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Prefácio Como Uma Mensagem

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Por:   •  12/9/2013  •  2.424 Palavras (10 Páginas)  •  391 Visualizações

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O presente livro tem a pretensão de ser um livro de filosofia, e uma filosofia que toma as coisas e o próprio mundo novamente sob o ponto de vista da totalidade. Ou seja, uma filosofia que ensejaria a construção de um sistema em que tudo caiba, através do qual tudo possa ser compreendido e justificado.

O ponto de vista sistêmico encontra-se, na filosofia dos dias atuais, “fora de moda”. Tal ponto de vista – do qual o representante mais destacado foi Hegel – decaiu no conceito dos filósofos justamente pela frustração que aquele pensamento e suas implicações posteriores gera¬ram. Pretendemos mostrar, no entanto, que Hegel tinha razão quando sustentou que “a verdade está no todo”. E se é verdade que a “verdade” está no todo, é possível que o ser humano tenha de encará-lo novamente, ainda que tenha se frustrado quando tentou fazê-lo pela última vez. Dissemos “é possível”, pois também é possível que esteja fora das pretensões ou das possibilidades do ser humano encarar esta “verdade”. Se for isso, nosso livro é vazio e sem sentido, e resta para a filosofia apenas as abordagens parciais, e para o ser humano viver na ignorância em relação a certas questões fundamentais da existência, até o dia em que a espécie humana desapareça da face da Terra. Não obstante, acreditamos não ser assim, e que apenas estamos frustrados pela nossa última tentativa infrutífera.

Quando nos frustramos, é por que existe lá algo que desejamos. E se nos frustramos, significa também que não fomos bem-sucedidos quando intentamos satisfazer nosso desejo, e que lá onde estava o desejo ficou o medo. Acontece que não podemos anular o que deseja¬mos e, presumivelmente, se desejamos é para que busquemos. Logo, é possível que um dia tenhamos de enfrentar de novo aquele medo, que surgiu da frustração. Essa é uma lei que vale para o indivíduo e para a vida individual. Mas nela sempre podemos fugir deste enfrentamento e “deixar assim”, até morrer com alguns medos incólumes. Neste particular porém, o que vale para o indivíduo vale também para o coletivo, com a diferença de que, possivelmente, no coletivo acontecerá tudo aquilo que está em nosso caminho, ainda que individualmente seja humanamente impossível fazer um enfrentamento pleno. De tal forma que, se a visão sistêmica resultou em medo e frustração, se é verdade que a “verdade” está no todo, e se é um fato que desejamos descobrir a “verdade”, então é possível que tenhamos de enfrentar coletivamente essa frustração e esse medo, para que tentemos novamente nos pôr a caminho em direção a tal “verdade”.

O que seria esta “verdade” e que relação tem ela com o que quere¬mos, ou seja, com a realização de nossos desejos enquanto indivíduos e enquanto humanidade? Ora, a filosofia sabe desde o seu nascimento que buscamos o conhecimento para sermos felizes. Ou seja, o que o ser humano busca, independentemente da época e lugar, é ser feliz, e, se ele quer descobrir coisas que desconhece, é claro que ele busca des¬cobrir como ser mais feliz, como viver mais e de maneira abundante. Num limite mesmo, ele quer viver eternamente, e uma vida plena de felicidade. À luz da razão isso parece algo fora de cogitação, pois ela nos mostra que tudo o que vive morre. Porém, essa “verdade” que segundo Hegel reside no todo, é possível que possa nos conduzir a um conhe¬cimento que vá além da razão e que permita descobrir que o que parece impossível sob sua luz seja possível sob outra. Pois a rigor, a rigor, tudo é possível. Por isso mesmo, quando saímos em busca da realização de nossos desejos pode suceder que descubramos que o mundo não é como supomos. Pois se tudo é possível, e se suspeitamos disso, pode ocorrer que nossa busca desmascare este fato e nos leve a algum grau de desmanche do mundo que consideramos real. Neste caso, nos de¬paramos com aquele inimigo, que sempre está à espreita ao lado do caminho: o medo. Ele não é nosso único inimigo, ainda veremos, mas certamente ele é o primeiro.

Para enfrentar o medo, necessitamos de coragem, e para vencê-lo, de clareza. Uma clareza que vem da persistência, que vem ela mesma da coragem. Usando uma imagem conhecida, o medo do mar que aco¬metia o ser humano só foi vencido quando ele percebeu que a Terra era redonda e, portanto, a navegação no mar não conduziria ao abismo, ainda que ela importe algum perigo. Ele percebeu isso, num primeiro momento, de maneira apenas reflexiva. Do ponto em que percebeu a esfericidade da Terra reflexivamente até o ponto em que trouxe esta constatação para a realidade prática, dando início à con¬quista da América e à Era Moderna, houve um período em que o velho medo ainda asso¬lava a mente e rondava o mundo medieval. Mas, depois que o ser hu¬mano levou para a prática aquilo que ele já percebera reflexivamente, a Terra “emergiu redonda do azul profundo”, como nos diz o poema de Fernando Pessoa. A ação concreta do descobrimento trouxe um mundo agora iluminado por uma nova luz e expulsou para longe aquele medo medieval. Mas era só o início de um novo momento, com seus desafios, seus quereres, suas frustrações e seus medos.

Olhemos agora para esse medo que tomou conta do ser humano na Idade Média. Ele era um medo específico, inerente a uma sociedade e a um momento histórico específicos. No entanto, ele era medo, e nasceu como nascem todos os medos. E todo o medo surge por desco¬brirmos que o mundo não é como supomos. Então, a sociedade medieval foi assolada pelo medo quando percebeu que o mundo não era como supunha. Duas visões antigas (a tradição grega e a judaico-cristã) se cruzaram naquele ponto histórico, e o mundo, que era sólido, desman¬chou. Mas além do medo este cruzamento trouxe uma capacidade de lidar de um modo diferente com as coisas. Aos poucos, a sociedade medieval venceu o medo e deu vazão à sua curiosidade e à sua vontade de conquistar um “outro mundo”, que pretensamente existia depois do mar. Então, a Terra se iluminou com outra luz, outra clareza. A partir daí, nunca mais a civilização ocidental-europeia temerá o mar, ao menos naquele nível, e ao menos aquele mar.

No caso da filosofia, a vontade de a tudo descobrir, que é seu motor, é uma vontade equivalente à vontade de cruzar o mar. E quando nos deixamos conduzir por ela, é presumível que também aqui aca¬bemos descobrindo que o mundo não é como supomos. Pois, se desco¬bríssemos que o mundo é como supomos, que sentido teria o caminhar e a vontade de descobrir? Então, por um raciocínio simples e plena¬mente lógico, se queremos descobrir, e se o medo é resultado de desco-brirmos que o mundo não é como supomos, concluímos que o medo está no caminho também da filosofia. E de fato ele está. E foi ele que nos frustrou, no caso da visão sistêmica. Mas, se

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