O Processo Migratorio
Trabalho Universitário: O Processo Migratorio. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: fabiamota • 10/11/2014 • 8.181 Palavras (33 Páginas) • 276 Visualizações
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A GLOBALIZAÇÃO INACABADA: MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS E POBREZA ...
SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 3, p. 3-22, jul./set. 2005
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Resumo: Este ensaio analisa as discrepâncias entre o discurso e a prática que marcam o atual processo de
globalização econômica e suas implicações para a migração internacional. Examina também as vantagens e
desvantagens da migração internacional sob diversos aspectos. Sugere a formulação de políticas migratórias
que revalorizam os aspectos positivos da migração, enquanto se trabalha na redução dos seus efeitos negativos.
Palavras-chave: Migração internacional. Globalização. Políticas migratórias.
Abstract: This paper analyzes the discrepancies between discourse and actual practice that mark the current
process of economic globalization and its implications for international migration. It also examines the
advantages and disadvantages of international migration from different angles. Finally, it recommends the
formulation of migration policies that build on the positive aspects while reducing the negative impacts of
migratory movements.
Key words: International migration. Globalization. Migration policies.
GEORGE MARTINE
A GLOBALIZAÇÃO INACABADA
migrações internacionais e pobreza no século 21
ara atuar sobre as migrações internacionais no século
21, é preciso entender como a globalização
afeta os deslocamentos espaciais da população. Nos
dias de hoje, o horizonte do migrante não se restringe à
cidade mais próxima, nem à capital do estado ou do país.
Seu horizonte é o mundo – vislumbrado no cinema, na
televisão, na comunicação entre parentes e amigos. O
migrante vive num mundo onde a globalização dispensa
fronteiras, muda parâmetros diariamente, ostenta luxos,
esbanja informações, estimula consumos, gera sonhos e,
finalmente, cria expectativas de uma vida melhor.
Entretanto, a globalização é parcial e inacabada, e isso
afeta as migrações de várias maneiras. O dinamismo e a
força principal da globalização residem na integração
econômica, forjada, imposta e gerenciada pelas regras
do liberalismo. Essas regras, porém, são seguidas seletivamente
pelos próprios países que as promovem. O resultado
é que a globalização apresenta dificuldades e
morosidades no cumprimento de suas promessas. Muitos
países crescem pouco ou nada e, enquanto isso, as
disparidades entre ricos e pobres aumentam. Tais desigualdades
contribuem para aumentar o desejo, e até
mesmo a necessidade, de migrar para outros países. Entretanto,
as regras do jogo da globalização não se aplicam
à migração internacional: enquanto o capital financeiro
e o comércio fluem livremente, a mão-de-obra se
move a conta-gotas.
Este ensaio procura explicitar melhor algumas dessas
inconsistências e suas implicações para a migração internacional.
Começa com uma breve análise das discrepâncias
entre o discurso e a prática que marcam o processo
de globalização econômica na atualidade. Tais inconsis4
SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 3, p. 3-22, jul./set. 2005
GEORGE MARTINE
tências estão na raiz da insatisfação e da frustração observadas
em muitas sociedades e grupos sociais. Uma das
discrepâncias diz respeito justamente às limitações que
sofre a migração internacional. Se a lógica do modelo dominante
contempla e até mesmo exige a migração internacional,
por que esta não acontece em maior volume? A
segunda parte deste ensaio procura responder a essa pergunta,
tentando mostrar que a maioria dos supostos obstáculos
à migração internacional é exagerada ou inconsistente.
Nesse sentido, o ponto de partida para a
formulação de políticas migratórias consistiria na revalorização
dos aspectos positivos da migração, e na redução
progressiva de seus efeitos negativos.
Para poder idealizar políticas eficazes de migração,
nessa visão, é importante entender o deslocamento espacial
como parte das estratégias de sobrevivência e de
mobilidade social da população. É interessante observar
que, mesmo entre os pensadores, acadêmicos e ativistas
(muitos deles, migrantes), existe um sentimento implícito
e maldefinido de que, de alguma forma, o sedentarismo e
a imobilidade seriam preferíveis à migração. Entre aqueles
que
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