Sociologia Da Classe Alta
Dissertações: Sociologia Da Classe Alta. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: • 12/2/2015 • 7.235 Palavras (29 Páginas) • 294 Visualizações
RICO MESMO NÃO RECEBE SALÁRIO. VIVE DE RENDA. VIVE DE LUCROS. DE INVESTIMENTOS. DOS JUROS PRODUZIDOS POR SEU CAPITAL .
POR INVCRÍVEL QUE PAREÇA. 40.000 POR MÊS DE SALÁRIO, NÃO É RIQUEZA, “APENAS” COLOCA A PESSOA NA CLASSE MÉDIA ALTA. (QUE NÃO SÃO OS VERDADEIRAMENTE RICOS).
O CAPITAL NÃO DEVE SER ANALISADO SOB UM ÚNICO VIÉS. O CAPITAL POSSUI DIVERSAS FORMAS, DIVERÇOS TRUQUES, DIVERSAS DISSIMULAÇÕES.
OS RICOS TEM OS MELHORES ADVOGADOS QUE O DINHEIRO PODE COMPRAR. LOGO, TEM OS MELHORES. ADVOGADOS CAPAZES DE QUALQUER COISA, DE PRECESSAR VC POR ESTAR PRÓXIMO A UM RICO SEM TER AUTORIZAÇÃO PARA ISSO. OU MESMO POR RESPIRAR DE FORMA “OFENSIVA” PRÓXIMO DO RICO. POR AI SE PODE VER A DIFICULDADE DE SE LEVAR UMA PEQUISA SOCIOLÓGICA QUE TOMA COMO BASE AS MILHIONÁRIOS E MESMO O BILHIONÁRIOS, A DIANTE .
Ruth Costas
Da BBC Brasil em São Paulo
Fortuna de super-ricos é 'incontrolável', diz sociólogo
A PARTIR DE UM CERTO NÍVEL MUITAS FORTUNAS NÃO TEM MAIS ORIGEM NO “EMPREENDEDORISMO”, MAS EM SITUACÕES DE PODER (APROVEITADORES). É ESSE O CASO DOS MONOPÓLIOS, POR EXEMPLO, QUE REDUZEM A EFICIÊNCIA DA ECONOMIA COMO UM TODO. AO ANULAR A CONCORRÊNCIA, UM DETERMINADO GRUPO IMPÕE SEU PREÇO, SUA PRÁTICA DE NEGÓCIOS, SE VALE DE MECANISMOS TRIBUTÁRIOS PARA AUMENTAR SUA RIQUEZA. ALÉM DA EXPLORAÇÃO DESUMANA DE MÃO DE OBRA SEMI-ESCRAVA, AMAPARADA POR AUTORIDADES LOCAIS EM CANTÕES LONGÍNQUOS DO BRASIL. VOCÊ JÁ PAROU PARA IMAGINAR QUANTA RIQUEZA É PRODUZIDA EM 8 OU 10 HORAS DE TRABALHO FORÇADO EM VIRTUDE DAS CONDIÇÕES DE SOBREVIVENCIA EM TRACA DE UMA SALÁRIO MÍNIMO ?? OU MESMO QUE SEJAM DOIS SALÁRIOS.
É UM MITO ESSA IDEIA DE QUE TODA RIQUEZA É PRODUTO DE TALENTO E TRABALHO DURO. (QUAL A ORIGEM DISSO ?) HÁ RARAS FORTUNAS QUE SÃO ASSIM.
RICO MESMO NÃO RECEBE SALÁRIO. VIVE DE RENDA. VIVE DE LUCROS. DE INVESTIMENTOS. DOS JUROS PRODUZIDOS POR SEU CAPITAL .
POR INVCRÍVEL QUE PAREÇA. 40.000 POR MÊS DE SALÁRIO, NÃO É RIQUEZA, “APENAS” COLOCA A PESSOA NA CLASSE MÉDIA ALTA. (QUE NÃO SÃO OS VERDADEIRAMENTE RICOS).
O CAPITAL NÃO DEVE SER ANALISADO SOB UM ÚNICO VIÉS. O CAPITAL POSSUI DIVERSAS FORMAS, DIVERÇOS TRUQUES, DIVERSAS DISSIMULAÇÕES.
OS RICOS TEM OS MELHORES ADVOGADOS QUE O DINHEIRO PODE COMPRAR. LOGO, TEM OS MELHORES. ADVOGADOS CAPAZES DE QUALQUER COISA, DE PRECESSAR VC POR ESTAR PRÓXIMO A UM RICO SEM TER AUTORIZAÇÃO PARA ISSO. OU MESMO POR RESPIRAR DE FORMA “OFENSIVA” PRÓXIMO DO RICO. POR AI SE PODE VER A DIFICULDADE DE SE LEVAR UMA PEQUISA SOCIOLÓGICA QUE TOMA COMO BASE AS MILHIONÁRIOS E MESMO O BILHIONÁRIOS, A DIANTE .
Ruth Costas
Da BBC Brasil em São Paulo
O sociólogo Antonio David Cattani, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul com formação na Paris-Sorbonne, diz ter escolhido um caminho diferente de 99% de seus colegas.
Enquanto a maioria dos cientistas sociais se debruçam sobre questões relativas a pobreza e a miséria, Cattani resolveu desbravar o outro lado da problemática da desiguandade social - a extrema riqueza, ou os super-ricos.
A escolha já foi mais difícil de ser justificada. Desde que o francês Thomas Piketty tornou-se um best-seller com a tese de que o capitalismo está concentrando renda em vários países, o que ocorre no topo da pirâmide social global tem ganhado um pouco mais de espaço nos debates de economistas e sociólogos - ao menos no exterior.
Para Cattani, no Brasil a situação é um pouco diferente da de outros países, porque aqui ao menos se avançou no combate à pobreza. "Mas só isso não basta. Precisamos reduzir a distância entre ricos e pobres para termos uma sociedade equilibrada, com qualidade de vida e sem violência", defende.
Em A Riqueza Desmistificada (ed. Marcavisual) - livro escrito durante um ano de estudos na Universidade de Oxford, no Reino Unido - o pesquisador defende que a extrema riqueza precisa deixar de ser um "tabu" para que possamos entender o papel dos multimilionários na economia, na política e na sociedade brasileria. Confira abaixo a entrevista concedida por Cattani à BBC Brasil:
BBC BRASIL: O que o caso Eike Batista diz sobre o modo como encaramos a riqueza em nossa sociedade?
Cattani - Eike teve uma ascenção meteórica que envolveu o uso de recursos públicos e, aparentemente, também informação previlegiada. Mas havia um certo deslumbramento da opinião pública por ele. No auge de sua carreira, centenas de pessoas pareciam dispostas a pagar US$ 1.000 ou US$ 2.000 para ouvir uma palestra sua. E não havia qualquer questionamento sobre a forma como seu império foi construído - um gigante com os pés de barro.
De certa forma isso ocorreu porque há um fascínio em torno da riqueza, um deslumbre. Os grandes empresários, executivos, e ricos de uma maneira geral são tratados como superiores.
É natural que a riqueza seja vista como algo positivo, que todos almejam. Isso é até legítimo. Mas esse deslumbramento tem impedido uma análise mais rigorosa sobre como algumas dessas fortunas são construídas - o que pode envolver processos abusivos e predatórios, monopólios, vantagens junto ao poder público e outros subterfúgios, como no caso de Eike.
Leia mais: Brasil é 10º país com maior número de multimilionários, diz estudo
BBC BRASIL: Por que o sr. escolheu estudar os ricos?
Cattani - Cerca de 99% dos estudos na área de ciências sociais se debruçam sobre os pobres, a classe média e a classe trabalhadora. Poucos estudam os ricos. Mas em um dos países mais desiguais do mundo o estudo da riqueza é crucial. É o topo da pirâmide social que controla os meios de comunicação, as grandes empresas, os negócios e processos políticos e eleitorais, tomando decisões que afetam todo o resto da população. Ou seja, os ricos e super-ricos ajudam a influenciar processos que determinam a estrutura da sociedade.
Os pobres são milhões mas têm um poder mais limitado, não estão organizados, estão sob a influência dos meios de comunicações. Às vezes, meia dúzia de megaempresários influencia decisões econômicas que alteram a vida de todos.
O financiamento das empresas às campanhas políticas, por exemplo, me parece inconveniente. Por que elas dão milhões para esse ou aquele candidato? De alguma forma, querem retorno - e isso não ajuda a melhorar a qualidade de nossa democracia.
Antonio David Cattani
Antonio David Cattani, da UFGRS
Alguns dados apontam que 1% da população controla de 17% a 20% de toda riqueza nacional. E os ricos, como os pobres, não são autorreferentes ou autoexplicativos. Ou seja, a riqueza ajuda a explicar a pobreza - e vice-versa. Por isso, temos de entender como se estrutura essa sociedade de alto a baixo. Não que os estudos sobre os pobres não sejam importantes, mas eles precisam ser complementados com análises de economistas e sociólogos sobre o topo da pirâmide - e sobre de que forma esse topo está acumulando sua fortuna.
BBC BRASIL: Por que é tão difícil estudar o topo da pirâmide social?
Cattani - A riqueza é tratada em nossa sociedade como um objeto de veneração, um totem, algo superior que precisa ser respeitado. É um tema proibido.
Além dessa dimensão ideológica, há as dificuldades práticas. Os pobres são acessíveis. Os pesquisadores podem entrar em suas casas e fazer as perguntas mais inconvenientes sobre todos os aspectos de suas vidas. Eles respondem porque esperam que isso possa ajudá-los a melhorar a sua situação.
Já os multimilionários não respondem às pesquisas porque não têm interesse em informar sobre a origem e a exata dimensão de sua riqueza. Não querem que ninguém vá bisbilhotar seu patrimônio. E o resultado é que os dados estatísticos sobre eles são extremamente fracos. Não dá para confiar apenas na declaração de imposto de renda - até porque poucos ricos são assalariados. E é difícil obter dados sobre o patrimônio. Muitos multimilionários mantêm parte de sua riqueza no exterior - têm imóveis em Paris, Londres ou Miami e escondem fortunas em paraísos fiscais.
Para completar, eles são protegidos por mecanismos legais e jurídicos, como o sigilo bancário e de declaração do imposto de renda.
BBC BRASIL: Piketty tenta há alguns anos estudar o Brasil, mas um de seus colaboradores relatou a BBC Brasil ter dificuldade em acessar dados da Receita Federal...
Cattani - Acho que no Brasil há regras específicas que garantem o sigilo desses dados e pouca colaboração das autoridades.
Leia mais: Crítico sensação do capitalismo quer estudar o Brasil, mas Receita não libera dados
BBC BRASIL: Quem são esses ricos?
Cattani - É difícil quantificar isso. No Brasil, em geral as pesquisas demográficas e sociais estabelecem um patamar de renda de R$ 6 mil, às vezes R$ 10 mil por mês - elas dizem: todo mundo que está acima disso é rico, é classe A. Mas precisamos estabelecer melhor as diferenças dentro desse grupo. Quem ganha R$ 6 mil por mês pode ter um bom padrão de vida, mas seu poder e o impacto na sociedade é muito diferente do que quem ganha centenas de milhares de reais.
A partir de um certo patamar, o indivíduo em questão dispõe de uma corte de serviçais, assessores tributaristas e advogados para ajudar a multiplicar sua fortuna, assessores de marketing pessoal e institucional. Faz parte do topo da pirâmide que verdadeiramente tem poder. No caso dos super-ricos eu trabalho com um percentual de 0,1% da população adulta, por exemplo.
Eike Batista (Reuters)
Eike Batista diz que agora é "classe média"
Também há um patamar em que a riqueza gera riqueza continuamente - mesmo em situação de crise, quando a economia real sofre. Uso um conceito interessante que é o de "riqueza substantiva" - essa riqueza tão grande que escapa até ao controle político. Quem é assalariado não tem noção do que é ganhar milhões de dólares, mês após mês, ano após ano. Nem quem tem uma pequena empresa, um apartamento na praia e um mesmo automóvel do ano. Tem lá seu capital, alguns trabalhadores - mas não tem uma riqueza que se multiplica continuamente.
BBC BRASIL: O sr menciona no livro a série de TV Mulheres Ricas, de 2012. Temos os colunistas sociais, revistas sobre ricos e famosos ... Até que ponto o mundo dos super-ricos está mesmo oculto, como o sr diz?
Cattani - Um famoso apresentador de TV pode tirar uma foto em seu iate para mostrar como é bem sucedido. Mas essa publicidade é pouco relevante - e eles só mostram o que interessa a eles . O próprio Eike era uma excessão. Há toda uma camada de ricos do setor financeiro, do agronegócio que são discretissimos, não tem interesse nenhum em se mostrar. Circulam inclusive em outra esfera, a internacional.
BBC BRASIL: Afinal, há algum problema em ser milionário ou bilionário? Não é "justo" que um indivíduo talentoso e que trabalha duro possa gozar dos frutos de seus esforços?
Cattani - A partir de um certo nível muitas fortunas não tem mais origem no empreendedorismo, mas em situacões de poder. É esse o caso dos monopólios, por exemplo, que reduzem a eficiência da economia como um todo. Ao anular a concorrência, um determinado grupo impõe seu preço, sua prática de negócios, se vale de mecanismos tributários para aumentar sua riqueza.
É um mito essa ideia de que toda riqueza é produto de talento e trabalho duro. Há raras fortunas que são, sim, resultado de um esforço legítimo e talentos empresariais. Mas a grande maioria ou são herdeiros que não fazem bom uso do que receberam, ou multimilionários de mentalidade rentista (?), riquezas montadas a partir de privilégios e práticas ilegítimas (criminósas). A riqueza extrema também pode ser nefasta para os negócios, para a “democracia” que fingimos possuir, e para o próprio capitalismo.( Por isso há policiamento e investigação serrada em ricos emergentes, ou mesmo a eliminação de multimilionários que podem por em risco ou prejudicar a imagem do capitalismo como um todo). ( Os ricos se alto regulam, e se vigiam).
Leia mais: Ricos brasileiros têm quarta maior fortuna do mundo em paraísos fiscais (ler onde?)
BBC BRASIL: O Brasil é um dos poucos países em que a desigualdade de renda teria diminuído nos últimos anos. Estamos no caminho certo?
Cattani - Estamos no caminho correto das políticas públicas para redução da pobreza, mas as distâncias entre os ricos e os demais ainda são imensas. Há muito a fazer no tema da concentração de renda.
O problema é que quem está no topo da pirâmide quer manter seus privilégios. No Brasil, o pobre paga proporcionalmente mais imposto, por exemplo. Não há impostos sobre heranças e doações, como em muitos países desenvolvidos. Também não há imposto sobre dividendos e rendimentos do capital. Quem ganha milhões com dividendos não paga nada, enquanto um assalariado a partir de dois mil, três mil reais já paga imposto de renda. Precisamos de uma reforma na área tributária, além de um combate mais firme a paraísos fiscais.
BBC BRASIL: Por que é importante combater a desigualdade? Não basta combater a pobreza?
Cattani - Enquanto não avançarmos nessa área, não teremos uma sociedade mais equilibrada, com mais qualidade de vida e no qual todos tenham boas oportunidades de trabalho para desenvolver suas capacidades. Há estudos que mostram que a violência está diretamente relacionada às distâncias sociais, por exemplo. Além disso, a partir de determinado patamar, a concentração de renda prejudica a eficiência de uma economia, tira dinamismo do mercado interno. É melhor ter uma fortuna reinvestida na produção, gerando emprego, do que imobilizada em uma mansão luxuosa ou em contas no exterior.
Sociologia da alta burguesia¹
Sociology of the haute bourgeoisie
Michel Pinçon; Monique Pinçon-Charlot
Sociólogos, diretores de pesquisa no CNRS (Centro Nacional da Pesquisa Científica) e trabalham no CSU (Culturas e Sociedades Urbanas) do IRESCO (Instituto de Pesquisa sobre as Sociedades Contemporâneas) Paris. França
RESUMO
Enquanto a pobreza é estudada sob todos os ângulos possíveis, as classes mais ricas raramente são objeto de análises sociológicas. Neste artigo são discutidas as causas desse desequilíbrio, a começar pela timidez dos sociólogos. Os obstáculos metodológicos provém, em parte, da origem social dos pesquisadores que ficam mais a vontade nas pesquisas sobre a população pobre e os movimentos sociais e inibidos em face das classes abastadas. A esse problema subjetivo se agrega um segundo relativo ao desinteresse ou à recusa dos ricos em fornecer informações tornando a avaliação das fortunas um exercício complexo.
O tema sofre também preconceitos teóricos e sociais tendo pouca legitimidade acadêmica; o pesquisador é frequentemente acometido de um mal-estar deontológico que dificulta sua relação com o objeto de estudo. Por fim, o distanciamento social se traduz numa ambígua relação de dominação.
Palavras-chave: Teoria Social, Classes sociais, Sociologia da burguesia, Sociologia da classe dominante, Metodologia de pesquisa sobre classes sociais.
ABSTRACT
While poverty is studied from all possible viewpoints, wealthier classes are seldom the object of sociological analyses. This article discusses the causes of this imbalance, starting with the reluctance of sociologists. Methodological obstacles result partly from the social background of researchers, who feel more comfortable studying the poor population and social movements, and become hesitant faced with the affluent classes. To this subjective aspect should be added a second issue: the wealthy classes' lack of interest or refusal to provide information, making the evaluation of wealth into a complex exercise. The subject also suffers from theoretical and social prejudice, with low academic legitimacy; researchers are often stricken by a deontological unease that hampers their relationship with their object of study. Social distancing is finally translated into an ambiguous relationship of domination.
Key words: social theory, social classes, sociology of the bourgeoisie, sociology of the dominant class, social class research methodology
A pobreza se deixa auscultar, inventariar, descrever. São numerosos os estudos sobre os conjuntos habitacionais populares, sobre as famílias em dificuldade, sobre os jovens em situação de marginalidade. Todas essas análises têm uma utilidade incontestável. A riqueza porém, é pouco explorada pelos sociólogos, que parecem não se arriscar de bom grado nos bairros nobres. Isso ocorre devido a dificuldades atinentes aos próprios sociólogos ou, antes, às suas relações com as classes dominantes: a timidez social é sem dúvida uma das razões determinantes para esse receio da Sociologia. Acrescente-se a ausência de créditos que poderiam ser consagrados ao financiamento de pesquisas sobre esse objeto; com efeito, os financiamentos públicos vão muito naturalmente para os lugares de cristalização dos problemas sociais. Ora, estes são raros nos bairros nobres. O absenteísmo das ciências sociais sobre esses temas é fortalecido pelas dificuldades metodológicas encontradas por aqueles que se arriscam nessa empreitada ou pressentidas pelos que se abstêm de se arriscar nestas terras desconhecidas. Ela é também reforçada pelos tormentos deontológicos sofridos ou simplesmente supostos, no trabalho de pesquisa e, sobretudo, em sua publicação.
Pelo que sabemos, essa escassez de trabalhos sociológicos, patente na França, é real também no Brasil. Tivemos a oportunidade de fazer uma série de conferências em outubro de 1997 em universidades brasileiras, em Campinas, São Paulo, Florianópolis, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. O público mostrou-se interessado, mas parece que não conseguimos motivar vocações entre os estudantes e jovens pesquisadores que nos assistiram. No Brasil, assim como na França, as favelas e os bairros pauperizados são os terrenos de eleição das Ciências Sociais. Na própria França, graças a seus temas, a dezena de livros que publicamos sobre a nobreza afortunada e a burguesia antiga não passou despercebida, e a imprensa lhes deu bastante cobertura. Curiosamente, isso não levou colegas a seguirem nossos passos.
A timidez dos sociólogos
A alta burguesia aprecia a discrição. Não gosta muito que falem dela fora das ocasiões que controla, como as festas de caridade ou os grandes prêmios hípicos. Entregar-se à investigação sociológica leva a pensar, a priori, que se vai enfrentar hostilidade. Ora, não é nada disso. Sob certas condições, pode-se com bastante facilidade conseguir entrevistas e testemunhos e ser suficientemente aceito para fazer observações. Resta que a burguesia vive em um mundo à parte, em um círculo fechado que pressagia pouca disposição a se entregar à curiosidade do sociólogo, o que intervém na timidez do pesquisador acerca desse meio. Considerar sua análise sociológica se choca imediatamente com a antecipação suposta da recusa dos interessados e vem agravar a timidez social de sociólogos, que quase nunca pertencem a esse meio.
A Sociologia é um lugar de verdadeira convergência social, já que seu recrutamento é compósito, mesclando filhos da alta burguesia, filhos de professores e de comerciantes e alguns filhos de operários ou pequenos agricultores sobreviventes do sistema de triagem escolar. Devido a esse próprio caráter de convergência, poucos sociólogos se arriscam a enfrentar situações de pesquisa em que a assimetria das posições sociais não lhes favorece. Oriundos das classes médias ou populares e tendo alcançado uma posição social apenas média, ou excepcionalmente nascidos na boa sociedade e se encontrando objetivamente em posição de declínio, os sociólogos nunca estão à vontade para enfrentar um mundo social que ignoram ou que, tendo deixado, sabem muito bem lhes ser socialmente superior.
Trabalhando em meios populares ou médios, o sociólogo goza de uma relação desequilibrada a seu favor. Na situação de pesquisa, encontra-se em posição dominante, mesmo que essa dominação possa ser contestada, por exemplo, por uma atividade viril em meio popular, ou por uma competência específica rara em meio pequeno-burguês. Mas é diferente quando se trata de enfrentar, na entrevista e no trabalho de campo, agentes providos de mais capital sob todas suas formas, mesmo sob a forma cultural, agentes ricos em capital simbólico, isto é, em modos e saberes capazes de evidenciar, de tornar indubitável a legitimidade da posição ocupada. Um grande burguês sempre sabe se manter no seu lugar e colocar o sociólogo no seu, com uma polidez refinada, na maior parte das vezes, arma temível da dominação de classe.
Por outro lado, o clima político e intelectual pós-Maio de 1968 certamente teve um papel importante. O peso de concepções de contestação à ordem social, em torno de um marxismo muito em voga – reivindicado pelos grupos de esquerda ou maoístas ou pelo Partido Comunista, ou em torno das teses de Althusser e de muitos outros, dentro do próprio microcosmo sociológico – não favorecia muito a investigação consagrada às classes burguesas e aristocráticas. E isso de duas maneiras. Por um lado, a Sociologia se tornara suspeita aos olhos de categorias sociais que estavam muito escaldadas e ainda em estado de alerta. Por outro, a pesquisa próxima da ação política era muito valorizada. Privilegiava as formas de trabalho mais em contato com o mundo operário, chegando, às vezes, ao estabelecimento, isto é, à entrada na fábrica, com um objetivo mais militante, aliás, do que de conhecimento. O modo de vida das baronesas do nobre Faubourg Saint-Germain não estava exatamente na ordem do dia e, de qualquer maneira, era pouco acessível à observação e ao questionamento.
De fato, trata-se exatamente de modos de vida: a alta burguesia não estava ausente da pesquisa, mas era essencialmente apreendida através de seus papéis sociais de direção dos negócios, de gestão do político, de apoderamento do sistema escolar. Houve, portanto, trabalhos sobre os dirigentes de empresas, sobre os altos funcionários, sobre as Grandes Écoles2, mas a partir de métodos que pretendiam dar conta sobretudo do funcionamento das instituições.
O dia-a-dia, os modos de vida mal eram abordados e, quando isso acontecia, eram primeiramente os das famílias operárias que atraíam a atenção. Outra razão para o silêncio das Ciências Sociais sobre a alta sociedade é a natureza da própria riqueza. Até recentemente, a fortuna era sobretudo industrial ou comercial: mostrava-se nas atividades de produção ou de troca, mais do que hoje, na forma eminentemente financeira. Os valores mobiliários, anônimos, administrados discretamente nos serviços de gestão dos bancos de negócios, são menos visíveis e chamam menos a atenção.
Há exceções a essa indiferença das Ciências Sociais em relação às famílias afortunadas. A mais notável é a de Pierre Bourdieu e de pesquisadores próximos a ele, que nunca desdenharam se debruçar sobre as altas classes para lhes desvelar os processos de dominação e de reprodução. Pode-se citar o primeiro número de Actes de la recherche en sciences sociales, publicado em janeiro de 1975, que continha um artigo sobre a alta costura; aquele consagrado ao patronato, publicado em 1978; ou La Distinction, obra na qual a alta burguesia estava bem presente e, sobretudo, La Noblesse d'Etat, (Bourdieu e Delsaut, 1975; Bourdieu e Saint Martin, 1978; Bourdieu, 1979 e 1989). Inspirando-nos nesses trabalhos, abordamos as classes dominantes após pesquisas sobre as classes populares e as classes médias apreendidas em seus meios urbanos. Portanto, foi a partir dessa entrada urbana que começamos a nos interessar pelas classes privilegiadas, o que nos levou a escrever Dans les beaux quartiers (Pinçon e Pinçon-Charlot, 1989) e depois, pouco a pouco, a nos interessar pelos bairros de negócios, pela "chasse à courre"3 e pelos novos patrões.
Obstáculos metodológicos
Os obstáculos metodológicos encontrados na abordagem sociológica da alta burguesia são de duas ordens. Por um lado, na relação com os próprios entrevistados na situação de pesquisa e, por outro, na acessibilidade dos dados que lhes dizem respeito. Esses obstáculos pressentidos podem levar os sociólogos a recuar diante de tal objeto.
A relação com os pesquisados
A pesquisa sociológica em meio burguês ou aristocrático leva o sociólogo, quando ele não pertence a esses meios, a experimentar uma posição social bastante desconfortável e à qual não foi habituado nos trabalhos de pesquisa. Trata-se de uma posição dominada, inversa daquela que se estabelece em meio popular, até pequeno-burguês. Essa relação desigual em desfavor do sociólogo quando pesquisa junto a famílias da alta sociedade acerca de sua vida cotidiana, da educação dos filhos, das alianças matrimoniais, da sociabilidade nos rallyes4 e nos círculos, pode levar a diferentes tipos de manipulação do pesquisador, em função do tema preciso da pesquisa. De um modo geral, "os pesquisados possuem, além de seus diplomas, um capital cultural certo e sabem utilizá-lo com discernimento. Eles querem dominar a representação que dão de si mesmos e buscam então dominar a demanda etnográfica, passando, por exemplo, do status de informante ao de interlocutor (Le Wita, 1988, p. 23)".
Essa manipulação do pesquisador pode assumir outra tonalidade quando os assuntos abordados causam problemas para os grandes burgueses interrogados que, a despeito do poder e dos capitais de que dispõem sob as formas mais diversas, podem se sentir ameaçados.
Isso aconteceu em duas pesquisas que fizemos. Uma sobre a "chasse à courre" – esporte regularmente contestado pelas organizações zoófilas, pelos projetos de lei de alguns deputados e pela viva hostilidade de inúmeros parlamentares europeus dos países da Europa do Norte – e outra sobre a invasão dos negócios e comércios de luxo nos bairros nobres do centrooeste de Paris, o que desestrutura o meio residencial das grandes famílias. De fato, o 8º arrondissement vai perdendo seus moradores em proveito das sedes sociais, dos escritórios das sociedades de consultoria de todo tipo, dos grandes costureiros e dos joalheiros. As grandes famílias, cujos endereços suntuosos são cobiçados, devem deixar o centro-oeste parisiense por bairros mais periféricos e por municípios do oeste de Paris. A cidade de Neuilly constitui o arquétipo.
Nesses casos e em outros, o sociólogo corre o perigo de ser manipulado por seu objeto, por seus interlocutores socialmente dominantes que, experts na utilização do discurso, terão no mínimo a tentação de utilizar, dentre outras, a tribuna oferecida pela pesquisa. A grife científica do CNRS, a presumida legitimidade intelectual do sociólogo podem transformar a relação. Ele tende a ser percebido como o porta-voz possível de uma causa e de interesses ameaçados. Em outras situações de pesquisa, também pode acontecer isso. Porém, nas classes dominantes, o risco de manipulação é maior na medida em que o interlocutor do pesquisador domina a arte da conversação, da expressão oral e ficará tentado, apresentando uma defesa de sua causa, a transformar o sociólogo em transmissor de seus argumentos.
Essa tentação de fazer do sociólogo um porta-voz apresenta, do ponto de vista da própria pesquisa, vantagens e desvantagens. Apoiando-se sempre na recomendação de um colega, o contato é então facilitado. A própria entrevista é mais fácil de conduzir, mesmo que o discurso assuma facilmente um caráter militante. Este deve fazer com que se considere com prudência o conteúdo factual da entrevista; sua veemência relativa, sua mordacidade, seu envolvimento pessoal dão, contudo, preciosas indicações sobre as questões pessoais e coletivas em jogo. Compreende-se assim o quanto morar nesses bairros preservados dos arrondissements do centro-oeste parisiense, assim como a prática da montaria, fazem parte de certo modo de vida e podem fundamentar a identidade daquele que fala disso com paixão.
O sociólogo corre o grande risco de ser tomado também como testemunha da causa daqueles que está investigando. Ao redigir seu relatório de pesquisa, terá então, por vezes, a impressão de ser o defensor dos interesses daqueles com quem conversou, desde que os problemas abordados possam ser apresentados sob uma aparência favorável. Ora, acontece assim com a evolução dos bairros do oeste de Paris. Criados pelas grandes famílias no século XIX e no início do XX, esses bairros beneficiaram-se da imagem social de seus fundadores, que lhes valeu uma grife espacial, espécie de reconhecimento coletivo da excelência de certos endereços. Isso explica a vinda cada vez mais maciça de atividades de alto nível, sempre à procura de endereços valorizadores para sua imagem social. Mas o despovoamento desses bairros, ligado à instalação de atividades terciárias nos apartamentos e residências particulares, leva a uma degenerescência urbana e a um declínio inelutável, como ocorreu com os Grands Boulevards. Em outras palavras, as famílias que protestam contra os processos urbanos que as afastam pouco a pouco de seus bairros tradicionais vão ao encontro das preocupações de todo responsável pelo urbanismo, que deplora o despovoamento de bairros centrais e as dificuldades de todo tipo que se seguem. O equilíbrio da cidade é rompido, mas descrevê-lo parece dar razão àqueles que vivem essa evolução urbana e se queixam dela amargamente.
O mesmo acontece com a "chasse à courre". Aqueles que a praticam regularmente, que alimentam a estrutura das equipes de apoio, são apaixonados por esse tipo de caça, consagrando-lhe uma boa parte de sua vida. Para além dos efeitos desencantadores da análise das relações sociais paternalistas entre caçadores a cavalo e seguidores populares que participam a pé, de bicicleta ou de carro, a descrição da intensidade da paixão e a da intimidade desenvolta com a natureza que esse tipo de caçada supõe já parecem facilmente uma defesa contra os argumentos dos muitos adversários da arte venatória. Ora, a maioria destes é socialmente próxima do sociólogo, que se encontra assim em uma posição de ruptura aparente com seu meio. Poderiam as classes médias intelectuais urbanas ver essa descrição da paixão comum que reúne banqueiros, duques, operários de obras e carteiros na floresta mas que, simultaneamente, as exclui, como algo diferente de um argumento em favor da caçada?
Vê-se que, objeto impossível ou manipulação do pesquisador, tema da pesquisa, a sociologia das classes dominantes não tem apenas de enfrentar as dificuldades inerentes à relação interpessoal que se estabelece ao longo da entrevista. A suspeita de complacência pode logo surgir, e é verdade que a posição social daqueles que são aqui os "objetos" da pesquisa leva facilmente a pensar que a empatia, própria a todo procedimento de pesquisa, se traduz por comprometimentos. Em outras palavras, as dificuldades da pesquisa nas classes dominantes se devem com certeza às relações entre pesquisador e pesquisado, mas também às relações entre o público das Ciências Sociais, seus leitores, e essas mesmas categorias dominantes. No próprio desenrolar da enquête está sempre presente esta obsessão da recepção de um trabalho que, não tendo um problema social em seu princípio, corre fortemente o risco de ser percebido como o revelador do fascínio do sujeito por seu objeto.
O acesso aos dados
Se a alta burguesia aprecia a discrição sobre seus modos de vida, cultiva ainda mais o sigilo sobre seu patrimônio, tanto financeiro quanto de gozo, sobre suas carteiras de valores mobiliários, suas propriedades imobiliárias, suas fontes de renda não-salariais. Da mesma forma, é sempre muito discreta sobre o inventário das obras de arte e objetos de valor que mobíliam suas inúmeras residências (apartamento parisiense, castelo, mansão à beira-mar, etc.). As fontes fiscais, que poderiam ser de grande utilidade, são tão protegidas quanto um segredo militar. Assim se dá com as declarações de sucessão, que fornecem inventários do patrimônio após falecimento, mas são incomunicáveis aos pesquisadores. O mesmo acontece com o imposto de solidariedade sobre a fortuna, fonte preciosa de informações se a publicação dos dados assim coletados não fosse reduzida a alguns dados muito gerais, diluídos pelo efeito de média entre as grandes fortunas e as que se situam no nível mínimo desse imposto.
Por outro lado, escolher a alta burguesia como objeto, isto é, na França, a burguesia antiga hoje intimamente mesclada à nobreza afortunada, levanta o problema da delimitação do grupo. Desse ponto de vista, é preciso superar dois obstáculos. De um lado, a riqueza desse meio é multidimensional, feita evidentemente de riquezas materiais, sobretudo de capital financeiro e profissional, mas também de capital cultural e escolar e de capital social, isto é, de um sistema de relações e de uma inscrição em redes que garantem uma grande parte do poder. Mas a riqueza social pode compensar uma relativa mediocridade da riqueza econômica, e a riqueza cultural, atenuar uma falta, relativa, de relações: a dispersão dentro dessas dimensões da riqueza pode ser considerável. O pesquisador se encontra, portanto, diante da dificuldade de definir e contabilizar a população que pretende analisar.
Uma dificuldade que, felizmente, essa própria população resolve, tomando o cuidado de se delimitar por seus próprios meios. São os grandes burgueses que definem os limites de seu meio, praticando constantemente o método da cooptação. Por exemplo, tanto para os clubes chiques quanto para os conselhos de administração das sociedades, a cooptação é o princípio de reconhecimento e de aceitação que permite aos novos membros serem admitidos nesses cenáculos. Foi a partir disso que nós trabalhamos, utilizando também as relações entre famílias e indivíduos que nos permitiram estender progressivamente o campo de nossas investigações. Um método tanto mais necessário na medida em que nenhuma categoria da estatística pública (profissão e status [empregador, trabalhador independente, assalariado], nível de renda) consegue isolar esse grupo. Nenhuma fonte delimita essa população que conta em suas fileiras industriais, banqueiros, mas também políticos, agricultores (residentes em Paris, mas possuindo grandes domínios), oficiais superiores (generais ou pelo menos coronéis), membros da Academia Francesa, escritores e artistas, alguns jornalistas e, às vezes, um sociólogo.
A avaliação dos níveis de fortuna e a construção de um limite de riqueza ficam difíceis devido a essa multidimensionalidade que mistura a economia, a cultura e as redes de sociabilidade. Propusemos a noção de capital patrimonial para designar essa imbricação, constitutiva do pertencimento às esferas mais elevadas da sociedade. As classes dominantes possuem objetos de arte, quadros, livros antigos, móveis, residências que têm alto valor econômico, mas que não podem se reduzir a essa dimensão. Esses bens culturais são também uma parte da memória familiar e da notoriedade do nome. Esse capital é patrimonial na medida em que é a forma material do acúmulo, durante várias gerações, da boa fortuna, que permitiu à família se constituir e se manter.
Além disso, quer se leve em conta a fortuna profissional ou o patrimônio de gozo, as variações entre os ricos mais "pobres" e os ricos mais ricos vão de 1 a 500. Estamos em um universo diferente daquele dos assalariados, cujas variações são muito mais reduzidas.
Mal-estar deontológico
Os sociólogos que investigam as famílias afortunadas da aristocracia e da burguesia antiga experimentam um duplo sentimento de traição, invertido. De um lado, mostram um meio social cujo fechamento e reserva são as regras de outro. De outro, deixam de lado uma certa vocação da Sociologia, analisar os problemas sociais para contribuir para a definição de sua solução. Nessas duas dimensões, intervêm as relações com os pesquisados e com os colegas. Os afetos que entram em jogo são contraditórios, difíceis de explicitar e controlar. A sociologia das famílias que cumulam todas as formas de capitais é, sem dúvida, um dos melhores reveladores da complexidade das relações do sociólogo com seu objeto, isto é, com agentes sociais que nunca lhe são indiferentes, mas que, neste caso, cristalizam tensões que, em outra situação, podem permanecer latentes. Disso resulta um mal-estar deontológico e, portanto, crônico, que nasce da posição objetiva em que se encontra o pesquisador.
Esse mal-estar pode ser diferentemente vivenciado conforme os grupos sociais submetidos à pesquisa. Os sociólogos que fazem investigações junto a membros das classes populares, embora fornecendo descrições e análises dos problemas sociais aos responsáveis políticos e aos diversos agentes encarregados da manutenção da ordem social, podem alimentar, ao denunciar injustiças e desigualdades, o sentimento de fazer o bem, sendo os porta-vozes dos dominados. Aliás, a denominação "Ciências Sociais" facilita o deslizamento semântico para o "social", para a "ação social". O que não quer dizer que o sociólogo que investiga hoje, por exemplo, os sem-teto franceses, não sinta mal-estar: o conhecimento da miséria social e humana pode ser fonte de angústia e de sofrimento psicológico.
O sociólogo que trabalha sobre as classes dominantes, sobretudo quando se trata das frações mais antigas e mais afortunadas, encontra-se confrontado com uma dupla dificuldade. Deve gerir uma relação social delicada com agentes muito mais bem armados do que os outros "objetos" habituais da pesquisa e que desejam viver afastados dos outros grupos sociais. O pesquisador deve, por outro lado, justificar diante de seus pares a validade de seu objeto, levando em conta ao mesmo tempo a discussão cientifica, seus próprios afetos e os de seus colegas relativos a esse grupo social. Assim, durante seminários ou colóquios em que expusemos os resultados de nossas pesquisas, levantou-se de maneira recorrente a suspeita de que sentíamos um certo fascínio por nosso objeto.
A ambigüidade e a ambivalência são os caracteres dominantes dos afetos que marcam as relações do pesquisador com as famílias afortunadas junto às quais faz sua investigação. Há um primeiro aspecto dessa ambivalência que se pode generalizar a qualquer procedimento que operacionalize uma observação, mais ou menos participante, ou uma proximidade com o meio pesquisado, cuja confiança se deve ganhar para encontrar dados que serão a seguir publicados, portanto, tornados públicos. É o do risco de dar informações que não foram produzidas pelos próprios agentes com esse fim de publicidade, o que choca uma noção moral dominante, que reza o respeito à discrição acerca das falas e práticas que não se destinam à divulgação. Não se trata necessariamente de elementos confidenciais sobre a vida privada, mas de fatos produzidos na segurança de uma reserva social onde o observador, esquecido, acaba por se tornar voyeur e se encontrar numa posição que lhe permite extrair observações que, sem sua presença, não sairiam do próprio meio. Os rituais das mundanidades, como o beija-mão ou a arte da conversação, são para uso interno e, por tangerem a uma etiqueta específica, não podem ser percebidos do exterior senão como práticas ultrapassadas e um tanto ridículas. O caráter incoerente das conversações mundanas, durante coquetéis e vernissages, por exemplo, que constatamos e relatamos, constitui na verdade uma verdadeira técnica social na gestão do capital de relações. Fazer a descrição disso é tirar de seu quadro de referência o que jamais deveria ter saído e correr o risco de passar da descrição e da análise dos fatos a uma leitura irônica de práticas que só têm sentido para os agentes que pertencem ao campo em que elas são pertinentes. Disso resulta um mal-estar que não é próprio apenas ao sociólogo das classes dominantes. Um mal-estar cujo resultado mais evidente é impedir uma fusão perfeita com o meio investigado. O sociólogo ficaria tentado a esquecer seu papel de agente duplo que a tarefa inelutável de restituição das observações e dos dados coletados, nas publicações científicas, impede sempre de se deixar iludir pela perfeita harmonia com o meio.
Mas, simultaneamente a esse mal-estar, um outro afeto, de sentido inverso vem compensar essa dificuldade de viver a situação de pesquisa. Embora haja uma certa dificuldade para assumir o papel de observador que o sociólogo é chamado a desempenhar, desvelando o que não é público, há também um intenso prazer em ter acesso ao desconhecido, ao inacessível, àquilo que não se dá geralmente aos estrangeiros. Penetrar em um grande círculo parisiense, fazer uma entrevista em um salão do prêmio literário Interallié ou trabalhar na biblioteca do Jockey Club, tem algo da façanha do explorador que consegue penetrar em lugares proibidos aos estrangeiros, como René Caillié entrando em Tombuctu5. Conseguir observar, misturar-se a aspectos da vida social aos quais a posição ocupada pelo pesquisador não deveria dar acesso, se esse acesso não lhe for autorizado, por outro lado, em função de suas origens, está no princípio de um prazer da descoberta, no sentido da exploração. O sociólogo é levado a descobrir regiões desconhecidas, e embora isso se acompanhe de temor e angústia, provoca ainda assim um vivo contentamento, quer se trate de se misturar à vida mundana ou de ganhar a confiança de operários desamparados desatinados pela desqualificação e pelo desemprego. Assim, a consciência pesada, inerente a um sentimento de traição, é contrabalançada pelo estímulo da descoberta de dimensões mais ou menos ignoradas da vida social. Se a consciência pesada é um fator que contribui para manter a distância e a exterioridade em relação ao meio investigado, essa curiosidade, ao mesmo tempo profissional e pessoal, que leva a se imiscuir cada vez mais naquilo que era fechado de início, favorece, pelo contrário, uma empatia que se instala progressivamente e que, com o tempo, sempre corre o risco de pesar sobre a maneira de perceber e de dar conta de seu objeto de pesquisa.
O interesse levantado pelas pessoas estudadas, necessário à motivação de qualquer procedimento de pesquisa, pode ser mais ou menos intenso conforme as condições materiais e sociais do trabalho de campo. Quando a magia dos lugares se acrescenta à cortesia e à amabilidade dos pesquisados, tudo concorre para suscitar no pesquisador uma curiosidade, até mesmo uma empatia, da qual deve desconfiar. Ser cortesmente recebido em um salão cujas paredes são ornadas por quadros de Matisse, de Dubuffet ou de Picasso, por uma mulher com status de princesa e nome ilustre, leva a uma relação de deferência com a pesquisada. Mas também aqui há ambivalência dos afetos. O cenário das entrevistas quer aconteçam em âmbito privado ou em um meio profissional, são sempre lugares impregnados de majestade e luxo. Eles significam a importância social dos pesquisados e criam uma relação de dominação que desfavorece o pesquisador, que experimenta agressões simbólicas constantes. As demonstrações veladas, mas perceptíveis do capital econômico, do capital cultural, do capital social e do capital simbólico de que essas categorias dispõem, são vivenciadas como violências simbólicas que favorecem o "distanciamento" e vem, de certo modo, quebrar "o envolvimento", se retomarmos os termos de Norbert Elias (1993). O sociólogo, confrontado em seu trabalho de campo com agentes socialmente dominantes, encontra-se, portanto, submetido a um processo de imposição da dominação através das manifestações das diversas formas possuídas de capital. Ao mesmo tempo, como qualquer outro agente colocado assim em posição dominada, mas talvez com uma maior lucidez social, contesta essa imposição da dominação. A situação afetiva que resulta disso é ambígua, pois ele hesita ou, antes, tenta uma síntese impossível entre a deferência e a rejeição pura e simples da relação. Para além das manifestações obrigatórias de respeito, a atitude reservada do sociólogo funciona, a exemplo dos outros agentes, como contestação do desequilíbrio da relação, aceito formalmente mas recusado internamente.
Referências
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BOURDIEU, Pierre e Saint Martin Monique de , «Le Patronat» Actes de la recherche en sciences sociales, 1978/20-21 [ Links ]
BOURDIEU, Pierre La Distinction. Critique sociale du jugement, Paris: Minuit, 1979 [ Links ]
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ELIAS, Norbert. Engagement et distanciation: Paris: Fayard, 1993 [ Links ]
LE WITA Béatrix. Ni vue, ni connue. Approche ethnographique de la culture bourgeoise. Paris ; Éditions de la Maison des Sciences de l'Homme, 1988 [ Links ]
PINÇON Michel e PINÇON-CHARLOT Monique. Sociologie Voyage en grande bourgeoisie, Paris, Presses universitaires de France, «Quadrige», 2005. [ Links ]
___. Grandes fortunes. Dynasties familiales et formes de richesse en France, Paris: Payot, 2006. [ Links ]
___. Sociologie de la bourgeoisie. Paris: La Découverte, «Repères», 2007. [ Links ]
___. Dans les beaux quartiers. Paris: Seuil. 1989. [ Links ]
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1 Texto traduzido do original inédito "Une sociologie de la grande bourgeoisie est-elle possible?" por Patrícia Chittoni Ramos Reuillard e revisado por Antonio David Cattani.
2 Escolas de ensino superior, que preparam para os altos cargos, principalmente políticos e administrativos, às quais tem acesso sobretudo a elite francesa (Nota de trad.).
3 Modalidade de caça de animais selvagens (cervo, raposa, lebre) feita a cavalo e utilizando uma matilha de cães de caça (Nota de trad).
4 Rallye: grupos informais organizados e enquadrados sobretudo pelas mães visando a integração e a socialização dos jovens burgueses. A partir, dos 11 ou 12 anos, os jovens aprendem a viver juntos, a organizar sua vida afetiva e sexual em conformidade com a reprodução da classe. Os rallyes envolvem atividades culturais, esportivas e sociais com pares selecionados (Pinçon e Pinçon-Charlot, 2007).
5 René Caillié, viajante francês de origem popular (1799-1838), ficou célebre por ser o primeiro ocidental a voltar da cidade de Timbuctu no Mali (Nota de trad.)
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