Possibilismo
Casos: Possibilismo. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: bynes • 26/4/2012 • 3.908 Palavras (16 Páginas) • 1.076 Visualizações
O presente artigo objetiva descrever e analisar o surgimento da Geografia como ciência, além das suas principais correntes epistemológicas – determinismo, possibilismo, método regional, nova Geografia e Geografia crítica.
1. Introdução
O caráter científico da Geografia provém de sua origem alemã, na primeira metade do século XIX, através dos trabalhos pioneiros do naturalista e viajante Alexander von Humboldt, e do filósofo e historiador Karl Ritter. Contudo a Geografia, “considerada no seu sentido mais lato, como ciência da Terra, é um dos mais antigos ramos do saber humano” (De Martonne, 1953, p.2).
O horizonte geográfico para os povos primitivos da Europa era muito restrito; a expansão do conhecimento geográfico europeu só se deu após as colonizações greco-fenícias (estabelecendo colônias em todo o Mar Mediterrâneo e Negro, além de organizar expedições – os chamados périplos – para regiões localizadas já em pleno Oceano Atlântico), as explorações de Alexandre (que conquistou regiões como Egito, Arábia, Pérsia e Índia), e as conquistas romanas (império que se estendeu desde o Oriente Médio até a Grã-Bretanha, passando pela África do Norte).
As primeiras viagens e explorações dos antigos gregos já produziam como resultado trabalhos geográficos, mesmo que meramente descritivos. O nome que se destaca nessas expedições é Heródoto, dando início ao que é chamado de Geografia Regional – isto é, estudos
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¹ Acadêmico da segunda fase do curso de Geografia da UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina.
de regiões: seus povos, suas culturas, aspectos naturais, etc. No mesmo período surge uma outra face da Geografia, a Geografia Geral, que encara o planeta com uma visão mais holística; esses estudos eram direcionados para medições de distâncias, cálculos de dimensões terrestres, entre outros. São notáveis, nos trabalhos de Geografia Geral, nomes como Tales de Mileto e Erastótenes.
O período medieval representou uma época de obscuridade para a Geografia na Europa; “é devido aos árabes que o fogo se mantém e que a actividade geográfica ainda se manifesta” (De Martonne, 1953, p. 5). Os geógrafos árabes foram grandes viajantes, que continuaram a produzir estudos importantes, ainda que descritivos.
A Idade Moderna caracterizou-se por ser o período dos grandes descobrimentos, realizados especialmente pelos navegadores portugueses e espanhóis. “Em trinta anos o horizonte geográfico, que não ultrapassava 60º de latitude por 100º de longitude, alargou-se até abranger quase toda a Terra” (De Martonne, 1953, p. 7). Nessa época, os estudos de Geografia Regional (mais ligados à Etnografia) e Geografia Geral (voltados para a Astronomia e Cartografia) tornam-se mais intensos, em razão do rápido conhecimento do planeta por parte dos desbravadores europeus, que demandavam mais estudos sobre os lugares descobertos, além de instrumentos de navegação e localização mais precisos.
O dualismo entre Geografia Geral e Regional é verificado durante toda a Antigüidade, Idade Média e Idade Moderna. A primeira grande tentativa de aproximar esses dois ramos ocorreu somente no princípio do século XIX, com Humboldt e Ritter. Somente após os estudos desses dois sábios a Geografia deixa de ser um mero “saber” para se tornar uma verdadeira ciência.
Nascendo na Alemanha, a Geografia moderna teve seus primeiros grandes mestres nesse país; a escola alemã de Geografia notou-se por seu caráter determinista, cujo principal nome é Frederic Ratzel. Em oposição ao determinismo alemão surgiu, na França, o possibilismo, corrente que teve em Vidal de la Blache seu maior expoente, consolidando a escola francesa de Geografia. Foram essas duas escolas que exerceram a maior influência no estabelecimento da Geografia brasileira, durante as primeiras décadas do século XX: o pensamento alemão presente sobretudo nos órgãos do Governo, e o francês principalmente nas recém-criadas faculdades, cujos professores vieram da França.
O método regional foi uma corrente que esteve em voga em fins do século XIX e princípios do século XX, especialmente na França e na Inglaterra, devido ao grande império colonial pertencentes a esses dois países. Após a década de 50, novos paradigmas surgiram na Geografia, afetando também a produção geográfica brasileira; primeiro, a chamada Nova Geografia ou Geografia Quantitativa, ligada à Estatística e à Matemática; esta foi, posteriormente, cedendo espaço para a Geografia Crítica, a partir do final dos anos 70, que utilizava a teoria marxista como base ideológica. Esta é, atualmente, a corrente mais difundida no Brasil, sobretudo através da obra de Milton Santos.
2. A gênese da Geografia moderna
Os estudiosos, a partir do século XVIII, procuraram dividir a ciência em vários ramos; porém, “[…] o conhecimento científico não pode ser compartimentado, ele é um só, e a divisão das ciências é apenas uma tentativa de compatibilizar a vastidão deste conhecimento com a capacidade de acumulação de conhecimentos pelo homem” (Andrade, 1989, p. 11). Intelectuais como Kant e Comte são notados pelas suas classificações científicas; contudo, as ciências humanas (com exceção da Sociologia) foram excluídas das suas classificações, inclusive a Geografia, que “só conquistaria a posição de ciência autônoma nas últimas décadas do século XIX”. (Andrade, 1989, p. 11). Meramente prático, empírico e descritivo até o final do século XVIII, o conhecimento geográfico somente adquire seu caráter científico a partir dos estudos de Alexander von Humboldt e Karl Ritter, no século XIX.
Humboldt, como naturalista e grande viajante, percorreu a Europa, a Rússia asiática, o México, a América Central, a Colômbia e a Venezuela, observando os grandes fenômenos físicos e biológicos; seus trabalhos são todos de natureza científica, sem qualquer finalidade pedagógica. Humboldt também foi animador das chamadas Sociedades de Geografia, que organizavam expedições e pesquisas em diversas partes do mundo, especialmente nas regiões dominadas pelos grandes impérios coloniais europeus. “Foi assim que os ingleses, os franceses, os belgas e em seguida os alemães fizeram o levantamento de amplos territórios na Ásia e na África, e organizaram suas colônias” (Andrade, 1989, p. 13).
Seus méritos são altamente reconhecidos:
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