Philosophy in the flesh
Resenha: Philosophy in the flesh. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Mayelle • 30/3/2013 • Resenha • 1.551 Palavras (7 Páginas) • 1.000 Visualizações
AKOFF, George; JOHNSON, Mark. Philosophy in the flesh: the embodied mind and its challenge to western thought1. New York: Basic Books, 1999.
Adriana da Silva Oliveira*
Clotildes Maria de Jesus Oliveira Cazé**
Philosophy in the Flesh: The Embodied Mind and Its Challenge To Western Thought, livro escrito por George Lakoff e Mark Johnson dividido em quatro partes com vinte e cinco capítulos, ainda sem tradução para o português, traz entendimentos referentes às ciências cognitivas e à tradição filosófica ocidental, questionando a maioria das crenças que atam à existência humana a racionalidade.
George Lakoff é professor de Linguística na University of California em Berkeley. Mark Johnson é professor de Filosofia na Southern Illinois University, Carbondale; ele também publicou o livro The Body in the Mind: The Bodily Basis of Meaning, Imagination, and Reason2 (1987).
Os autores apontam as três maiores descobertas das ciências cognitivas: a mente é corporificada, o pensamento é em parte inconsciente e os conceitos abstratos são em parte metafóricos. Analisadas em detalhes, estas descobertas mostram a inconsistência de questões centrais da filosofia ocidental apontando a necessidade de revisão de parte da filosofia analítica anglo-americana e pós-modernista. Para isto, abordam a visão de filósofos em diferentes épocas, as implicações das descobertas da ciência cognitiva na existência humana e na revisão de conceitos sobre o corpo, a mente e seus enlaces.
Por mais de dois milênios, a razão tem sido a definidora das características dos seres humanos. Inclui a capacidade de inferência lógica e a habilidade para condutas: inquirir, resolver problemas, avaliar, criticar, deliberar sobre como agir e alcançar uma compreensão de nós mesmos, de outras pessoas e do mundo. Uma mudança na compreensão de razão é, portanto, uma mudança na compreensão de nós mesmos.
O tema central discutido por Lakoff e Johnson é o entendimento da razão segundo as ciências cognitivas a partir dos estudiosos da segunda geração. As pesquisas explicam o realismo corporificado, o inconsciente cognitivo3 e o papel da conceitualização e dos questionamentos, sendo estes intencionais e representacionais. Estas ações dependem dos órgãos sensoriais, da habilidade para nos mover e manipular objetos, da estrutura cerebral, da cultura e outras interações com o ambiente. Este corpo transitório ocorre em nível neural, em nível fenomenológico e também no inconsciente cognitivo.
Este tema é contemporâneo e tem provocado polêmicas entre adeptos da filosofia ocidental tradicional e os novos entendimentos de corpo. Defendendo suas idéias, os autores recorrem a argumentos das ciências cognitivas e da neurociência. Eles afirmam que a razão está no corpo, se concretiza a partir da natureza dos cérebros, corpos e experiências sensório-motoras, sendo construída pelas peculiaridades do corpo humano, pelos detalhes da estrutura neural e pelas especificidades da função cotidiana no mundo.
Lakoff e Johnson explicam que a razão é evolutiva, construindo e utilizando formas de inferências motoras e perceptivas presentes em outras espécies; é o lugar de continuidade entre nós e os animais. Ela é uma capacidade universalmente compartilhada por todos os seres humanos; é consciente, tendo parte inconsciente. Afirmam ainda que a razão não é totalmente literal, sendo em grande parte metafórica, imaginativa e emocionalmente engajada, co-dependente do contexto.
A idéia predominante na obra está ligada à organização e à função dos cérebros que se baseiam na integração corpo/mente. Estas idéias mudam os conceitos filosóficos de razão, pois se contrapõem à epistemologia cartesiana, mecanicista e dualista que por muito tempo perpassou os entendimentos de corpo e mente.
Na introdução, “Como a mente corporificada desafia a tradição filosófica ocidental”, os autores reveem a compreensão de questões filosóficas centrais da existência humana diante das mudanças do entendimento da noção de razão. O entendimento do inconsciente cognitivo como parte constitutiva da consciência é fundamental para o processo de construção do sistema conceitual mediado pela compreensão de mundo. Os autores consideram que a razão abstrata não é separada do sistema sensório-motor, são construídos juntos a partir da ação sobre o mundo.
Lakoff e Johnson discutem as teorias que perpassam a construção das metáforas simples, lembrando que, na fase da conflação4, as crianças pequenas não distinguem as experiências subjetivas das experiências sensório-motoras e que as associações são construídas automaticamente entre os dois domínios, sendo esta a base para o aprendizado das metáforas conceituais primárias. Afirmam também que mesmo após este período as associações de domínio cruzado persistem.
No primeiro capítulo intitulado “Idéias filosóficas básicas da ciência cognitiva”, os autores observam o experimentalismo como uma filosofia que emerge a partir da segunda geração das ciências cognitivas, sendo importante para a compreensão de idéias básicas como noção de tempo, relação causa e efeito, mente, “eu interior” e moral nesta perspectiva. Estas noções são metáforas constituídas pelo sistema conceitual no inconsciente cognitivo. São dependentes da realidade e emergentes da biologia humana pela associação das experiências subjetivas às experiências sensório-motoras.
No segundo capítulo, “A ciência cognitiva da filosofia”, realiza-se um desmonte das bases epistemológicas da filosofia ocidental a partir da análise das metodologias empíricas da própria filosofia. São considerados exemplos de teorias e analisados tópicos gerais como a metafísica, a epistemologia e a teoria moral examinadas por filósofos, como os Pré-Socráticos, Platão, Aristóteles, Descartes, Kant e autores da Filosofia Analítica a partir de argumentos das ciências cognitivas.
Lakoff e Johnson revisam também algumas das descobertas das ciências cognitivas corporificadas para a filosofia, buscando uma nova compreensão dos conceitos básicos vistos na segunda parte do livro. Estas novas concepções resultam do uso dos instrumentos e métodos da ciência cognitiva corporificada para analisar conceitos filosóficos.
Na parte final – “Filosofia corporificada5” – os autores propõem um diálogo entre a filosofia e a ciência cognitiva, espaço no qual elas co-evoluem e mutuamente se enriquecem. Argumentam sobre a importância da prática de uma “filosofia empiricamente responsável”, tendo por base a experiência na compreensão do que nós somos nesta perspectiva da existência humana.
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