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O Filósofo Francês Michael Foucault

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Por:   •  29/4/2014  •  1.391 Palavras (6 Páginas)  •  297 Visualizações

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chegou à deprimente conclusão de que “o homem não existe”,de O filósofo francês Michael Foucault que cada ser humano não passa de uma longa sequência de simulacros variados feitos,desfeitos e refeitos pelas circunstâncias variáveis da realidade na qual transcorre sua existência.

Ainda mais ousado, e talvez mais frívolo, Jean Baudrillard foi mais longe e concluiu que aquilo que acreditamos ser a realidade ao abraçarmos o ser amado ou ao mergulharmos uma pena em um tinteiro também não existe, porque a verdadeira realidade na qual vive o bípede contemporâneo não é o mundo em que ele acha que está pisando, mas sim as imagens que fingem refleti-lo e que não são outra coisa senão as versões enviesadas e manipuladas que os meios audiovisuais a serviço dos poderosos deste mundo produzem dele.

Essas divertidas, brilhantes e falaciosas produções intelectuais – assim ao menos eu as via – acabam de receber um surpreendente apoio, uma indicação concreta de que, se as coisas ainda não são assim, poderão chegar a sê-lo rapidamente, dadas as preocupantes características que a civilização que nos cerca vai adquirindo aqui e ali.

Vou expô-lo à minha maneira, que logicamente não é a de um filósofo, mas bem mais modesta, de um contador de histórias. Transportemo-nos, pelo Atlântico, para o centro da Amazônia, até Manaus, capital do Estado brasileiro do Amazonas, famosa por ter sido, no final do século XIX e começo do século XX, um dos principais centros do boom da borracha, do qual sobrevive, como recordação, uma ópera barroca onde se apresentou – ou se diz que se apresentou – Caruso. Até relativamente pouco tempo atrás, o rei da telinha em Manaus e em toda a grande região amazônica era um jornalista e produtor chamado Wallace Souza, que, fiel ao seu nome detetivesco, dirigia, na

televisão local, um programa policial chamado Canal Livre. Nele se divulgavam, com total realismo, os crimes, assaltos, estupros e demais ferocidades cotidianas com que, no Brasil e no mundo todo, os canais de televisão costumam garantir o seu cobiçado rating alimentando a morbidez e os piores instintos do grande público telespectador.

Foi tão grande o sucesso do programa, que Wallace Souza ficou famoso e decidiu, aproveitando-se da popularidade que gozava, passar do jornalismo audiovisual sensacionalista e truculento para a política (as duas coisas, no fim das contas, não estão tão distantes uma da outra). Conseguiu fazê-lo com uma rapidez assombrosa: nas últimas eleições, foi o deputado mais votado em todo o estado do Amazonas. Este é o auge da carreira pública de Wallace Souza, uma figura robusta, bigoduda e barbuda, com ternos sob medida e, segundo a imprensa, gesticulador e carismático.

Mudança de cenário, dentro da mesma exótica e sufocante cidade amazônica. A polícia local prende um rufião da região, ex-policial e pistoleiro, com um nome pomposo: Moacir Moa Jorge da Costa, suspeito de uma série de delitos e ações sangrentas, entre eles assassinatos. Interrogado e “dobrado” com métodos que não é difícil imaginar, ele confessa. Sim, matou, mas não foi por maldade nem por cobiça, mas profissionalmente, por encomenda do flamejante deputado e estrela midiática da Amazônia: Wallace Souza! Depois de se recuperar do choque produzido por essa revelação, os investigadores começam a ligar os fios e as peças então se encaixam, como em um quebra-cabeça. Todos os crimes que Moacir Moa Jorge da Costa cometeu ou de que teve participação passaram com destaque nos programas Canal Livre, e, em todos eles, as câmeras onipresentes e oniscientes do deputado chegaram ao local do crime ao mesmo tempo que os assassinos.

A investigação produz então o seguinte resultado, assustador: Wallace Souza praticava crimes aterrorizantes com o único propósito de poder filmá-los antes de seus concorrentes para obter a exclusividade que mantinha a audiência com os olhos presos na tela, alimentada a cada programa com sangue, ultrarrealismo e pestilência em abundância. Para isso, ele montara toda uma infraestrutura com colaboradores, hábeis no uso de revólveres e facas, selecionados entre as próprias forças da polícia, à qual – mais uma revelação – estivera ligado. Quinze deles já estão presos nos desconfortáveis calabouços de Manaus, mas não o herói do macabro conciliábulo de

bruxas, pois, sendo parlamentar e gozando da impunidade, a Assembléia Legislativa, precisaria, antes, cassá-lo, para que ele pudesse ser detido e julgado. Será? É preciso ter paciência: só o futuro dirá, e com muitas derivações e detalhes, pois meu instinto me garante que essa história ainda vai longe.

Até agora, trouxe os fatos. Passemos, agora, às conjecturas, detalhamentos e especulações. Do ponto de vista ético, como julgar Wallace Souza? É impossível negar que ele tivesse uma consciência profissional aguçada. Delinquiu, sim, mas com a nobre intenção de servir ao seu público, de não decepcioná-lo, de continuar lhe oferecendo aquele horror sanguinário que era o seu alimento predileto, que fazia Manaus inteira ligar o televisor e procurar o Canal Livre com a mesma ansiedade com que um fumante vasculha no seu maço de cigarros ou que um alcoólatra leva o copo à boca. A responsabilidade por ter chegado a esses excessos passíveis de

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