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A ABOLIÇÃO: UMA RE (LEITURA)

Por:   •  28/9/2015  •  Resenha  •  9.677 Palavras (39 Páginas)  •  329 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

CENTRO DE ARTES, HUMANIDADES E LETRAS.

ABOLICÃO: UMA RE (LEITURA)

Cachoeira, Outubro de 2012.

INTRODUÇÃO........................................................................................................... 4

DESENVOLVIMENTO............................................................................................10

CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................23

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................34

 APRESENTAÇÃO

Este trabalho tem como principal intuito discutir a obra “O jogo da dissimulação: Abolição e cidadania Negra no Brasil” de autoria de Wlamyra R. de Albuquerque. A autora é graduada em História pela Universidade Católica de Salvador (1991), concluiu mestrado em História em 1997 pela Universidade Federal da Bahia e em 2004 tornou-se doutora em 2004 pela Universidade Estadual de Campinas, atualmente é professora adjunta da Universidade Federal da Bahia. Albuquerque possui uma vasta produção bibliográfica, e entre as suas publicações individuais podemos citar, além do livro em destaque, Algazarra nas ruas: comemorações da independência na Bahia (1889-1923) (1999), Uma história do negro no Brasil (2006) e Uma História da Cultura Afro-Brasileira (2009), vale ressaltar que as duas últimas publicações são feitas em parceria com o historiador Walter Fraga Filho.

Wlamira Albuquerque, tem como principal intuito nesta obra perceber as relações existentes entre a emancipação dos escravizados e a questão racial. Para tentar persuadir o leitor de tal pressuposto se utiliza de vários episódios ocorridos na Bahia, entre 1877 e 1898. Para ela, alguns desafios são sugeridos:

“O primeiro deles é o de convencer o leitor de que no Brasil, o processo emancipacionista foi marcado pela profunda racialização das relações sociais; e a manutenção de certos esquemas hierárquicos foi o principal saldo do longo e tortuoso percurso que levou a sociedade brasileira a extinção legal do cativeiro em 1888. Depois, o desafio será explicitar como ações políticas protagonizadas por diferentes personagens e instituições, como o Conselho de Estado, lideranças abolicionistas e republicanas, literatos, libertos africanos, festeiros e adeptos do candomblé, a partir de suas expectativas e planos pós-emancipação, racializavam as relações sociais no período (...)” [1]

Na própria introdução, a autora dá demonstrações da teoria que defende. Além disso, é perceptível a antecipação do que encontraremos ao decorrer do livro por meio da narração de alguns fatos que nos mostram a racialização nos atitudes dos brancos.

A primeira trama envolve dois personagens: Idelfonso e Joana. Ambos participavam de uma festa de Momo, em 1873, na cidade de Santo Amaro, Recôncavo da Bahia. Após o termino dos festejos, os dois decidiram alongar a noite no botequim de Nazário. Neste espaço de tempo, Idelfonson decide paquerar Joana, uma mulata forra, que não cede às investidas. Como retaliação ao ato da moça, o comerciante não hesitou em ofender a mulher verbalmente ao pedir que ela se colocasse no lugar dela.

Sentindo-se insultada, a mulata o atirou pedras, o insultou e fez ameaças. O caso foi parar na delegacia e Idelfonso classificado como vitima. Contudo, a história não teve grandes repercussões pela boa fama que a moça cultivava no seio da sociedade.

Este caso é bastante revelador das relações que eram mantidas na sociedade daquela época na Bahia. Através dele, podemos reconhecer as normas de hierarquia empregadas, a própria ação de Idelfonso ao mandar a moça reconhecer seu lugar é um exemplo destas interações.

O segundo caso é ainda mais revelador, se desenrolou em novembro de 1880 e tem como protagonistas o chefe de policia, uma escrava e o dono da escrava.

Como de praxe, o chefe de polícia recebe uma denúncia de fuga de escravos, contudo, o caso vai ser tratado de uma forma distinta das outras. Ao invés de devolvê-la ao dono, o chefe de policia o convenceu a aceitar a alforria desta por um preço accessível. A ação de Virgilio silvestre faria é compreendida ao vermos que se trata de uma escrava branca, segundo ele, era uma infeliz escrava que merecia outro destino.

Nestes casos podemos observar que os lugares nesta sociedade e época eram socialmente demarcados. Assim, os dois casos nos confirmam tal afirmação, as ações nos mostram que a sociedade estabelecia códigos hierárquicos e os brancos estavam em uma escala superior.

Para desenvolver seus pressupostos, utiliza-se dos embasamentos teóricos pautados na historiografia norte-americana e brasileira. Acredita que o grande interesse em pesquisar a temática e que faz com que surjam diversas probabilidades de averiguar o pano de fundo da supressão do regime escravocrata.

A definição do período também não é exclusividade, outros autores já debateram os procedimentos que influenciaram na destruição da escravidão. Escolhe como parâmetro a historiadora Rebecca Scott que investigou as perspectivas e as delimitações geradas no processo de desconfiguração do trabalho escravo nas regiões açucareiras das Américas.

O termo racialização foi elencado como proposto de investigação após as pesquisas desenvolvidas por Barbara Fields. Nas suas analises buscou entender como e por que o conceito de raça embasou as relações hierárquicas na sociedade americana. Salienta, usando Fields, que é necessário historicizar a ideia de raça e por este motivo prefere utilizar a palavra racialização, ao invés de raça, para mostrar que o debate está sempre sendo renovado e depende muito das circunstâncias de tempo e lugar.

Robert Miles também é apontado nos debates introdutórios. Segundo a sua hipótese, a distinção do fenótipo e da cultura foram fundamentais para o aparecimento de um pensamento acerca da raça ao longo da expansão imperialista européia.

Para Miles o século XIX foi o marcado pelo aparecimento de uma falácia que identificava o negro como um ser inferior dentro dos aspectos biológicos e culturais.

Se utilizando da historiografia brasileira como base de suas argumentações, cita a historiadora Hebe Mattos para demonstrar que a palavra raça apareceu pela primeira vez no censo brasileiro em 1872. Contudo, esse momento ainda não revela o uso da palavra para demarcar os lugares sociais pré-estabelecidos, seria mais uma herança do Império Português que se baseava no paradigma da pureza de sangue. As acepções de raça vão sendo paulatinamente transformada a partir do surgimento do binômio senhor x escravo, na segunda metade oitocentista.

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