A BIBLIOGRAFIA DIDÁTICA DE GEOGRAFIA RELACIONADA AO COLÉGIO PEDRO II E SEUS DOCENTES
Por: Elaine Queiroz • 6/9/2018 • Artigo • 4.768 Palavras (20 Páginas) • 300 Visualizações
A BIBLIOGRAFIA DIDÁTICA DE GEOGRAFIA RELACIONADA AO COLÉGIO PEDRO II E SEUS DOCENTES
Elaine Queiroz Silva Amorim[1]
elainequeirozpl@hotmail.com
Resumo:
Palavras-Chave: Livros didáticos, Geografia Escolar, Colégio Pedro II.
Como aponta Chartier (1999), o livro didático é sempre carregado de uma ordem, ou seja, de uma intenção ou razão pela qual ele apresenta determinado discurso em detrimento de outro. Logo, podemos afirmar que o livro não emite neutralidade científica e/ou discursiva, tal como entendido pelo senso comum. A despeito desse aspecto, compreendemos que é um importante instrumento de apoio no processo de ensino e aprendizagem, pois o “livro didático, tradicionalmente, é um dos lugares formais do conhecimento escolar, pelo menos daquele saber julgado necessário à formação da sociedade e dos seus indivíduos” (SILVA, 2006, p.34). Além disso, este instrumento se destaca por seu aspecto político e cultural, ao reproduzir e representar os valores da sociedade em relação à sua concepção da ciência, da história e da interpretação dos fatos em um determinado momento (CHOPPIN, 2004). Para Faria (2008), o livro didático deve ter como objetivo auxiliar aquele que o utiliza a construir uma reflexão crítica dos assuntos e dos fatos, expondo aspectos culturais da sociedade e do momento histórico no qual ele está inserido; caso contrário, este pode servir como instrumento de alienação e opressão (FARIA, 2008, p. 14-22).
Entretanto, apesar destas variadas concepções não há uma definição precisa do que é um livro didático, sendo
Compreendido no sentido de meio para o aprendizado, todo livro seria didático: este tem sido um consenso entre os pesquisadores do assunto. No entanto, o livro escolar vincula-se à especificidade de sondar o conhecimento em sua dispersão e sistematizá-lo em um lugar, até o presente na forma-suporte de “livro”, daí ter sido seus outros nomes, manual (à mão, à disposição do manuseio) e compêndio (resumo ou síntese de conteúdos). Trata-se, portanto, de uma operacionalização metonímica do conhecimento, engendrada pelo efeito ilusório de representar um saber em sua totalidade, ou, pelo menos, no que é interessante ou necessário (SILVA (b), 2006, p. 35-36).
Em continuidade a essa compreensão, pode-se dizer que a importância do livro didático não se resume ao aspecto pedagógico, nem à influência na aprendizagem e/ou ao desempenho dos alunos. Como referência de acesso ao conteúdo disciplinar, ele pode também orientar os processos de desenvolvimento da personalidade do educando, pois no aspecto ideológico, a “sociedade reproduz, no livro, seus valores culturais, políticos e econômicos” (MARTINS; GUIMARÃES, 2002, p.10).
Hallewell (2012) considera que “o livro existe para dar expressão literária aos valores culturais e ideológicos” e que sua venda constitui um processo comercial condicionado por fatores geográficos, econômicos, educacionais, sociais e políticos” (HALLEWELL, 2012, p.31). Ou seja, o livro didático é um objeto de “múltiplas facetas” (BITTENCOURT, 1993), sendo sobretudo um veículo de valores, ideológicos e/ou culturais. Para Choppin (2002), o livro didático ou manual, constitui
[u]ma fonte privilegiada, seja qual for o interesse por questões relativas à educação, à cultura ou às mentalidades, à linguagem às ciências... ou ainda à economia do livro, às técnicas de impressão ou a semiologia da imagem. O manual é realmente um objeto complexo dotado de múltiplas funções, a maioria, aliás, totalmente desapercebidas aos olhos dos contemporâneos (CHOPPIN, 2002, p. 13).
Apesar deste ainda não configurar como objeto comum entre as pesquisas acadêmicas, possui grande importância histórica, sua origem remontaria a Grécia Antiga, no século IV a.C., com a Poética, de Aristóteles. (LAJOLO; ZILBERMAN, 2003, p.120). Estando
[v]inculada ao poder instituído. A articulação entre a produção didática e o nascimento do sistema educacional estabelecido pelo Estado distingue essa produção cultural dos demais livros, nos quais há menor nitidez da interferência de agentes externos em sua elaboração (BITTENCOURT, 2008, p.23).
No Brasil, a produção dos primeiros livros didáticos é datada no século XIX e início do século XX. Os primeiros compêndios escolares — como eram comumente chamados os livros didáticos —ficaram a cargo dos intelectuais do império, de advogados, médicos, engenheiros, entre outros que algumas vezes atuavam como professores ou somente eram interessados/estudiosos autodidatas de um determinado tema.
Hallewell (2012) assinala que os “primeiros livros didáticos brasileiros foram publicados pela Imprensa Régia”. Além disso, “não apenas o mercado editoral era pequeno demais para interessar a alguma editora nacional, como também os métodos primitivos de ensino usados nas muitas escolas dispensavam inteiramente o uso de livros” (HALLEWELL, 2012, p. 242). Neste contexto, os poucos livros que eram adotados nas escolas, em sua grande maioria eram importados da Europa, principalmente de países como Portugal e França. Após o término do monopólio da Impressão Régia em 1822, teve início a transferência dos encargos editoriais para o setor privado. Logo, “começaram a surgir vários livros encomendados por seus autores para uso puramente local e em muitas cidades, livros escolares (...) passaram a ser, junto com os jornais, os produtos das tipografias locais” (HALLEWELL, 2012, p. 242).
Com a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 1838, e do Colégio Pedro II, em 1837, no Rio de Janeiro, os livros didáticos começaram a ser produzidos pelos membros dessas instituições. Estes assumiram a função de “construir uma história da nação, recriar um passado, solidificar mitos de fundação, ordenar fatos buscando homogeneidades em personagens e eventos até então dispersos” (SCHWARCZ, 1993, p. 99).
Bittencourt (2004) acrescenta que até 1885 apenas três editoras se destacaram na produção de obras didáticas no Brasil. A primeira, A. E. & H. Laemmert, “foi praticamente a substituta da Tipografia Nacional, nova denominação da Impressão Régia”. (BITTENCOURT, 1993, p. 82). A segunda, a editora de B. L. Garnier que, segundo Hallewell, foi o “primeiro editor a envidar um verdadeiro esforço para atender às necessidades de livros escolares brasileiros e assumir um risco comercial por sua própria iniciativa” (HALLEWELL, 2012, p.242). E a terceira editora que se destacou nesse período foi a de Nicolau Alves, livreiro português que a partir da década de 1880 teve como sócio Francisco Alves, “figura significativa na mudança da editora, transformando-a na mais importante empresa de obras didáticas entre 1880 e 1920” (BITTENCOURT, 2004, p.482). Sobre a editora Francisco Alves, Zappone (2005) destaca
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