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Ética E Cidadania No Mundo Contemporâneo - 05/04/2007 Coluna Educação Para O Pensar

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Por:   •  31/8/2014  •  1.881 Palavras (8 Páginas)  •  494 Visualizações

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O século XXI trouxe em seu bojo uma série de promessas apocalípticas, assim como a profunda sensação de severas mudanças nas relações econômicas e sócio-culturais. Contemplamos essas mudanças na busca de diretrizes e de novos valores que possam redirecionar as múltiplas relações a que estamos submetidos e traçar um novo perfil de escola, de trabalho e de desenvolvimento social.

Não é de se admirar que nos últimos tempos todas as instituições passem por uma sensação de desorientação que integra tanto as perspectivas do futuro quanto as amarras do passado:

Como conciliar uma lógica de mercado marcada pela expansão e busca de lucros de forma desenfreada com o apelo à preservação da natureza e aos direitos humanos? Como tornar compatível a autonomia dos educadores e dos alunos exigida pelas novas orientações da LDB e pelas novas concepções do trabalho com as regras do mercado capitalista?

Em suma, poderíamos afirmar que o grande desafio da sociedade contemporânea é o estabelecimento de um compromisso que ultrapasse o âmbito do tecnicismo para afetar o âmbito do pessoal, do profissional e do social. Portanto, não basta desejar um perfil de sociedade com profissionais reflexivos e capazes de desfrutar de um grau maior de autonomia, é antes preciso favorecer a reflexão com o objetivo de desvincular os processos de atomização, corporativismo e individualismo que marcam a esfera da produção capitalista.

Ora, é certo que o individualismo é fruto das sociedades modernas. Se por um lado, a valorização do indivíduo livrou a humanidade dos entraves do dogmatismo religioso e abriu as portas para a conquista do desenvolvimento; por outro, transformou também a natureza em domínio e conquista e o humano em moeda de troca. Se a “globalização” religiosa, utopia que marcou os interesses da Igreja Católica em toda a Idade Média e legitimou os interesses políticos das chamadas “Cruzadas” falhou, a globalização econômica mostra, hoje, os sinais de sua força e legitima em nome da liberdade e do indivíduo a intolerância, a homogeneização dos valores, dos gostos e até da língua. Em nome da unidade se exerce o domínio e a conquista seja ela do mercado, dos valores ou da natureza.

Neste contexto, seria pertinente recuperar a noção de indivíduo, um dos principais pilares da ciência e da economia moderna. Se resgatarmos os primórdios da civilização ocidental e naufragarmos pelo Mediterrâneo em seu berço ou seja, a Grécia Antiga, veremos que a noção de indivíduo só tem sentido na esfera da vida privada, no domínio público se edifica a noção de cidadania.

Ser cidadão não é ser único, mas ser a cidade, reconhecer-se nas leis da cidade e compreendê-las. As idéias de BEM, JUSTIÇA, VERDADE torna-se meta a ser atingida para o bem-viver e a ética torna-se o esforço de alcançar esses ideais...

A ética é busca do inteligível no sensível segundo Platão; a ética é o esforço de buscar a mediana, a busca da prudência, segundo Aristóteles. Em uma generalização grosseira, podemos afirmar que ética e cidadania grega são termos congruentes e não excludentes, a ética é trabalho de investigação racional para se alcançar o viver bem.

Ainda neste mesmo contexto, vale resgatar a noção de “phisis”. Para os primeiros filósofos compreender a “phisis” era compreender a ordem e a transformação presentes na natureza, compreender é buscar seu princípio, sua origem; é reconhecer a racionalidade inscrita no universo para fazer parte dela enquanto seres racionais. Dizia Heráclito que a própria natureza é “logos” que ama esconder-se. O Homem Grego buscava os princípios da “phisis” como quem buscava a si mesmo, o mundo era em si uno e múltiplo, bastava entendê-lo.

O mundo romano rompe as marcas desta unidade grega, a diversidade e domínio exigem regras e normas, a ética deixa de ser investigação e busca para tornar-se “mores”, costumes e leis, moral. O domínio público se dá na esfera do Direito, o homem está só e não confia no BEM, na JUSTIÇA ou na VERDADE, busca o viver cético ou estóico, temos aqui o embrião do indivíduo.

Tal embrião não pode e não deve se desenvolver no mundo cristão da Idade Média, a VERDADE ou a JUSTIÇA se reconhecem em Deus e para Deus, o homem é seu servo, na servidão e na busca de um BEM transcendente é que se busca a unidade perdida e se que se edifica uma moral que ultrapassa as regras porque incorpora a intencionalidade, não se peca apenas por atos, mas por atos e intenções.

Foi preciso ao homem moderno romper as amarras desta servidão para buscar o reconhecimento de si e da autonomia da razão. O homem torna-se medida de si, senhor de si, tudo pode e tudo faz. A unidade e a multiplicidade da “phisis” não pode mais ser reconhecida no divino, mas também não pode estar inscrita na ordem das coisas como previam os gregos. O mundo está desordenado, perdeu sua unidade religiosa com a Reforma Protestante, perdeu sua unidade política com a Revolução Inglesa e Francesa, perdeu seu eixo com a Revolução Copernicana. Só a racionalidade humana pode reordená-lo, não basta conhecer ou entender a natureza é preciso dominá-la, é preciso dividir, calcular, medir e transformar. O antropocentrismo não coloca apenas o homem como centro do universo, mas faz o universo girar em seu centro. Transformar implica em trabalho, em mercado e lucro. A natureza e o homem giram em torno do mercado e a ética a ele se curva. A busca da investigação ética se faz pela razão e promete a liberdade. Liberdade de compra e venda, liberdade para as leis do mercado, liberdade para a propriedade, liberdade para o INDIVÍDUO.

A unidade se dá no mercado e para o mercado, eliminam-se as fronteiras, temos um mundo globalizado. Somos livres e cidadãos do mundo, ou melhor, indivíduos do mundo, pois o mundo curva-se a nossos pés. Conquistamos a liberdade, a autonomia e a unidade prometidas, basta saber se a queremos e como a queremos.

Somos cidadãos de um mundo globalizado? O mundo curva-se a nossos pés?

De qual indivíduo estamos falando?

A fim de respondermos estas complexas questões seria preciso nos debruçar no próprio conceito de globalização e em suas implicações. Segundo o geógrafo Milton Santos estamos diante de um novo paradigma de conhecimento da economia, da política, da ciência, da cultura, da informação e do espaço. Todavia, de uma forma geral podemos sintetizar algumas das características deste difuso processo:

1)A transnacionalização das instituições, ou seja, segundo alguns cálculos

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