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O Objeto Da Geografia

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Por:   •  12/3/2014  •  1.616 Palavras (7 Páginas)  •  462 Visualizações

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O objeto da Geografia

1.1 A questão que introduz este volume – o que é Geografia? – aparentemente é bastante simples, porém refere-se a um campo de conhecimento científico, onde reina enorme polêmica. Apesar da antiguidade do rótulo Geografia, que foi mesmo incorporado ao vocabulário cotidiano (qualquer pessoa poderia dar uma explicação do seu significado), em termos científicos há uma intensa controvérsia sobre a matéria tratada por essa disciplina. Isto se manifesta na indefinição do objeto desta ciência, ou melhor, nas múltiplas definições que lhe são atribuídas.

1.2 As maiores polêmicas ensejadas por esta perspectiva, denominada corológica (visão espacial oposta à cronologia ou enfoque temporal), dizem respeito ao significado preciso do termo da superfície terrestre. Alguns autores vão falar em biosfera (esfera do planeta, que apresenta formas viventes ); em outros, em crosta terrestre (camada inferior da atmosfera mais capada superior da litosfera), encobrindo, com a discussão terminológica, a vaguidade desta definição do objeto. Enfim, a ideia da descrição da superfície da Terra alimenta a corrente majoritária do pensamento geográfico.

1.3 Outros autores vão definir a Geografia como o estudo da paisagem. Para estes, a analise geográfica estaria restrita aos aspectos visíveis do real. A paisagem, posta como objeto especifico da Geografia, é vista como uma associação de múltiplos fenômenos, o que mantém a concepção de ciência de síntese, que trabalha com dados de todas as demais ciências. Esta perspectiva apresenta duas variantes, para a apreensão da paisagem: uma, mantendo a tônica descritiva, se determinaria na enumeração dos elementos presentes e na discussão das formas – daí ser denominada de morfológica. A outra se preocuparia mais com a relação entre os elementos e com a dinâmica destes, apontando para um estudo de fisiologia, isto é, do funcionamento da paisagem. A perspectiva da morfologia apresenta, em sua gênese, fundamentos oriundos da Estética: o capítulo inicial da obra de Humboldt Cosmos se intitula “Dos graus de prazer que a contemplação da natureza pode oferecer”.

1.4 A definição da Geografia, como estudo da diferenciação de áreas, é uma outra proposta existente. Tal perspectiva traz uma visão comparativa para o universo da analise geográfica. Busca individualizar áreas, tendo em vista compará-las com outras; daí a tônica nos dados que diferenciam cada uma. Desta forma, a explicação é buscada acima (se bem que por intermédio) dos casos singulares. Das definições vistas, esta é a primeira a propor uma perspectiva mais generalizadora e explicativa. São buscadas as regularidades da distribuição e das inter-relações dos fenômenos. Tal concepção é mais restritiva, em termos de abrangência, do pensamento geográfico.

1.5 Dentro desta concepção aparecem, pelo menos, três visões distintas do objeto: alguns autores vão apreendê-lo como as influências da natureza sobre o desenvolvimento da humanidade. Estes tomam a ação do meio sobre os homens e as sociedades, como uma verdade inquestionável, e caberia à Geografia explicar as formas e os mecanismos pelos quais esta ação se manifesta. Desta forma, o homem é posto como um elemento passivo, cuja história é determinada pelas condições naturais, que o envolvem. O peso da explicação residiria totalmente no domínio da natureza. Tal perspectiva pode aparecer em formulações de um radicalismo gradual, porém o limite da ação humana sempre estaria no máximo na adaptação ao meio. Os fenômenos humanos seriam sempre efeitos de causas naturais; isto seria uma imposição da própria definição do objeto, identificado com aquelas influências. Outros autores, mantendo a idéia da Geografia, como o estudo da relação entre o homem e a natureza, vão definir-lhe o objeto como a ação do homem na transformação deste meio. Assim, invertem totalmente a concepção anterior, dando o peso da explicação aos fenômenos humanos. Caberia estudar como o homem se apropria dos recursos oferecidos pela natureza e os transforma, como resultado de sua ação. Há ainda aqueles autores que concebem o objeto como a relação entre si, com os dados humanos e os naturais possuindo o mesmo peso. Para estes, o estudo buscaria compreender o estabelecimento, a manutenção e a ruptura do equilíbrio entre o homem e a natureza. A concepção ecológica informaria diretamente esta visão. A discussão, entre estas três visões do objeto, expressa o mais intenso debate do pensamento geográfico. Entretanto, em qualquer delas encontra-se a idéia de que a Geografia trabalha unitariamente, com os fenômenos naturais e humanos.

1.6 Este breve painel das definições da Geografia, que não pretendeu ser de modo nenhum exaustivo, já justifica a afirmação inicial, quanto às dificuldades contidas na proposta deste volume.O mosaico de definições apresentado restringe-se a formulações genéricas, não desce ao nível de propostas específicas, nem a autores particulares – o que multiplicaria enormemente o numero e as possibilidades de definição. Pois, nas propostas singulares, muitas das vezes se encontrarão tentativas de relacionar duas ou mais das definições apresentadas. Além disso, quase todo autor dá uma roupagem própria (embora, às vezes, apenas ao nível terminológico) à sua concepção do objeto geográfico. Assim, o painel restringe-se a grandes modelos “puros” de definição, e apenas aos de maior repercussão.

O positivismo como fundamento da Geografia Tradicional

2.1 Apesar do elevado numero de definições de objeto existentes na reflexão geográfica, é possível apreender-se uma continuidade neste pensamento. Esta advém, principalmente, do fundamento comum de todas as correntes da Geografia Tradicional sobre as bases do positivismo. É nesta concepção filosófica e metodológica que os geógrafos vão buscar suas orientações gerais (as que não dizem respeito especificamente à Geografia). Os postulados do positivismo (aqui entendido como o conjunto das correntes não dialéticas) vão ser o patamar sobre o qual se ergue o pensamento geográfico tradicional, dando-lhe unidade.

2.2 “A Geografia é uma ciência empírica, pautada na observação” – presente em todas as correntes dessa disciplina. Em primeiro lugar, coloca-se algo que é comum a todas as ciências – o referir-se ao real – como um elemento de especificidade da Geografia. E mais, numa visão empobrecedora

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