Telhados Verdes
Por: Victoria Werner • 21/10/2015 • Projeto de pesquisa • 2.578 Palavras (11 Páginas) • 494 Visualizações
TELHADOS VERDES
Mirna Victória Unkelbach Werner¹; Alexandre Schweitzer²
RESUMO
Telhados verdes são mitigadores dos efeitos da intensa urbanização de bom custo benefício, pois oferece tanto retorno econômico como ambiental. No município de Balneário Camboriú há incentivo jurídico por seus diversos benefícios, porém, a partir de análise de imagens aéreas, constatou-se que a frequência dessa tecnologia era mínima na região. Aplicando questionários à população universitária local, o projeto procura respostas sobre a percepção da população acerca do telhado verde, em duas categorias: universitários da área da construção civil e universitários dos cursos gerais. Foi verificado que o principal empecilho para a adesão da tecnologia do telhado verde é a falta de conhecimento da existência da tecnologia no caso do grupo de estudantes em geral e falta de conhecimento de seus detalhes técnicos no caso dos estudantes da área da construção civil. Porém, foi demonstrado interesse por parte da população pelo telhado verde, demonstrando que há falta de divulgação desse sistema.
Palavras-chave: Telhado verde. Cobertura vegetal. Arquitetura sustentável. Desenvolvimento sustentável.
INTRODUÇÃO
Um século depois da Revolução Industrial o ser humano começou a tomar consciência dos efeitos da intensa industrialização, tornando claro que os impactos sobre os geossistemas poderiam se tornar irreversíveis e avassaladores para a nossa espécie. O termo ‘’desenvolvimento sustentável’’ vem sendo discutido e aplicado globalmente em doses progressivas. O desenvolvimento sustentável segundo a ONU (1987) diz que “[...] é aquele que atende as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem a suas necessidades e aspirações”.
Após a explosão do fenômeno do êxodo rural no século XX, vários problemas sociais e ambientais foram crescentes nos grandes centros, uma vez que a massiva urbanização foi inevitável. A visão antropocêntrica não permitiu um olhar amplo sobre as consequências de tal urbanização. A crise ecológica começa a tomar uma forma preocupante não se resumindo ao esgotamento ou à degradação dos recursos naturais.
O mundo moderno em uma perspectiva generalista tem um caráter dominante, em uma percepção de que a nossa sociedade é proprietária da natureza, entendendo-a como recurso e combustível que supre as necessidades e desejos humanos (ARENDT, 2007). É claro que essa visão antropocêntrica é integralmente cultural, fomentada desde o início pela religião cristã – presente em muitos aspectos da cultura ocidental (BOFF, 2014). Essa cultura antropocêntrica, unida ao amplo desenvolvimento tecnológico, deu ao ser humano um poder de destruição alarmante, que vem sendo observado de maneira crítica nas últimas décadas. Recentemente, na edição de setembro de 2009 da revista Nature, Johan Rockström e colegas propuseram os dez “planetary boundaries” (tradução livre: limites planetários), para definir os níveis seguros da atividade humana (SACHS, 2010). Segundo o estudo, o setor ‘’mudança climática’’ está concentrado somente na perda da biodiversidade e da alteração do ciclo biogeoquímico do nitrogênio. O excesso de dióxido de carbono, o alto índice de desmatamento, a impermeabilização do solo, os poluentes na atmosfera, os gases que corroem a camada de ozônio e o excesso de queima de combustíveis fósseis em automóveis e indústrias são alguns dos fatores que contribuem para as alterações da dinâmica do clima global, e são todos fatores resultantes de atividades relacionadas a alta urbanização. As cidades chegam a ser até 6o C mais quentes que os ambientes rurais (HASHEM, 2001). Os carros e indústrias dos centros urbanos têm potencial degradante não só do meio ambiente, mas também da saúde humana. Paralelo a isso, tem-se a compreensão de que os espaços urbanos são centros de mercado e serviços, intenso fluxo de capital, áreas culturais e moradia de 84,4% da população (BRASIL, 2010). A conversão de espaços naturais pela expansão urbana é um processo irreversível em praticamente todos os países (SIMÕES, 1996). Por isso, o desenvolvimento socioeconômico de tais centros não deve ser freado, mas sim integrado, de modo a alcançarmos o desenvolvimento sustentável – prevendo a união entre a sociedade e o ecossistema que ela habita; reconhecendo a diversidade cultural urbana e valorizando a presença da natureza integrada aos espaços construídos (FLOHR, 2015).
Uma medida paleativa para a degradação ambiental proveniente da urbanização é o chamado ‘’telhado verde’’, que consiste no plantio de espécies de vegetais no telhado de construções urbanas. Uma pesquisa realizada na Inglaterra mostrou que em média 25% da superfície de um espaço urbano é ocupada por telhados, fazendo a incidência solar aquecer e danificar os tetos urbanos (HASHEM, 2001). Se essa energia dispersa fosse utilizada para cultivo de plantas, muitas das degradações ambientais e econômicas seriam suavizadas (CATUZZO, 2013). O uso de telhados verdes em uma determinada região de São Paulo reduziu a temperatura media em 5,3o C e aumentou a umidade relativa do ar em 15,7% (CATUZZO, op. Cit.). O excesso de dióxido de carbono, comum em centros urbanos, seria absorvido por essas plantas e convertido em oxigênio e no verão evitaria o sobreaquecimento das casas enquanto no inverno protegeria do frio (FERREIRA, 2013).
Edifícios como a prefeitura de São Paulo e a de Chicago, assim como Trump Tower Center em Nova Iorque são exemplos de usuários desse tipo de telhado. A fábrica de caminhões da Ford em sua unidade em Michigan instalou o telhado verde e constatou uma economia de 30% de energia com refrigeração desde então, o que, depois de certo tempo, superou o investimento inicial com a construção do teto diferenciado (MELLO et al.Opcit, 2010).
Durante o verão, o ar condicionado representa um terço do consumo de energia em casas que possuem o aparelho (MELLO et al., 2010), e as crescentes crises de energia denunciam uma necessidade de melhora na utilização dos recursos energéticos (ALVES, 2003), que podem ser em partes supridas pelo telhado verde. Além de toda a economia financeira com a refrigeração, o telhado verde mostra-se 37% mais barato que o telhado convencional (SAVI, 2012). Isso demonstra que essa tecnologia pode ser acessível se comparado ao telhado convencional. Além disso, a sua durabilidade é superior, porque protege a base dos efeitos da insolação e corrosões (FERREIRA, 2013). Porém, os efeitos benéficos do telhado verde não se limitam a ambientais e econômicos. A média da expectativa de vida urbana pode ser aumentada pela mitigação da poluição que ocasionam estresse e doenças (CLARK et al, 2008). O telhado verde, além de todos os benefícios proporciona melhora paisagística e acústica, reduzindo o estresse comum no meio urbano.
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