Trajetórias Geográficas
Por: lefay • 24/3/2016 • Resenha • 1.432 Palavras (6 Páginas) • 947 Visualizações
TRAJETÓRIAS GEOGRÁFICAS¹
- RAQUEL RIEMMA DE SIQUEIRA
A presente resenha trata de uma das obras de Roberto Lobato Corrêa, que muito têm contribuído à Geografia. O livro tem um caráter amplo, pois nele são trabalhados cinco importantes temas: redes geográficas, espaço urbano, região, relação entre espaço e empresa, e relações entre espaço, tempo e cultura. Dividido em quartoze capítulos, cada qual correspondente a um artigo escritos durante a sua carreira, e publicados em diversas revistas, porém com dois textos inéditos. Na parte final de cada artigo, Corrêa levanta relevantes questões para reflexão e debates.
A primeira parte do livro traz uma preocupação quanto as Redes Geográficas, sendo assim dispostos os primeiros capítulos: 1 - Repensando a Teoria das Localidades Centrais (publicado originalmente em Novos Rumos da Geografia Brasileira. Organizado por Milton Santos. São Paulo, HUCITEC, 1982: 50-65.), 2 - As Redes de Localidades Centrais nos Países Subdesenvolvidos (publicado originalmente na Revista Brasileira de Geografia, 50(1):61-83, 1988.), 3 - Origem e Tendências da Rede Urbana Brasileira: Algumas Notas (texto original), 4 - Dimensões de Análise das Redes Geográficas (apresentado originalmente na mesa redonda do 3o. Simpósio Nacional de Geografia Urbana, Rio de Janeiro, setembro de 1993 e representado no 4o. Simpósio Nacional de Geografia Urbana, Fortaleza, outubro de 1995). Nesta parte, Corrêa faz uma análise criteriosa da teoria de Christaller², buscando resgatar as principais contribuições teóricas realizadas nos estudos urbanos, caracterizando uma revisão bibliográfica, com a finalidade de sintetizar os resultados obtidos. Isso torna viável a aplicação de tais teorias à realidade brasileira. Assim o Sudeste é classificado como um circuito superior, e as feiras nordestinas igualadas aos mercados periódicos verificados em outros países. A conclusão a que ele chega segundo suas pesquisas é a de que em países subdesenvolvidos, como o Brasil, o estudo das redes de localidades centrais ganha uma dimensão política, extrapolando a dimensão econômica. Ele também apresenta reflexões e estudos adicionais.
1. CORRÊA, R. L. Trajetórias Geográficas. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2001.
- Autor da teoria das Redes de Localidades Centrais, formulada em 1933.
- O tema abordado na segunda parte é Espaço Urbano, composto por tais capítulos: 5 - Processos Espaciais e a Cidade (publicado originalmente na Revista Brasileira de Geografia, 41(3):100-110,1979), 6 - O Espaço Urbano: Notas Teórico-Metodológicas (publicado originalmente no Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro, 21(42),101-103,1991), 7 - Meio Ambiente e a Metrópole (publicado originalmente em Natureza e Sociedade no Rio de Janeiro, org. Maurício de Almeida Abreu. Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes, Coleção Biblioteca Carioca, vol.21,27-36,1992.), 8 - O Espaço Metropolitano e sua Dinâmica (publicado originalmente no Anuário do Instituto de Geociências da UFRJ, 17, 24-29,1994.). Aqui, Corrêa analisa a organização do espaço segundo a ação antrópica, fazendo um estudo profundo para explicar as diversas variáveis que compõe o espaço urbano. Demonstrando suas articulações e fragmentações pelos diferentes grupos sociais, e agentes atuantes no modo de produção e organização espacial. Os estudos sempre reportam ao Brasil, e o autor dá especial atenção ao Rio de Janeiro, um exemplo perfeito da grande metrópole moderna, brasileira ou não.
- Na terceira parte temos um estudo sobre Região e regionalização do espaço brasileiro, com apenas dois capítulos, são eles: 9 - Região: A Tradição Geográfica (texto original), 10 - A Organização do Espaço Brasileiro (publicado originalmente na Revista Geosul. Florianópolis, 4(8), 7-16, 1989.). No primeiro texto é exposto um histórico sobre a evolução do conceito de região, analisando a noção do termo, estabelecendo uma relação entre o conceito e a categoria filosófica (as diversas correntes geográficas). Em seguida, Corrêa nos remete a uma reflexão sobre a regionalização brasileira, porém diferente da vigente (cinco regiões), neste estudo fala-se apenas de três regiões, Centro-Sul, Nordeste e, Amazônia, diferenciadas pelas distintas especializações produtivas, pelos modos e intensidades de circulação e consumo, pela gestão das atividades, e pelas organizações espaciais e níveis de circulação interna, inter-regional e internacional.
O artigo referente ao estudo do Espaço e empresa aparece na quarta parte, composta apenas por um capítulo, 11 - Corporação e Espaço – Uma Nota (publicado originalmente na Revista Brasileira de Geografia, 53(1):137-145, 1991.). Este texto expõe uma análise sobre o poder de (re)organização espacial capitalista através da grande corporação, esta, resultante do conflito entre capital e trabalho e da competição entre diferentes capitalistas, além do exame
da integração espacial e da nova divisão internacional do trabalho inserida neste contexto. É portanto, demonstrada a estruturação dos processos e funcionalidades das grandes corporações, determinadas pelo sistema capitalista em voga.
A quinta e última parte do livro, é dedicada às questões culturais, sendo apresentados os capítulos: 12 - O Sudoeste Paranaense Antes da Colonização (publicado originalmente na Revista Brasileira de Geografia, 32(1):87-98, 1970.), 13 - Carl Sauer e a Geografia Cultural (publicado originalmente na Revista Brasileira de Geografia, 51(1):113-122, 1989.), 14 - A Dimensão Cultural do Espaço: Alguns Temas (publicado originalmente em Espaço e Cultura – Ano I, n°1 – outubro de 1995:1-21.). Nestes capítulos finais Corrêa tenta exibir a importância dos conceitos de “espaço” e “cultura” para a análise geográfica. Para tanto o autor exibe sua pesquisa sobre a história geográfica do Sudoeste Paranaense. Dentro dessa perspectiva ele nos remete ao campo da Geografia Cultural, contando a evolução desta corrente filosófica, através da história de seu criador nos Estados Unidos, Carl Ortwin Sauer, enfocando as discussões sobre esse campo no pós anos 80. Por último o autor resgata alguns temas específicos abordados pelos geógrafos, tais como: a paisagem cultural, percepção ambiental e cultura, espaço e simbolismo e, cultura e lugares centrais, sugerindo outros tantos temas aos geógrafos brasileiros, pois existem poucos trabalhos realizados nessa área que podem de fato serem relacionados à cultura e espacialização, caracterizando assim, um convite ao aprofundamento das questões culturais, no campo geográfico do saber.
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