A Geografia do Trabalho
Por: lugad • 31/5/2021 • Projeto de pesquisa • 3.469 Palavras (14 Páginas) • 304 Visualizações
O mundo do trabalho no século XXI e suas novas morfologias: uma breve abordagem sobre os trabalhadores por aplicativo
Aldenisce Oliveira Cardoso[1]
Chaurian Ferreira de Medeiros[2]
Luana Gadelha Lima[3]
Profa. Dra. Karina Furini da Ponte[4]
Universidade Federal do Acre - UFAC
Bacharelado em Geografia (022) - Geografia do Trabalho
Introdução
A globalização do capitalismo caracteriza o mundo do trabalho do fim do século XX e início do XXI. A nova divisão internacional do trabalho e a produção com a dinamização do mercado mundial favorecido pelas tecnologias eletrônicas e a passagem do fordismo ao toyotismo criaram novos significados e formas de trabalho. Essas morfologias afetam não somente a dinâmica da classe operária, mas toda a estrutura da sociedade.
Este trabalho foi elaborado a partir da disciplina de Geografia do Trabalho, ministrada pela professora Karina Furini da Ponte para os alunos do curso de Geografia Bacharelado e tem como objetivo refletir sobre o mundo do trabalho a partir das novas morfologias resultantes do processo de reestruturação produtiva. Os assuntos abordados foram previamente selecionados a partir de algumas bibliografias que foram discutidas no decorrer da disciplina, tendo como resultado a elaboração de um paper que é composto por um resumo das seguintes referências analisadas: Antunes (2013, 2014, 2018), Filgueiras (2020) e Moreira (2016).
1. Trabalho como categoria de análise geográfica
O trabalho pode ser entendido como atividade realizada para suprir as necessidades biológicas, e ainda como a fonte de origem de toda a sociedade. Na Geografia ele assume caráter determinante da geograficidade em relações marcantes e próprias de cada lugar. Dessa maneira, ele divide-se em dois tipos diferentes e dependentes de trabalho, sendo então chamados de trabalho ontológico e trabalho cotidiano.
De um modo geral, o trabalho trata-se do intercâmbio entre homem e natureza que ocorre, principalmente, na tentativa de apropriação do ambiente natural em benefício à vida humana, e é neste momento de transformação da natureza que o homem também se transforma. Na sociedade, o trabalho é condicionado pela geração de produtos dos elementos naturais com o objetivo de obter valor, ou na linguagem cotidiana, o lucro.
A forma ontológica do trabalho está presente na essência humana, refere-se a troca metabólica que não prioriza necessariamente a troca monetária, pode ser exemplificado pelas atividades realizadas em seu próprio lar, como a limpeza, o preparo dos alimentos ou simplesmente colocar o lixo para fora. Ou seja, é toda a atividade realizada para suprir as necessidades humanas, mas sem ter um valor monetário.
O trabalho cotidiano é o modo de existência do trabalho em cada momento histórico da sociedade, onde podem ser citados o trabalho servil, assalariado e escravo. Dentro do trabalho cotidiano encontram-se o concreto e o abstrato.
No aspecto do concreto, a atividade exercida gera um produto físico e estes são determinados pelo seu valor de uso, ou seja, é a necessidade de determinado produto que leva a sua produção. O abstrato trata-se da mercadoria, ele se manifesta no valor da troca, é o trabalho alienado da sociedade burguesa.
O trabalho abstrato está presente no valor de troca, para isso, ele divide-se em trabalho produtivo e trabalho improdutivo. O trabalho produtivo é o que gera valor e o trabalho improdutivo é o não gerador de valor, porém com capacidade ativadora na dinâmica do processo econômico que transforma o valor em lucro.
Com a formação dessas esferas, a produção e a circulação, o resultado visível é o início, fim e reinício do ciclo D-M-D’ (dinheiro-mercadoria-dinheiro ampliado) do processo de acumulação do capital. Mesmo que o trabalho improdutivo não proporcione valor, ele é indispensável para a produção do valor, uma vez que é fundamental para a circulação do produto.
O abstrato retrata o que as determinações históricas reúnem da ontologia do trabalho na formação estrutural da sociedade capitalista. É assim que a sociedade do trabalho se mostra alienada, pois tudo se transforma em valor de troca delineado pelo aumento do trabalho morto e diminuição do trabalho vivo.
O trabalho abstrato é a base da alienação como forma de trabalho, nos casos onde se é dono do próprio negócio, transforma a questão de quanto mais se trabalha mais dinheiro se tem. Colocar valor no trabalho transformou a ligação uso-troca em uma forma de alienar o ser humano. Marx tece a teoria de o homem ser o centro-motor estruturante da sociedade para a troca metabólica.
O trabalho é visto também em outras áreas de estudo, onde se formam teorias de acordo com as matrizes teóricas de cada ciência. Já na geografia, dois planos conceituais podem ser considerados na análise do trabalho: a relação homem-natureza e a relação sociedade-espaço.
A relação homem-natureza aborda a questão da necessidade do ser humano de retirar da natureza aquilo para sua sobrevivência e a forma como ele modifica o espaço onde se encontra, existindo assim uma troca entre eles.
Já na forma sociedade-espaço, o trabalho é tido como uma forma de produção recíproco entre a sociedade e o espaço. Essas formas tendem a ver o homem como uma mão de obra. As duas bases teóricas se complementam.
A categoria mediato-imediato relaciona a forma como vemos a paisagem, relacionam a aparência-essência, sendo o que é visto primeiramente e o que se sabe sobre determinado lugar. Isso torna a questão do trabalho, como visto inicialmente, como uma troca entre a mão de obra e o valor pago por esse serviço, e a essência seria a necessidade que leva o ser a trabalhar, a necessidade de sobreviver. A necessidade foi transformada pelo capitalismo em um produto de alto valor, fazendo com que o homem busque padrões cada vez mais altos para manter o seu bem-estar, isso é o valor de uso e o valor de troca.
Utilizando-se do exemplo do filme “Estou me guardando para quando o carnaval chegar”, a cidade de Toritama é vista inicialmente como uma cidade de população pobre que busca um meio de sobrevivência na fabricação de jeans. Com isso, é possível observar que a população se torna escrava dessa fabricação, sem horários de trabalho definidos e sem férias nem feriados. Essa é uma forma de demonstrar o visível e o invisível, tendo o primeiro como a paisagem da cidade e o segundo o que move a cidade.
É visto que o trabalho tem várias definições dependendo da área de atuação, mas na geografia ele é tido como a mediação entre homem e meio na (re) produção do espaço; e no capitalismo, passa a ser representado pelo trabalho abstrato, ou seja, um meio de alienação para transformar um produto de valor de uso em valor de troca, a necessidade pelo capital leva o homem a vender sua mão de obra em busca de seu sustento.
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