria completamente impossível, em nossos dias, reconstituir certas cerimônias religiosas ou oficiais sem escandalizar o público habituado a maior gravidade.

Um acendrado amor a tudo que está ligado diretamente à sua vida cotidiana: o lar, a paróquia, o domínio, o grupo a que pertence eis uma característica essencial da mentalidade do homem da Idade Média.

Uma cidade defende tão zelosamente suas liberdades como um senhor sua castelania; as associações se mostram tão intransigentes com seus privilégios, como um pai

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